Portugal tem assistido nos últimos dias a um constante “vai-vem” de militares e forças civis que estão a prestar apoio humanitário às populações de Moçambique após a passagem do ciclone Idai. Todos se mostram orgulhosos e empenhados com o trabalho prestado na Beira, que permitiu distribuir alimentos, água e outros cuidados de saúde à população.
Perto do meio dia, um avião que transportava 41 elementos da Força Aérea, da Marinha e do Exército aterrou no aeroporto militar de Figo Maduro, em Lisboa, após uma missão de nove dias na Beira visando a distribuição de alimentos e água potável e o auxílio às operações de busca e salvamento.
Em Moçambique ficou ainda uma equipa de seis militares a prestar apoio, sobretudo ao consulado português, assegurando a capacidade de comunicações satélites e a purificação da água para as populações.
Secretária de estado da defesa
“Eu sei que este é o momento em que estão ansiosos por chegar às vossas casas e às vossas famílias, mas eu não poderia deixar de vir aqui, em representação do Estado português, deixar-vos as nossas palavras de reconhecimento e de orgulho pela missão que prestaram em Moçambique”, disse a secretária de Estado da Defesa Nacional, Ana Santos Pinto, durante a cerimónia de receção dos militares portugueses.
A governante sublinhou ainda tratar-se de um agradecimento “pela prontidão” com que os militares responderam, pela “missão extraordinária” que realizaram, bem como às famílias pelo “apoio à retaguarda”.
“Em menos de 12 horas estavam preparados e embarcaram a caminho de Moçambique numa missão humanitária, numa situação de catástrofe e tragédia […]. Realizaram missões de reconhecimento, de busca e sa lvamento, de apoio técnico e sanitário, apoio à vacinação, distribuição alimentar e de medicamentos e apoio ao consulado”, indicou.
Para Ana Santos Pinto, isto revela que “as Forças Armadas Portuguesas estão sempre prontas e ao serviço de Portugal e daqueles que na comunidade internacional necessitam”.
Por sua vez, o porta-voz do Estado-Maior-General das Forças Armadas, Pedro Coelho Dias, referiu que, ao longo dos dias, os militares da força de reação afirmaram estar “de coração cheio” pelo apoio que prestaram ao povo moçambicano.
Já o chefe da missão, José Carlos Sobreira, destacou também o apoio prestado à comunidade portuguesa, sobretudo através do plano de vacinação.
“Foi muito importante também apoiarmos a comunidade portuguesa, nomeadamente com o plano de vacinação, para tranquilizá-los para as doenças que aí se avizinhavam”, indicou. O comandante referiu ainda que os militares, à semelhança do Governo, estão orgulhosos pela missão.
“Nós demonstrámos que somos preparados para guerra, mas conseguimos combater na paz. Temos um braço forte, mas uma mão amiga”, notou.
Já o fuzileiro Conceição Batista vincou que o principal problema no terreno foi a coordenação dos operacionais e meios. “Existem muitos géneros e apoios a chegar ao aeroporto. É preciso organizar, identificar quais as zonas de maior carência” e fazer chegar o apoio, assegurou.
A região enfrenta agora perigo de fome e apidemias. A Organização das Nações Unidas (ONU) inicia em breve um programa de vacinação oral contra a cólera, de 900 mil unidades.
A agência da ONU para a Alimentação e Agricultura (FAO) calcula que sejam necessários 19 milhões de dólares (16,9 milhões de euros) durante os próximos três meses para ajudar os mais afetados pelo ciclone em Moçambique.
Os números da FAO apontam para que cerca de 400 mil hectares de cultivo tenham sido afetados, essencialmente de milho e sorgo, nas províncias centrais de Manica e Sofala, poucos meses antes do período de colheitas.
Jogo de futebol feminino (Benfica-Sporting) rende 38 mil euros para Moçambique

As jogadoras do Sport Lisboa e Benfica e do Sporting Clube de Portugal posam para a fotografia momentos antes do Jogo Solidário por Moçambique, no Estádio do Restelo em Lisboa
O primeiro encontro de sempre entre Benfica e Sporting (futebol feminino) bateu o recorde de assistências num estádio de futebol em Portugal na vertente feminina e resultou numa receita no valor de 38.000 euros só ao nível de bilheteira.
