O investigador Delfim Duarte, da Universidade do Porto, venceu hoje a Bolsa D. Manuel de Mello, no valor de 50 mil euros, com um trabalho que visa analisar o papel de uma proteína no reaparecimento da leucemia mieloide aguda LMA).
Duarte, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da U.Porto e interno de dermatologia no IPO-Porto, explicou que o projeto distinguido pretende “explorar o papel da proteína CD18 na adesão celular”, ou seja, no processo de interação e ligação entre as células da leucemia e da medula óssea.
“A adesão celular é muito importante, porque é graças a ela que as células da leucemia recebem sinais que lhes permitem proliferar, expandir e, por outro lado, sobreviver à quimioterapia”, frisou Delfim Duarte à Lusa.
A LMA, doença “rara” e “bastante agressiva”, tem uma maior incidência em pessoas com mais de 65 anos e é provocada pela “proliferação descontrolada de glóbulos brancos”, tendo como consequência para o doente a perda de células normais do sangue, o aparecimento de cansaço, hemorragias e várias infeções.
Segundo Delfim Duarte, o facto de os vasos sanguíneos da medula óssea, quando expostos a estímulos inflamatórios, aumentarem a expressão desta proteína leva os investigadores a acreditar que a proteína CD18 poderá vir a “promover a ligação entre o microambiente inflamado e as células da leucemia”.
“Se ela (proteína CD18) for realmente importante para a leucemia, então o objetivo é derrotá-la, usando a estratégia de a retirar dessa adesão para depois a combater”, salientou o investigador.
“Já temos alguns dados que sugerem que em alguns subtipos de leucemia mieloide aguda, a sua expressão está aumentada. Queremos ver se é só nesses subtipos ou se é em todos”, acrescentou Delfim Duarte.
A Bolsa D. Manuel de Mello é atribuída anualmente pela Fundação Amélia de Mello com o objetivo de contribuir para a investigação e progresso das Ciências da Saúde.
Destina-se a premiar jovens médicos que desenvolvam projetos de investigação clínica, no âmbito das Unidades de Investigação e Desenvolvimento das Faculdades de Medicina portuguesas.
Prémio europeu em janeiro
Em janeiro deste ano, Delfim Duarte já tinha sido distinguido com um prémio de 160 mil euros pela Sociedade Europeia de Hematologia, por um projeto que tem como objetivo explorar o papel do ferro na LMA, desenvolver novas terapêuticas e conseguir aumentar a qualidade de vida destes doentes oncológicos.
Na altura, o investigador explicava que no seu meu trabalho anterior observou
que as células de leucemia mieloide aguda “destroem seletivamente os vasos sanguíneos adjacentes ao osso, no chamado microambiente, o que promove não só a quimiorresistência das células de LMA, assim como a perda de células do sangue não malignas, o que causa anemia, sangramento e infeções nestes doentes”.
“Os nossos resultados preliminares sugerem que o ferro poderá ter um papel importante na alteração do microambiente na LMA e contribuir para a agressividade da doença”, acrescentava.
Para explorar o papel do ferro, e mais concretamente esta hipótese, Delfim Duarte irá utilizar amostras de doentes do IPO-Porto com LMA e modelos pré-clínicos de ratinho de LMA.
O prémio atribuído pela Sociedade Europeia de Hematologia é dirigido a médicos investigadores a nível europeu.
Para o investigador do i3S representa também a oportunidade de conciliar a prática clínica no IPO-Porto com a investigação no i3S. “Aqui faço parte de um grupo dedicado ao estudo da biologia do ferro dirigido pela Professora Graça Porto e esta grant permite-me não só executar o projeto como também contratar um investigador”, subinhou.