O Presidente da República completa hoje 70 anos. Todos o conhecem – a sua popularidade não admite discussão – e quase todos sabem muito sobre o Presidente. Que é hipocondríaco assumido, afetuoso, teimoso, frenético, um constitucionalista por excelência, divertido. Um círculo mais restrito fala de uma inteligência arguta e de um enorme poder de manipulação. Quase todos concordam que é brilhante. Paulo Portas disse um dia sobre ele que Deus tinha-lhe dado a inteligência e o diabo a maldade
Marcelo Rebelo de Sousa tem características únicas, que o tornam um desafio para qualquer biógrafo, e uma vida tão cheia que, tentar escrevê-la, resultará sempre num tratado.
Em jeito de prenda o MUNDO PORTUGUÊS conta hoje e recorda ao Presidente um dos mais célebres episódios de intriga político-jornalística que é conhecida e atribuida a Marcelo Rebelo de Sousa. Foi revelada ao país por Paulo Portas, num programa do Herman José (o Parabéns, emitido pela RTP a 4 de dezembro de 1994) e celebrizou-se como “o caso da vichyssoise”.
Em 1991, Portas era diretor do semanário O Independente, Mário Soares o Presidente da República, Cavaco Silva primeiro-ministro. Soares tinha convocado uma reunião com constitucionalistas – entre eles, Marcelo Rebelo de Sousa – para saber se o Governo de Cavaco chegava às eleições em plenitude de funções – já que se estreava nesse ano a novidade de, pela primeira vez desde o 25 de Abril, um executivo terminar um mandato sem estar demissionário ou em gestão.
Sobre o episódio em si, as versões variam dependendo de quem narra a história, mas, no essencial, Portas queria saber o que se tinha discutido nessa reunião em Belém. Na versão do então jornalista, Marcelo colaborou com a sua curiosidade, relatando quem dissera o quê, em que momento, e como, chegando até ao pormenor da ementa: uma vichyssoise (sopa fria).
Só que, ainda segundo a versão Portas, horas depois, o jornalista deu de caras com um dos constitucionalistas presentes na reunião e pergunta-lhe pela sopa fria. E descobriu que o que ouvira de Marcelo era mentira. Menu incluído.
Do episódio, que levou a uma zanga de anos entre ambos, Portas concluíu sobre Marcelo no programa televisivo: “Deus deu-lhe a inteligência e o Diabo deu-lhe a maldade.”
A versão de Marcelo lembra a história numa outra perspetiva. “Nunca revelei o conteúdo político do jantar. Ele pediu: “Ao menos a ementa.” Então, confesso que bastante enfastiado, terei falado a vichyssoise”, revelou
O Independente de Paulo Portas viria a fazer manchete da reunião, com a lista completa do menu de assuntos, mas sem qualquer referência à sopa fria.