Entre Maputo e Katembe ergue-se a maior ponte suspensa de África, a infraestrutura estatal mais cara depois da independência de Moçambique e com um percurso que, em cerca de cinco minutos de automóvel, acaba com o pesadelo da travessia por barco.
A obra a inaugurar amanhã serve também como forma de afirmação do investimento chinês no país que a financiou e construiu – um empreendimento “chave na mão”.
Com um vão de 700 metros e duas rampas com pouco mais de dois quilómetros cada, a ponte Maputo-Katembe foi feita para permitir a ligação por terra entre as duas margens da baía da capital moçambicana, a norte e a sul.
A entrada em funcionamento do empreendimento une por estrada o sul, centro e norte de Moçambique, fazendo jus à famosa palavra de ordem “do Rovuma ao Maputo”, oficialmente usada para reafirmar a demarcação e a indivisibilidade do território nacional, através dos seus extremos norte e sul.
Para a realidade das infraestruturas de Moçambique os números envolvidos na construção da ponte Maputo-Katembe são avassaladores.
Foram aplicados na estrutura de travessia 75 toneladas de aço e 300 mil metros cúbicos de betão.
A construção envolveu 3.800 operários locais e 450 trabalhadores chineses, bem como 50 engenheiros e consultores de países como Alemanha, Inglaterra, Rússia e Grécia.
O projeto da ponte passou igualmente pela construção de 180 quilómetros de estrada ligando a Katembe à Ponta de Ouro, a cerca de 100 quilómetros, na fronteira com a África do Sul.
A rodovia reduziu para metade o tempo percorrido entre a capital do país e a zona onde se situa a Reserva Especial de Maputo e que acolhe estâncias balneares com grande potencial para o turismo.
A ponte poderá igualmente dar “asas” ao sonho de uma expansão ordenada da já congestionada capital moçambicana, uma vez que o ganho de tempo e de segurança na travessia poderá atrair o desenvolvimento do setor imobiliário na margem sul da baía de Maputo.
Para responder a esse objetivo e com o advento da ponte, o governo do município de Maputo aprovou em 2015 o Plano Geral de Urbanização do Distrito Municipal de Katembe.
O plano prevê duas áreas de grande densidade populacional, com mais de 500 habitantes por hectare, uma grande zona ecológica, que abrange mangais e áreas verdes, zonas agrícolas e áreas de proteção e conservação da natureza.
O financiamento de 785 milhões de dólares (cerca de 687 milhões de euros) que a China aplicou para a construção da ponte confirma o papel central do gigante asiático como o maior financiador de infraestruturas em Moçambique após a independência, no seguimento de outros empreendimentos de grande envergadura no país africano.
Com dinheiro chinês, o país passou a contar com novas sedes da Assembleia da República, Procuradoria-Geral da República, Tribunal Administrativo, ministérios, Estádio Nacional do Zimpeto, entre outros empreendimentos.
População empolgada com o fim do calvário na travessia Maputo-Katembe
Passageiros dos barcos que fazem a travessia Maputo-Katembe e residentes nas duas margens da baía da capital moçambicana sorriem de alegria quando se fala da inauguração da ponte que vai ligar os dois lados.
A cerimónia está agendada para amanhã, depois de obras que decorrem desde 2014.
Cansados de horas de espera que várias vezes têm de suportar para viajar no único “ferryboat” que faz a ligação entre Maputo-Katembe – que por vezes paralisa devido a avarias ou outros problemas – os “katembenses”, como também são conhecidos os residentes da margem sul da baía de Maputo, acreditam que a ponte vai abrir uma nova página nas suas vidas.
“A ponte é muito bem-vinda, estou muito feliz, porque faremos a distância entre Maputo e Katembe em pouco tempo”, disse Januário Ubisse, 28 anos, condutor de um miniautocarro de transporte de passageiros.
Ubisse lamenta que, sem a ponte, os moradores dos dois lados da baía da capital tenham de esperar, por vezes, duas horas ou mais, até que o “ferry” complete a lotação – quando a travessia marítima, em sim, é de apenas 1,2 quilómetros e faz-se em cerca de 10 minutos.
Por vezes, deixam a viagem para o dia seguinte, quando chegam ao cais depois das 23:00, porque já não há barco para o transporte de passageiros, assinala – e quando a chuva ou o vento são fortes, o “ferryboat” é a única opção, porque os barcos pequenos (apenas para passageiros) nem se fazem ao mar.
Com a ponte a funcionar, a ligação entre Maputo e Katembe será feita em cerca de dez minutos de circulação automóvel, num percurso que inclui 700 metros de vão central e pouco mais de dois quilómetros de rampas de acesso à ponte.
Nem os preços de portagem anunciados pela empresa gestora do novo empreendimento assustam Januário César Ubisse.
“Temos falta de dinheiro, mas não vejo que seja caro”, refere.
Para Samuel Tembe, morador da Katembe, o funcionamento da ponte vai levar para a margem sul da capital uma explosão imobiliária, demográfica e nos negócios.
“Daqui para a frente, as coisas vão mudar, muita gente da cidade [de Maputo] vai estar cá na Katembe, para construir e trazer negócios”, assinala Samuel Tembe.
Berta Munguambe, que vende amendoim torrado e refrigerantes numa banca improvisada a céu aberto no cais da Katembe, também não esconde a satisfação com a entrada em funcionamento da ponte, mas alerta para o risco de agravamento da criminalidade e possível perda de negócio junto ao cais.
“É bom termos a ponte, porque sofríamos na travessia, mas vamos passar mal, porque a criminalidade vai aumentar e o negócio no cais vai ficar mais difícil”, afirmou.
Sérgio de Sousa, empresário da restauração na Katembe, diz que a qualidade na mobilidade que será gerada pela ponte vai melhorar a vida das pessoas e a economia da região.
“A ponte vai trazer um progresso para qualquer negócio e para a área do turismo, porque Katembe tem uma vista privilegiada para a capital, além de sermos banhados pelo mar”, conclui.