O compositor Emanuel Pimenta estreia a ópera eletrónica “Metanoia”, no Mosteiro da Batalha, a 17 de novembro, uma criação em torno do fim da ideia de guerra, para assinalar os cem anos do termo da I Guerra Mundial. Brasileiro com ligações familiares a Portugal e atualmente a residir na Suíça, Emanuel Pimenta, 61 anos, criou um espetáculo para assinalar o centenário do Armistício, a convite do diretor do monumento.
“Queríamos fazer uma coisa diferente, que tivesse um impacto muito grande, que marcasse a história”, explica o compositor à agência Lusa.
O resultado foi “Metanoia”, termo que vem do grego e que significa “além do pensamento”.
“A questão da guerra encontra um eco muito forte no conflito humano. Porque é que as pessoas entram em conflito? Daí o sentido do título da peça, ‘Metanoia’. É sobre o sentido da consciência. Quando damos um passo atrás, destacamo-nos daquilo em que estamos imersos e podemos ter outra consciência. E quando temos consciência sobre o outro não há conflito, porque nos compreendemos”.
A ópera eletrónica será apresentada na igreja e nos dois claustros do Mosteiro da Batalha, “um espaço fabuloso” que deixa o compositor “sem ar”.
“É deslumbrante”, sublinha Emanuel Pimenta, que organizou a “Metanoia” na linha das criações que assina desde o final da década de 70 do século XX.
“Este trabalho é coerente com o que venho fazendo há muitos anos. Tenho mais de 50 CD, mais de 200 composições… Desde o fim dos anos 70 há uma coerência, um fio condutor. Há certos elementos sempre presentes”.
A nova ópera reflete isso: está organizada em três movimentos, envolvendo um solo da violoncelista inglesa Audrey Riley, sete filmes que recordam a história da arte nos últimos 500 anos e, a finalizar, um canto ‘a cappella” da soprado luso-francesa Laetitia Grimaldi.
“Depois, vem a parte mais importante dessa ópera: são queijinhos, pães, vinho, azeite…”, brinca Emanuel Pimenta, lembrando o convite final feito ao público para celebrar a paz, na Adega dos Frades do Mosteiro da Batalha, cenário que funciona como “elemento de consciência do ser humano”.
“Essa ópera é completamente estranha, porque não tem vozes, nem a cantoria normal. É uma ópera para vozes interiores, onde fragmentos de poemas de Fernando Pessoa, elaborados entre 1914 e 1930, começam a surgir no meio das imagens. As pessoas descobrem o que está a surgir no meio daquele mundo um pouco estranho”.
É a partir desse mundo que Emanuel Pimenta deseja que cada espectador encontre o seu próprio universo.
“Esta ópera é uma descoberta pessoal. Cada pessoa vai encontrar o seu mundo lá. Toda a vida é fantástica. Mas não dá para conhecer tudo, para ler todo os livros, para ver todos os filmes, visitar todos os sítios. A vida é parcial” e, por isso, aqui, “cada um deve encontrar o seu percurso”. Naquele e neste mundo.
“Metanoia” estreia-se às 19:00 de sábado, 17 de novembro, no Mosteiro da Batalha, com entrada livre.