A relação entre Estado Novo e ciência praticada em Portugal durante os primeiros anos de vigência daquele regime de governo, é o tema de um ciclo de conferências em cinco escolas do Alentejo, que se inicia hoje.
Centradas no tema ‘Estado Novo e Ciência: do pitoresco ao progresso científico’, serão conduzidas pelo historiador Quintino Lopes, e centradas na vasta investigação que realizou para o livro ‘A europeização de Portugal entre guerras: A junta de educação nacional e a investigação científica’, que publicou em outubro do ano passado.
“Ironicamente na ditadura e no Estado Novo criou-se uma instituição para pensar a ciência e para ter uma política para a ciência”, revelava Quintino Lopes numa entrevista ao ‘Mundo Português’, por altura do lançamento do livro, no Instituto Camões, em Lisboa.
“Quase todas as premissas que tinha quando iniciei a investigação, caíram por terra”, assumiu o historiador, já que a investigação que realizou revelou como o Estado Novo, no seu início, possibilitou em Portugal a prática de ciência de feição europeia, com níveis de qualidade reconhecidos internacionalmente.
Num período considerado repressor, a Junta de Educação Nacional pode possibilitar aos académicos portugueses estarem em redes internacionais, irem para o estrangeiro e voltarem para Portugal produzir conhecimento.
O livro ‘A europeização de Portugal entre guerras: A junta de educação nacional e a investigação científica’ reúne todo o trabalho realizado por Quintino Lopes para a sua tese de doutoramento, que apresentou na Universidade de Évora.
Cinco escolas, cinco conferências
O ciclo de conferências de Quintino Lopes vai decorrer, para já, em cinco escolas do 3º ciclo e secundário e em alguns casos terá ainda população sénior na audiência.
As primeiras conferências decorreram hoje, na parte da manhã, na escola secundária dom 3º ciclo de Serpa e na escola EB 2,3 de Vila Nova de São Bento.
A próximas está agendada para 1 de abril na escola secundária Rainha Santa Isabel, em Estremoz, a partir das 10h20.
Segue-se a conferência na escola secundária Severim de Faria, em Évora, no dia 3 de abril, às 11h45 e, por último, no Externato João Alberto Faria, em Arruda dos Vinhos, no dia 7 de maio, às 15h15.
“Neste ciclo de comunicações pretendo divulgar junto da comunidade escolar novos resultados de investigação relativos à relação entre Estado Novo e Ciência, complementando ou modelando os conteúdos programáticos leccionados na disciplina de História no 3º ciclo e secundário”, explica o historiador ao ‘Mundo Português’.
Um bom exemplo disso é o cartaz de apresentação das conferências, onde se vê no Laboratório de Fonética Experimental de Coimbra, em 1939, “um investigador de Harvard que se encontrava nesse laboratório português a especializar-se em Fonética Experimental sob a orientação do seu diretor, o Professor Armando de Lacerda”, apresenta.
Ana Grácio Pinto
“Irónicamente na ditadura e no Estado Novo criou-se uma instituição para pensar a ciência”