Portugal tem uma visão “cor-de-rosa” e “falsa” sobre a Primeira Guerra

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A participação de Portugal na Primeira Guerra resultou de “um projeto político radical” contestado pelo Exército e pela sociedade, defende o historiador António José Telo, criticando a visão histórica “cor-de-rosa” e “falsa” que subsiste sobre este período.
“As ideias que existem são bastante erradas. Os manuais escolares continuam a dizer que Portugal entrou na Guerra a pedido da Inglaterra. Não é bem assim. Na realidade, a Guerra provoca uma profunda divisão na sociedade portuguesa […] e a esmagadora maioria, quer do mundo político, quer da opinião pública, alinha com os chamados anti-guerristas”, disse o historiador, em entrevista à agência Lusa.
O professor catedrático de História na Academia Militar trabalha, desde 2014, numa linha de investigação ligada à evocação dos 100 anos da Primeira Guerra Mundial, do Ministério da Defesa, tendo já publicado dois livros: um sobre o Corpo Expedicionário Português (CEP) em França e outro sobre a guerra no Atlântico português.
Ainda em novembro, quando se assinala um século da assinatura do Armistício, deverá ser publicado um volume sobre a Guerra em África, ficando a coleção completa com um livro sobre a parte final do CEP e o pós-guerra em Portugal.
António José Telo sustenta que Portugal entrou na Grande Guerra por causa de “um pequeno grupo radical” de republicanos, o chamado Partido Democrático, que forçou a integração das tropas portuguesas no conflito contra a vontade da Inglaterra.
“É este setor que vai forçar a beligerância portuguesa contra a opinião da Inglaterra”, pensando que “conseguiriam o apoio de Inglaterra”, o surgimento de “um movimento patriótico” que unisse o país à volta destes radicais e a consolidação “do seu poder político”, acrescentou.
Uma vez aceite a participação portuguesa no terreno de batalha, explica o historiador, assiste-se a “uma resistência, passiva e ativa, de toda a sociedade portuguesa e em particular do corpo de oficiais do Exército, que entendem esta beligerância como um projeto não nacional”.
Por outro lado, acrescenta, havia também a resistência da Inglaterra a braços, em França, mas também em África, com um corpo militar “ineficaz”, “indisciplinado” e “minado de clubes”.
“O Corpo Expedicionário Português (CEP) em França foi desde o início forçado a um Exército que não o queria. Ninguém entendia o que o Corpo Expedicionário estava a fazer em França. Só o aceitam porque os radicais portugueses conseguem o apoio do Governo francês e encostam Inglaterra à parede”, disse.
Para o historiador, “o que é triste é que esta realidade é apresentada como um projeto nacional, por razões patrióticas, para manter o império, as colonias, a integridade nacional, para nos defender contra a agressão alemã…Não foi nada disso, foi por um projeto partidário de criar uma república radical e que era de facto antidemocrática”.
Por isso, sustenta, é preciso “desmistificar” as ideias sobre a participação de Portugal na Primeira Guerra.
“Continuamos a ser o país europeu que tem a ideia mais errada do que foi a beligerância portuguesa” e existe, tal como naquela altura, uma união “à volta de uma visão de propaganda e falsa” sobre o que se passou, afiança o historiador.
Admitindo que sente a censura a estas ideias, António José Telo afirma não ter “absolutamente qualquer ilusão que esta [sua] visão se imponha a curto prazo”.
“Os que se opõem a [esta visão] estão instalados nas alavancas principais da produção histórica e tentam por todos os meios ocultar a verdade. Vai continuar a vigorar a visão cor-de-rosa, a visão errada, a visão do radicalismo de dinossauros sobre o que foi a beligerância portuguesa”, considerou.
Portugal participou na Primeira Guerra com cerca de 100 mil militares ao lado dos aliados, enviando soldados para a frente de batalha em França (1917 – 1918), Angola (em 1914-1915) e Moçambique (1914-1918).
Para assinalar os 100 anos do fim da Primeira Guerra Mundial mais de 60 chefes de Estado, incluindo o Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, participam domingo, em Paris, no Dia do Armistício.

Lusa

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