Finais de agosto e setembro são épocas de vindima em Portugal, quando os cachos amadurecidos, são colhidos de Sul para o Norte, gradualmente, e vinificados milhões e milhões de litros de mostro que se vão traduzir em milhões de litros de vinhos brancos, tintos rosés e vinhos verdes, de tão diferentes castas. Depois são engarrafados em marcas próprias, para consumo nacional e para os mercados internacionais, sendo o sector dos vinhos muitíssimo importante para o valor das exportações do sector agro-industrial português.
Quem trabalha a vinha, sujeita-se às variações climatéricas e, nesta campanha, muitos vitivinicultores estão desolados e falam num ano “verdadeiramente atípico e para esquecer”. Em algumas vindimas referem
“Foi passar e andar, porque eram mais as uvas secas do que as boas e quisemos despachar, porque, depois, vamos voltar para tirar as secas que não podem ficar para o ano na videira”, contam.
O míldio em algumas regiões afetou as videiras e, apesar dos tratamentos, não produziram efeito. Depois veio a chuva e, mais tarde, o escaldão que queimou tudo”, o escaldão de finais de Julho e princípios de Agosto.
As queixas estendem-se a algumas regiões vitivinícolas e diversos, quer dos concelhos da Região Demarcada do Douro, Dão, Ribatejo e Alentejo. Porém apesar da diminuição da quantidade, a qualidade das uvas colhidas no geral é muito boa e este mês de Setembro tem sido excelente para a maturação dos cachos.
“Quebra considerável” na região dos Vinhos do Dão
Na Região do Dão, prevê-se uma quebra de produção na ordem dos 25%. “Vamos ter uma quebra considerável talvez na casa dos 25%, porque juntam-se dois efeitos: a primavera muito chuvosa, que fez com que houvesse muita flor que não se converteu em fruto, e, depois, a alternância entre chuva e calor, que propiciou bastantes doenças, como o míldio, e o escaldão da primeira semana de agosto. Perdemos muita produção”, explica o presidente da Comissão Vitivinícola Regional do Dão, Arlindo Cunha.
O antigo ministro da Agricultura sublinha, contudo, que o Dão vive um bom momento e, nos últimos quatro anos, as vendas cresceram 45%.
As vindimas no Dão ainda estão em curso. “São vindimas bastante tardias, em relação ao ano passado”, porque “houve um desenvolvimento mais tardio das videiras”.
“Estão agora a começar as vindimas das uvas brancas e prolongar-se-ão nos tintos até ao final do mês, altura em que estará concluída a maior parte das vindimas. Não é de excluir que em uvas de maturação tardia, possa ser feita a vindima por outubro adentro”, aponta Arlindo Cunha que também é viticultor
Menos, mas bom Verde
Visitámos em dia de vindima a Quinta d’Amares que agrega o antigo mosteiro de Rendufe do Século XI e Aqueduto, património desta marcante desta quinta e numa extensão de 50 hectares propriedade de José Alberto Pedrosa, 54 homens e mulheres vindimam a bom ritmo, uvas das castas Loureiro e Alvarinho, onde não se sente quebra de produção alguma, e os cachos bem docinhos e bem formados, são sinal que daqui serão vinificados vinhos de alta qualidade ou seja de qualidade excepcional.
Aqui bem perto de Braga “ a capital do vinho Verde” Francisco Ferreira o homem do campo, um jovem que aqui trabalha o ano todo e trata as videiras como um filho, e em que o proprietário, dado a sua formação em engenharia química, acompanha no seu dia a dia a vinha e a trata como um ser vivo que necessita de acompanhamento diário, tratamentos e fertilização do solo e irrigação como nos explica.
“Podemos não encontrar cachos com os habituais 1 Kg ou 800 Gr mas como vê, temos boa produção que o nossos enólogos quer o residente- Rui Sousa e o enólogo consultor António Sousa, irão transformar nos 850 mil litros de vinho, produzindo vinhos frutados, natural, fáceis de beber, ou seja o nosso Vinho Verde DOP e Vinho Regional Minho”.

Mosteiro de Rendufe
Porém a nível da região dos Vinhos Verdes, as vindimas vão ser “mais curtas”, este ano, onde é esperada uma quebra na produção na ordem dos 20%. São menos “14 a 15 milhões de litros” de vinho do que em 2017, antevê o presidente da Comissão Vitivinícola da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), Manuel Pinheiro, adiantando, ainda, que a redução vai refletir-se mais no vinho tinto do que no branco.
“Tivemos dois efeitos que tornaram difícil a vida dos agricultores: por um lado, o míldio, provocado pelas chuvas ao longo do ano, e, por outro lado, o escaldão provocado pelo calor dos últimos dias de julho”, explica.
A menor quantidade vai refletir-se no preço, que vai subir, e na remuneração dos produtores. “As primeiras adegas estão a abrir e estão a propor preços ligeiramente superiores aos do ano passado. Se, assim for, haverá alguma compensação para os agricultores”, confirma Pinheiro.
Quantidade e qualidade não andam necessariamente a par e, se a produção vai cair, o presidente da CVRVV acredita que este “vai ser um bom ano de vinho” e tudo aponta para isso. Nesta vinha que visitámos e na região a mão de obra para colher as uvas é mais que necessária e aqui não se apanham uvas mecanicamente “ são colhidas, levadas em caixas para a a adega, que fica a 10 minutos de trator e esmagadas, após o que o mosto é logo refrigerado de forma a que a qualidade da uva se traduza em excelente vinhos.
No Alentejo “há uvas boas a entrar nas adegas”
Na região do Alentejo, a vindima começou mais tarde e vai entrar pelo mês de outubro. Aqui a apanha é na sua grande maioria mecanizada e feita durante a noite. “Em termos de qualidade, as uvas estão sãs, é um ano com qualidade boa, mas em termos de quantidade é prematuro estarmos a falar disso”, adiantou publicamente, o presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), Francisco Mateus.
Até finais de julho, a CVRA esperava que a produção de vinho no Alentejo aumentasse 15% este ano, mas a onda de calor do inicio de agosto,provocou um “escaldão generalizado”, comprometendo essa meta.
Ainda assim, “há uvas boas a entrar nas adegas, de boa qualidade e isso é importante para que os vinhos do Alentejo cheguem ao mercado na forma e com a qualidade a que habituamos os nossos consumidores”.
Francisco Mateus mantém dúvidas quanto a uma eventual quebra na produção, comparativamente com o ano passado, que teve “92 milhões de litros produzidos”, em resultado de três anos consecutivos de quebra de produção. Ou seja, depois de um ano muito fraco, 2018 até pode trazer um aumento.
Com uma quota de mercado na ordem dos 40%, o Alentejo tem nos vinhos uma atividade económica de grande impacto. “Por cada dez garrafas de vinho com indicação de origem vendidas em Portugal, quatro são do Alentejo e isso é uma quota de mercado muito confortável”, refere. Aliás o vinho tem um impacto fortíssimo na nossa balança das exportações.
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