Com cada ingresso a custar dois euros e cinquenta cêntimos, as pessoas corresponderam em massa e mostram-se solidárias com as vítimas da tragédia do ciclone Idai, que atingiu a região centro de Moçambique, o Maláui e o Zimbabué em 14 de março.
Num dia em que o menos importante foi o resultado, – o Sporting venceu o Benfica por 1-0-, a partida entre ‘rivais’ a disputar campeonatos distintos, uma vez que as ‘encarnadas’ competem na segunda divisão no ano de estreia, foi de festa, de solidariedade e também de recordes.
Os primeiros adeptos afetos as ‘águias’ e ‘leoas’, entre eles muitas crianças, começaram a entrar no Estádio do Restelo, em Lisboa, pelas 14:40, com a primeira ovação a acontecer durante a subida ao relvado das jogadoras do Sporting e, posteriormente, do Benfica, para os exercícios de aquecimento.
Já com as bancadas bem compostas, cedo ficou percetível que o número (12.213) recorde de espetadores registado num jogo de futebol feminino em Portugal, na altura em 2017, na final da Taça de Portugal, entre Sporting e Sporting de Braga, iria ser superado.
Muitos adeptos, misturados nas bancadas, entraram já depois de cumprido o minuto de silêncio em homenagem às vítimas do desastre natural. Para além das receitas de bilheteira irem na totalidade para Moçambique, o ‘speaker’ do Estádio anunciou durante o intervalo que os patrocinadores de Benfica e de Sporting doaram dois cheques à Cruz Vermelha Portuguesa, cada um no valor de 5.000 euros, antes de revelar que estiveram presentes no encontro 15.204 espetadores.
Entre os mais de 15.000 adeptos, marcaram presença o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, a Ministra da Saúde, Marta Temido, o Secretário de Estado do Desporto e da Juventude, João Paulo Rebelo e o embaixador de Moçambique.
Vacinação contra a cólera no Consulado de Portugal na Beira
A comunidade portuguesa na Beira aderiu em massa à vacinação patrocinada por Portugal, especialmente devido à cólera.
No consulado de Portugal na Beira, no primeiro dia de vacinação, muitas dezenas de portugueses já esperavam as vacinas antes mesmo de se iniciar o processo
As vacinas que chegaram para a comunidade portuguesa são 600 conjuntos, cada um incluindo a cólera, mas também a poliomielite, o sarampo, a rubéola, a difteria, o tétano, a febre tifoide e a hepatite A, como explicou à Lusa o major farmacêutico João Roseiro, responsável pelo circuito da vacina até à Beira.
As vacinas “fazem parte de um plano de vacinação que foi criado para os residentes em Moçambique, na região da Beira, fruto do ciclone”, que foi preparado em Portugal, “juntamente com o Hospital da Forças Armadas e o Laboratório Militar”, disse o responsável do Exército à Lusa, admitindo que se for necessário está previsto o envio de mais vacinas para a cidade.
João Roseiro diz que a mais importante no momento é a vacinação contra a cólera, já com 271 casos só na cidade da Beira, segundo os últimos números oficiais. “Apelamos a que todos os portugueses façam a vacinação”.
Nilsia Gomes foi uma das portuguesas que respondeu ao apelo e que, com o marido e dois filhos, contribuiu para uma sala cheia no consulado de Portugal. Foi o consulado que informou da iniciativa e mal abriram portas lá estava com dois filhos, os outros dois a irem também depois da escola.
“Não tínhamos cá na Beira, nunca ouvimos falar sobre a vacina da cólera, é a primeira vez que nos estamos a prevenir”, disse à Lusa, explicando que ela, marido e filhos têm outras das vacinas do “pacote” e que estavam ali essencialmente por causa cólera.
“A cólera é a maior preocupação, principalmente para as crianças, que são mais vulneráveis”. E depois, no bairro onde vive, há casos de diarreia e mesmo o filho queixa-se de dores de barriga.