Segundo o Inquérito Nacional de Saúde com Exame Físico, 57,8% dos inquiridos, ou seja, mais da metade, disseram que sofriam de alguma doença crónica.
Mais de metade dos portugueses tem pelo menos alguma doença crónica, como hipertensão arterial, obesidade, diabetes, alergia ou depressão, revela o Inquérito Nacional de Saúde com Exame Físico (INSEF) promovido e coordenado pelo Departamento de Epidemiologia do Instituto Ricardo Jorge.
Este primeiro INSEF foi desenvolvido em 2015 para recolha de informação epidemiológica sobre o estado, determinantes e cuidados de saúde da população portuguesa.
E revelou que as doenças crónicas são mais frequentes nas mulheres, nas pessoas com menos escolaridade e nos idosos.
O trabalho de recolha de dados foi realizado ao longo de 40 semanas em 2015 e finalizado nas sete regiões de saúde do país, em dezembro do mesmo ano.
Estiveram envolvidos cerca de 200 profissionais em todo o país, foram realizados mais de 30 mil telefonemas e 5881 marcações que permitiram recrutar 4937 participantes, ultrapassando a meta prevista de incluir neste estudo 4200 pessoas residentes em Portugal.
Os dados foram obtidos a partir da questão ‘Tem alguma doença ou problema de saúde que dure há mais de seis meses ou que se espere que venha a durar mais de seis meses?’.
“Durante o INSEF, foram observados 4911 indivíduos – 2265 homens (46,1%) e 2646 mulheres (53,9%) – na sua maioria naturais de Portugal (91,2%), casados ou em união de facto (70,0%), em idade ativa (84,3% com idade entre os 25 e os 64 anos), 63,4% dos quais sem escolaridade ou com escolaridade inferior ao ensino secundário e 11,2% desempregados, lê-se no documento sumário do inquérito.
Doenças crónicas atingem 57,8% da população
Em resposta à questão apresentada, 57,8% dos inquiridos, ou seja, mais da metade, disseram que sofriam de alguma doença crónica das citadas numa lista de 20 doenças: hipertensão arterial, enfarte agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, disritmia cardíaca, diabetes, insuficiência renal crónica, cirrose, hepatite crónica, asma, doença pulmonar obstrutiva crónica, dor crónica, osteoporose, artrite reumatóide, artrose, cancro, depressão, ansiedade crónica, úlcera gástrica ou duodenal, colesterol elevado e alergia.
“É de referir ainda que 67,6% da população tinha excesso de peso ou obesidade e 52,3% tinha alteração dos lípidos do sangue, valor que aumentava para 63,3% ao incluir nesta estimativa a população que referiu tomar medicamentos para controlar esta condição”, indicam ainda os resultados do inquérito.
Quase 20% dos inquiridos (19,4%) disseram ter uma doença crónica, 17% apontaram duas e 10,4% referiram três patologias crónicas.
A ocorrência de doença crónica foi mais frequente nas mulheres (62%) – ou seja, cinco em cada dez – do que nos homens (53,1%) – seis em cada dez.
Acontecem ainda mais nas pessoas com menos escolaridade e no grupo etário dos 65-74 anos, referem os dados do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA).
Nos homens, as doenças crónicas mais frequentes foram hipertensão (25,1%), colesterol elevado (23,7%), alergia (11,4%), diabetes (10,4%), dor crónica (7,4%) e artrose (7,3%).
Já nas mulheres predominam a hipertensão (26,1%), colesterol elevado (25,7%), artrose (20,6%), alergia (18,1%), depressão (15,2%) e dor crónica (13,5%).
A prevalência destas doenças aumentava com a idade verificando-se os valores mais elevados entre os 65 e os 74 anos. Nesta faixa etária prevalecem a obesidade abdominal (88%), a hipertensão (71,3%), a obesidade (41,3%) e a diabetes (23,8%).
“Como exceções verificaram-se valores mais elevados de prevalência de excesso de peso entre os 45 e os 54 anos e de colesterol total elevado entre os 55 e os 64 anos (80,1%), sem diferença significativa em relação ao grupo etário 65 a 74 anos (79,2%)”, informa ainda o inquérito.
Foi na região Norte que se detetaram os valores mais elevados de hipertensão arterial e obesidade, enquanto o maior número de casos de obesidade abdominal e de alteração do perfil dos lípidos do sangue foram registados na região Centro, e os de diabetes na Região Autónoma dos Açores.
Jovens consomem menos fruta, vegetais e legumes
A análise das questões do inquérito revelou ainda que 79,3% dos inquiridos consumiam diariamente fruta (exceto sumos) e 73,3% comiam legumes ou vegetais, incluindo sopa. Valores que são mais elevados nas mulheres (83,7%) do que nos homens (74,4%) no caso do consumo de fruta e no caso do consumo de legumes ou vegetais: 80,1% das mulheres e 65,8% dos homens.
O grupo etário mais jovem, entre os 25 e os 34 anos, consome menos fruta (68,7%) e legumes e vegetais (62,8%) diariamente, valores que aumentavam com a idade.
As prevalências mais baixas relativas ao consumo diário de fruta e de legumes/vegetais foram observadas na Região Autónoma dos Açores (69,1% e 57,7% respetivamente) e as mais elevadas na região Alentejo (85,5%) para o consumo de fruta e no Centro (80,0%) para consumo de legumes ou vegetais.
O inquérito indica ainda que é na população com escolaridade mais elevada que prevalece o consumo de fruta (81,5%) e de legumes e vegetais (80,0%). A população desempregada tinha as menores prevalências destes consumos (71,5% e 68,5%, respetivamente), confirmou ainda.
Nos 12 meses anteriores às respostas ao inquérito, “pouco mais de metade da população estudada (51,3%) consultou um profissional de saúde oral, com maior frequência na população feminina (55,5% vs 46,7%), no grupo etário 35 a 44 anos, na região Norte, entre os mais escolarizados e naqueles com atividade profissional remunerada, enquanto as mais baixas percentagens se verificaram entre os 65 e 74 anos, na região Alentejo, na população com menor escolaridade e entre os desempregados”, lê-se ainda no sumário do INSEF.
Atenção ao colesterol, hipertensão, diabetes e obesidade
O inquérito conclui que entre os fatores determinantes para o surgimento de doenças crónicas na população portuguesa está o elevado “sedentarismo nos tempos livres (44,8%), o consumo arriscado de bebidas alcoólicas, reportado por 33,8% da população masculina, ou a exposição ambiental ao fumo do tabaco que afetava 12,8% da população”.
Outra conclusão alerta para uma maior atenção das intervenções de saúde sobre algumas áreas do estado de saúde, “como o colesterol total superior a 190 mg/dl medido em 52,3% da população, a hipertensão arterial que afetava 38% da população, a obesidade (28,7%) e a diabetes (9,8%)”.
O Inquérito Nacional de Saúde com Exame Físico (INSEF 2015) é o primeiro inquérito de saúde a gerar indicadores de saúde representativos da população portuguesa a nível nacional e de cada uma das suas sete regiões.
Teve como finalidade contribuir para a melhoria da saúde dos portugueses, “apoiando as atividades nacionais e regionais de observação e monitorização do estado de saúde da população, avaliação dos programas de saúde e a investigação em saúde pública”.
Foi desenvolvido INSA, em colaboração com as Administrações Regionais de Saúde (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve), com a Secretaria Regional de Saúde da Região Autónoma dos Açores e com a Secretaria Regional dos Assuntos Sociais da Região Autónoma da Madeira.
Ana Grácio Pinto