No passado mês de setembro, 40 portugueses, sócios e amigos da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, capitaneados pelo presidente da patriótica instituição, Dr. José de Alarcão Troni, deslocaram-se a Marrocos, com o propósito de conhecer o local onde há 440 anos o nosso jovem rei D. Sebastião perdeu tragicamente a vida e fez perder Portugal durante 60 anos. E durante três dias, em Alcácer Quibir, em Tânger, em Alcácer Ceguer e em Arzila, a D. Sebastião – no pensamento dos participantes na jornada norte-africana – juntaram-se quantos heróicos portugueses de antanho, nobres e plebeus, que pelejaram em tais paragens, “sequiosos de ideal e votados à tarefa peregrina de engrandecer num sonho de civilização o império português”. Teve essa “tarefa” início em Ceuta, em 1415, para se prolongar por mais de um século e meio, até se “morrer devagar” em 1578, num plaino das lonjuras, afastado das águas atlânticas, em que sulcaram naus e caravelas rumo a terras e mares desconhecidos.
Congratulo-me, naturalmente, com a concretização desta viagem cultural a Marrocos que idealizei e cuja organização foi de imediato posta em prática, com geral agrado de quatro dezenas de cultivadores da nossa História Pátria. Voltar a Alcácer Quibir, 52 anos depois de uma primeira deslocação a tão histórico local, foi deveras emotivo. Uma e outra vez, a figura de D. Sebastião esteve comigo. E uma e outra vez, quatro séculos depois da contenda, a população de Alcácer Quibir acolheu com agrado e simpatia. E muitos foram os jovens marroquinos, vindos da escola, que se acercaram dos visitantes, referindo-se a um lendário “sebastião”, pronunciado à sua maneira.
São dois os monumentos que evocam a trágica batalha de Alcácer Quibir. Situam-se nas cercanias da cidade e são totalmente diferentes um do outro. Enquanto um monumento moderno, de grande porte, presta homenagem aos três reis que perderam a vida na batalha, D. Sebastião e os dois reis marroquinos que se hostilizavam, o segundo “monumento” não passa de um pequeno marco, uma sobreposição de quatro blocos de pedra, pintados de branco, sem qualquer inscrição, admitindo-se que seja o que restou, ou um sucessor, do monumento em honra de D. Sebastião ali colocado nos anos quarenta pelos estudantes de Coimbra e derrubado em 1956, quando da independência de Marrocos.
Na não menos histórica Arzila, cidade-fortaleza do litoral atlântico, mantém-se o escudo português numa das “Portas”, enquanto outra “Porta” se abre sobre a Praça de Portugal. Recorde-se que a tomada de Arzila pelos portugueses preenche as célebres e enormes “Tapeçarias de Pastrana”, que num período aziago foram levadas para Espanha.
Também à beira-mar, mas no Estreito de Gibraltar, situam-se as ruínas do antigo reduto português de Alcácer Ceguer, em cujas fortificações se destaca um chamado Portão do Mar. Restou, porém, avistar tais fortificações a grande distância, em virtude de aquela área se encontrar vedada.
Em Tânger, a caravana portuguesa teve ocasião de apreciar uma réplica da batalha de Alcácer Quibir, patente na antiga Legação Norte-Americana. E na Praça de Faro, na área central da cidade, debruçada sobre o porto e a baía, viram-se expostos antigos canhões portugueses. Refira-se Tânger se geminou com Faro em 1985, existindo também em Faro uma Praça de Tânger. E Portugal e Lisboa figuram na toponímia de Tânger.
Uma vez que a história e o turismo se aliam, os participantes nesta viagem cultural a Marrocos finalizaram a jornada com uma visita ao Cabo Espartel e às Grutas de Hércules, dois pólos de atração turística de Tânger, onde menos de quinze quilómetros separam a África da Europa.
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