Investigadores de três universidades portuguesas desenvolveram um tubo-guia biodegradável inovador na regeneração de nervo periférico após lesões.
Os investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), com a colaboração da Faculdade de Engenharia do Porto (FEUP) e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS9), já patentearam o dispositivo que se distingue por ser “biodegradável de forma controlada”, não tóxico e produzido integralmente com materiais aprovados pela FDA (Food and Drug Administration), a agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos.
O coordenador do estudo explica que o tubo-guia é completamente seguro e cria “um microambiente propício à regeneração do nervo, isto é, promove a adesão e proliferação celular”.
“Outra característica importante é o facto de ser um tubo flexível, de dimensão adaptável” ao tipo de lesão do nervo periférico (nervo responsável pela função motora e/ou sensorial), destaca ainda Jorge Coelho.
Depois de implantado no paciente, o tubo-guia de base polimérica “vai indicar o caminho correto para que as extremidades separadas pela lesão (corte) possam juntar-se novamente e retomar a sua função”, explica o investigador e docente do Departamento de Engenharia Química da FCTUC.
O dispositivo já foi testado em ratinhos e mostrou resultados “muito promissores”. “O tubo-guia foi implantado em modelos de neurotmese – lesão do nervo ciático, o grau mais severo de lesão de nervo periférico. Após 20 semanas, verificou-se a recuperação total da função motora e sensorial dos animais”, revela Jorge Coelho.
O tempo estimado para a recuperação em humanos será entre 24 e 30 semanas.
Atualmente, as lesões de nervo periférico são tratadas frequentemente com recurso a autoenxertos, método que apresenta muitas desvantagens, como a resistência a sutura e sacrifício de um nervo saudável.
O projeto acaba de vencer a final do concurso europeu ‘PhD transition fellowships’, promovido programa ‘EIT Health’, através da tese de doutoramento realizada por Catarina Pinho.
Intitulado «Polymeric Nerve Guide Tubes for Peripheral Nerve Regeneration», o trabalho venceu as propostas apresentadas pelas universidades de Oxford (Inglaterra), Sorbonne e Grenobla Alpes (França), e pelo Instituto Karolinska, da Suécia.
Os investigadores ponderam agora constituir uma Startup (empresa) da Universidade de Coimbra, tendo em vista a realização dos estudos necessários para a comercialização do produto.
Segundo a Universidade de Coimbra, são registados anualmente na, 300 mil lesões de nervo periférico causadas, por exemplo, por acidentes rodoviários e laborais, danos tumorais ou infeções virais, representando um importante problema de saúde.
As lesões de nervo periférico estão quase sempre associadas a lesões secundárias e, muitas vezes, provocam danos irreversíveis, como a perda de locomoção.
Suportado pela Comissão Europeia e pelo Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT), o programa ‘EIT Health’ é uma das mais abrangentes e importantes iniciativas mundiais na área dos cuidados de saúde.
Detém um orçamento de dois mil milhões de euros para investir nos melhores talentos empresariais e mentes criativas da Europa, fomentando o desenvolvimento e a comercialização de produtos e soluções inteligentes no setor de saúde e abordando os desafios impostos pelas alterações demográficas e o envelhecimento das populações.
Ana Grácio Pinto
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