Portugal construiu uma seleção nacional de hóquei no gelo e obteve vitórias no estrangeiro, num crescimento de três anos patrocinado por “pessoas altruístas” que sonham arrecadar este ano o primeiro ouro para a equipa das ‘quinas’.
“Tal como grande parte dos outros desportos amadores, o hóquei no gelo começou com um conjunto de pessoas que, de forma muito altruísta, se tentaram associar porque gostam ou têm alguma ligação com a modalidade e entendem as vantagens que ela acarreta no desenvolvimento de determinada região”, vincou Pedro Farromba, presidente da Federação de Desportos de Inverno de Portugal (FDIP).
Disso são exemplos o canadiano Jim Alred, com meio século de patinagem no gelo, inclusive na Liga Norte-americana de Hóquei (NHL), e Cristina Lopes, luso-canadiana natural de Torres Vedras e que esteve radicada em Toronto. O casal fixou-se em Portugal por razões pessoais no verão de 2016, mas trouxe na bagagem a ambição de levantar uma modalidade invernal em pleno clima mediterrânico.
Ao lançar mãos à obra, Jim e Cristina depararam-se com diversos obstáculos para conciliar realidades aparentemente opostas. O sonho não esmoreceu, fruto do empenho de uns quantos entusiastas, quase todos praticantes no estrangeiro, que, na falta de uma pista de gelo permanente com medidas oficiais, improvisam duas vezes por semana no rinque do Hóquei Clube de Sintra.
“Pela primeira vez na vida, dei treinos no ‘gelo’ usando patins em linha. Os jogadores gostaram imenso e pediram que continuasse o trabalho, de modo a criar as bases futuras da modalidade no país”, constatou Jim, de 55 anos, que orienta duas formações portuguesas sem ligações fundadas com o hóquei em patins.
Uma delas é a seleção portuguesa, composta por 22 cidadãos lusos, que participou em três competições no estrangeiro. Nas edições de 2017 e 2018 da IIHF Development Cup, organizada pela Federação Internacional de Hóquei no Gelo para os países que se estão a iniciar na modalidade, Portugal alcançou o bronze em Andorra e a prata na Alemanha, num total de quatro vitórias e dois desaires. Pelo caminho sagrou-se vice-campeão no VII Gladiators Ice Hockey, na Holanda, com dois triunfos e um empate.
“Mesmo sem condições para treinar e jogar mais, temos conseguido bons resultados, tal é a vontade dos praticantes. Em abril, vamos participar num torneio na Suíça e, no mês seguinte, estaremos noutra competição em Espanha. Esperamos que este seja o ano da medalha de ouro na Development Cup”, afiançou Jim Alred, que lidera ainda o Luso Lynx, equipa composta por 13 jogadores locais, lusodescendentes ou emigrantes, alguns dos quais da seleção.
Devido à inexistência de competição interna, o conjunto formado em 2017 evolui no campeonato andaluz de hóquei no gelo, no sul de Espanha, país “bastante mais avançado na modalidade”. O treinador e a coordenadora organizam as viagens ao país vizinho, mas os jogadores “têm pago praticamente todas as despesas”, salvo donativos espontâneos de fãs e o apoio prestado pela FDIP.
Quem quiser pode embarcar na aventura, cujo recrutamento é realizado junto da federação ou através da página de Facebook ‘Portugal Ice Hockey’, que caminha para os 4.500 seguidores.