OPINIÃO
As greves que assolam o País são todas legítimas e a maioria delas terá fundamentos sérios e reivindicações justas. Algumas, no enqanto afetam com mais ou menos gravidade os cidadãos ou grupos de pessoas sem nenhuma culpa nas situações criadas – e os trabalhadores não podem deixar de o tomar em conta. Se não tomarem, adequando a modalidade, a época e a duração do protesto em termos de causar o menor prejuízo possível aos cidadãos e não causar prejuízos irreparável à sociedade, mostrarão falta de sentido da responsabilidade, ou mesmo de humanidade.
É certo não dever o que se disse impedir certas categorias profissionais de fazer greve, e não o é menos uma greve ter tanto mas possibilidade de atingir o seu objetivo quanto mais “prejudicar” aqueles contra quem é decretada.
Mas isto não invalida o que comecei por acentuar, obriga sim a ter ponderação, bom senso e a fazer um juízo de proporcionalidade. Ora nas greves em curso há exemplos de tudo. O mais expressivo, quanto aos perigos referidos, será o da greve que tem obrigado a adiar centenas de cirurgias, inclusive prioritárias, com consequências nefastas no imediato e imprevisíveis no futuro, muitas talvez irremediáveis.
Há também greves que não deveriam existir: ou por a sua razão ser óbvia. Este é o caso da greve no porto de Setúbal. Como admitir que dois terços dos estivadores fossem “precários”? Assim, a diminuição dos precários para um terço, acordo a que entretanto se chegou deveria ter sido aceite pela parte patronal sem necessidade de uma greve, com os avultados prejuízos de vária ordem inerentes.
Acordo, aliás em que interveio o Governo, que não pode demitir-se das suas responsabilidade – nem atrasar-se a assumi-las, como sucedeu -, quando estão em jogo interesses nacionais.
As greves ocorrem quase só no setor público, apesar de ser nele que mais se reverteram medidas penalizadoras do governo anterior, se verificaram melhorias e ainda agora se fixou em 635 euros o salário mínimo, que no provado ficará nos 600.
Há quem se queixe de membros do Governo recusarem o diálogo. A ser verdade, é inadmissível. O diálogo tem de ser a norma e o Governo tem de dar o exemplo.
Mas não menos os sindicatos devem privilegiá-lo, com abertura e inteligência, sem radicalismos e com uma linguagem não estereotipada, antes apta a explicar a situação e a justeza da sua luta.
O sindicalismo, cuja crise é notória, e a democracia precisam disso. Quando o extremismo populista, autoritário, avança ou mesmo triunfa em tanta parte, exige-se dos democratas de todas as tendências, mormente da esquerda, uma meditação e uma ação capazes de estancar esse novo protofascismo.
Uma última nota. Nas greves, em cada setor público os sindicatos queixam-se dos respetivos governantes, quando a ideia que tenho é de que a maioria deles até está de acordo com a justiça de muitas reivindicações (o anterior ministro da Saúde chegou a dizê-lo), mas não há, ou eles não têm recursos para as satisfazer.
E, depois, quem (co) manda é o ministro das Finanças. Assim, pode ficar a ideia, não democraticamente saudável, de que só valerá a pena falar com o ministro das Finanças – ou com o chefe de Governo…
Orlando Fernandes
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