Batalha na Síria não deverá acabar com o grupo Estado Islâmico

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Há quatro dias, as Forças Democráticas Sírias (FDS) lançaram uma ofensiva para derrubar o último reduto do grupo Estado Islâmico no país. Na terça-feira dia (5), os militares atuavam na delicada operação de retirada de civis da área em conflito. “Há muitos túneis e milhares de barricadas. Essa é a estratégia do EI. Os jihadistas escondem-se, saem para atirar e voltam rapidamente para seus esconderijos”, completou.Escondidos em meio a um mar de minas terrestres, os terroristas têm atiradores e apostam em contra-ataques. “Em meio aos jihadistas há ainda combatentes estrangeiros que jamais aceitarão a rendição”, diz a fonte militar.

O território ocupado pelo Estado Islâmico ficou reduzido a um quilómetro quadrado. É lá que se encontram as últimas famílias, na maioria esposas e filhos dos jihadistas entrincheirados em Baghuz.

Nos últimos dias, as Forças Democráticas Sírias desaceleraram sua ofensiva para permitir que os civis e os combatentes jihadistas que se quisessem render deixassem o enclave, na província de Deir Ezzor. Quase 3.000 pessoas saíram da localidade nas últimas 48 horas, segundo o porta-voz das FDS, Mustafa Bali.

“Entre o grupo havia um grande número de combatentes do EI que se renderam”, ressaltou o militar no Twitter.

Já o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) informou a “evacuação de 280 jihadistas” que capitularam desde a desaceleração das operações.

Cerca de 53 mil pessoas, na sua maioria parentes de extremistas, deixaram Baghuz desde dezembro, de acordo com o Observatório. Entre elas, mais de 5.000 jihadistas foram presos, segundo a mesma fonte.

Será o fim do Estado Islâmico?

A vitória das forças anti-jihadistas na Síria será o fim definitivo do grupo Estado Islâmico? A resposta é não, na opinião do ex-coronel do exército francês Michel Goya, que apela ao governo para esclarecer qual o objetivo que persegue na Síria.

“Não há outra estratégia que não seja reduzir o espaço de atuação dos jihadistas. Porém, isso não colocará fim à guerra. O Estado Islâmico passou a maior parte de sua existência na clandestinidade e vai voltar a isso. Eles já começam, especialmente no Iraque, a fazer um combate mais clandestino, com a multiplicação de ataques e atentados. A guerra não terminou”, afirma.

Depois de uma ascensão meteórica em 2014, o EI proclamou em junho do mesmo ano um “califado” nas vastas áreas conquistadas na Síria e no vizinho Iraque. Contudo, em face de várias ofensivas nos últimos dois anos, os jihadistas perderam quase todo o terreno, restando apenas este quarteirão em Baghuz.

Segundo observadores, a perda de Baghuz vai significar o fim territorial do “califado” na Síria, após sua derrota no Iraque em 2017. Mas o grupo já começou sua transformação numa organização secreta. Seus combatentes estão espalhados no deserto da Síria, no centro do país, e ainda conseguem realizar ataques mortais.

“Resistir, para eles, é uma vitória simbólica. Quando o grupo consegue resistir por seis meses à maior coligação militar conhecida na história, eles são vencidos, obviamente, mas conseguir sobreviver já é um estímulo para a causa,” explica Goya.

A maioria das pessoas retiradas dos locais ocupados pelos jihadistas foi transferida para o campo de deslocados de Al-Hol, mais ao norte do país. A população no local atualmente chega a mais de 56 mil pessoas, “mais de 90% das quais são mulheres e crianças”, informou na terça-feira o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) na Síria.

“Entre 22 de fevereiro e 1 de março, cerca de 15.000 pessoas chegaram ao campo”, disse o OCHA, relatando a morte de 90 pessoas, das quais dois terços tinham menos de cinco anos de idade, no trajeto de Baghuz para Al-Hol ou logo após a sua chegada ao acampamento.

Essas pessoas precisam de “ajuda imediata”, advertiu na segunda-feira o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), em comunicado.

“As pessoas estão embrulhadas em roupas porque não têm lugares fechados para dormir. Algumas nem têm tendas e ficam expostas à chuva, ao vento e a temperaturas extremas”, lamentou o órgão de ajuda humanitária.

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