Chama-se alface-do-mar, pelas semelhanças com o vegetal comestível, mas é uma espécie vulgar de alga. E nela pode estar a solução para limpar águas contaminadas pela indústria e pelo consumo doméstico, descobriram agora investigadores da Universidade de Aveiro.
Uma equipa de investigadores da UA percebeu que esta alga “tem uma grande capacidade para remover elementos potencialmente tóxicos da água, a maior parte deles perigosos para a saúde humana e para o meio ambiente”, explica a academia aveirense num comunicado enviado ao ‘Mundo Português’.
O trabalho foi desenvolvido por uma equipa multidisciplinar da UA constituída por Bruno Henriques, Ana Teixeira, Paula Figueira, Joana Almeida e Eduarda Pereira (investigadores do DQ, do CESAM, do CICECO – Instituto de Materiais de Aveiro e do Laboratório Central de Análises), e com a cooperação da Universidade do Porto e do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.
Os investigadores testaram a alface-do-mar como removedor de elementos como arsénio, mercúrio, cádmio e chumbo, entre outros. E descobriram que a remoção alcançada com a alga “é muito elevada”, revela Bruno Henriques.
O investigador, do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) e do Departamento de Química (DQ) da Academia de Aveiro, garante ainda que, comparativamente a outros materiais, naturais ou sintéticos, usados hoje correntemente para o mesmo efeito, a taxa de sucesso da alface-do-mar “é superior”.
Os resultados levam os investigadores a acreditarem que estas algas “são uma alternativa eficiente, pois removem percentagens elevadas de contaminantes num período curto de tempo, a metodologia é económica e mais ecológica do que os métodos ‘clássicos’ para a remoção destes elementos, que são menos eficazes e, muitas vezes, mais caros, o que se traduz em baixo custo-benefício”.
Cultivadas em locais contaminados
O estudo da UA indica que cada grama de alga consegue remover em simultâneo 120 microgramas de mercúrio, 160 microgramas de cádmio, 980 microgramas de chumbo, 480 microgramas de crómio, 660 microgramas de níquel, 550 microgramas de arsénio, 370 microgramas de cobre e 2000 microgramas de manganês, informa o comunicado divulgado pela universidade.
Bruno Henriques explica que estes elementos químicos, apesar de se denominarem de ‘clássicos’, continuam a ser atualmente “muito usados por várias indústrias e a sua presença no ambiente causa impactos negativos, tais como toxicidade, observada mesmo para concentrações muito baixas”.
Outros problemas associados a estes elementos “estão relacionados com o seu carater persistente no ambiente e facilidade em se bioacumularem nos tecidos dos organismos”, diz ainda.
A capacidade de ‘limpeza’ desta alga está na sorção, processo através do qual a alface-do-mar consegue incorporar nos seus tecidos, os elementos contaminantes.
O rápido crescimento destas algas “contribui para que se consigam remover os contaminantes em cada vez maior quantidade, pois o crescimento da alga aumenta o número de locais de superfície aos quais estes elementos tóxicos se podem ligar”, congratula-se Bruno Henriques.
“As algas poderão ser utilizadas para diminuir a contaminação de locais muito afetados por descargas destes elementos, através da introdução da alga no local a descontaminar se as condições forem adequadas ao seu crescimento ou cultivando algas num outro local e transportando estas para os locais a serem descontaminados”, defende o investigador.
Os investigadores asseguram que as alfaces-do-mar permitem ainda reduzir o teor de fosfatos e nitratos em águas e ao usarem dióxido de carbono como fonte de carbono, ajudam reduzir a pegada de carbono.