A mais antiga indústria de conservas de peixe em laboração no mundo foi fundada em 1853 e ainda hoje continua a ampliar a experiencia e o saber fazer de 5 gerações da família Ramirez. 165 anos depois, na ‘Ramirez 1853’, considerada uma das cinco melhores unidades do setor agroalimentar mundial, continua-se diariamente a honrar um nome reputado internacionalmente que já atravessou três séculos, sempre com o mesmo objetivo: colocar no mercado as melhores conservas de peixe portuguesas.
A ‘Ramirez 1853’ concentrou a produção e a história das Conservas Ramirez num só local orientado para o futuro?
A unidade ‘Ramirez 1853’ foi inaugurada há 3 anos, iniciámos a construção em 2013 e mudámo-nos em 2015. Houve várias alterações na empresa com a construção desta unidade, porque nos últimos 20 anos chegámos a trabalhar em três fábricas. Acabámos por encerrar Vila Real de Sto. António, mais tarde, Leça da Palmeira e Peniche, para concentrar tudo nesta unidade, por uma necessidade de maiores e melhores instalações, mas também para obter certificações, porque somos essencialmente exportadores.
A nova unidade veio também permitir explorar uma nova vertente, o Turismo Industrial?
Esta é, de facto, uma unidade muito inovadora. É uma fábrica com características muito avançadas. Nós achamos até engraçado, porque sendo a unidade que pertence à empresa mais antiga do mundo atualmente em laboração, conseguimos trazer um conceito muito inovador e diferenciador, porque temos uma fábrica em forma de lata. Este é o primeiro impacto ao chegar aqui. Toda a fábrica foi construída e montada sob a forma de uma lata de conservas. Isto pode ver-se nos volumes quer da parte externa, quer no interior, como na forma das salas, dos jardins ou do auditório que contribuem para o interesse geral do imóvel.
Em paralelo, trouxemos o Turismo Industrial para a empresa através da criação de uma ala museu onde juntámos todo o espólio das nossas fábricas ao longo dos anos e, depois de legendado, permitiu trazer turistas e alunos das escolas. Temos mantido esta dinâmica e tem suscitado muito interesse, porque realmente é inovador, por exemplo, encontrar uma sala que é quase uma praça portuguesa, em calçada portuguesa e onde as pessoas se sentem muito à vontade. Cada vez mais, na região do Porto, existe o conceito da visita às Caves do Vinho do Porto, que são as mais conhecidas, mas as companhias de cruzeiro que sobem o Douro contactaram-nos e trazem-nos todas as semanas visitas de turistas que acham realmente engraçado haver um setor tão tradicional numa estrutura tão moderna.
A tradição patente no design das latas da ‘Ramirez’ também atrai os turistas?
A questão que se coloca é que conservas todos fazem. Há conservas no mundo inteiro, mas as conservas portuguesas são efetivamente diferentes, porque nós temos uma cultura de fabrico de conservas de peixe secular, principalmente em atum e sardinhas, e havia a necessidade de criar aqui uma nova dinâmica.
Desde há cinco anos, paralelamente àquilo que se faz um pouco por todo o país nas lojas gourmet, com o aumento do turismo em Portugal, principalmente no Porto e em Lisboa, houve uma procura muito grande de produtos com estas temáticas. Nós sempre as tivemos, mas não lhes atribuímos o mesmo valor que alguém vindo de fora e que realmente valoriza a beleza das nossas latas. Nós tínhamos marcas desde a ‘Cocagne’, a ‘Bertrhe’, a ‘The Queen of the Coast’, a ‘Splendida’, só para nomear algumas, porque são várias, que tinham uma imagem muito bonita, algumas delas são muito antigas e suscitam grande interesse por parte daqueles que nos visitam.
A ‘Conservas Ramirez’ foi uma das primeiras empresas a exportar em Portugal. Quais são os maiores desafios nesta área ao fim de 165 anos a conquistar mercados?
A exportação continua a funcionar com bastante dinâmica, apesar da quebra na pesca da sardinha em Portugal que foi um elemento fundamental para alguma quebra nas exportações deste produto. Mas por outro lado, chegam-nos boas notícias, uma vez que a biomassa das águas portuguesas tem vindo a crescer. Isto é ótimo, uma vez que é sinal que realmente estamos a recuperar para o mercado da sardinha que é um produto bandeira nacional no estrangeiro e sempre o foi. Nós somos muito associados a vários elementos que marcam a nossa maneira de ser e de estar, o Fado, o Bacalhau, mas a sardinha também. Acho que a sardinha em conserva é um produto que acabou por vingar devido à sua ampla utilização nos tempos das Grandes Guerras na Europa, designadamente em França, na Inglaterra e na Alemanha, mas um pouco por todo o mundo também.
No caso especifico da exportação tivemos que encontrar alternativas. Sabemos das tendências de procura no mercado para os produtos biológicos, bem como da necessidade do eco-rótulo MSC, do Marine Stewardship Council que confere à pesca de cerco da sardinha portuguesa o certificado de sustentabilidade ambiental e procurámos encontrar filetes específicos de atum ou de sardinha, indo ao encontro da diferenciação que nos caracteriza face à oferta que existe de outros países, com qualidade inferior.
Em que medida o SISAB PORTUGAL tem ajudado as ‘Conservas Ramirez’ a encontrar novos mercados?
Nós estamos presentes desde a primeira edição e, para nós, crescemos em conjunto, desde o primeiro dia do SISAB PORTUGAL.
O SISAB PORTUGAL teve um desenvolvimento muito interessante, porque era uma feira focada no mercado da saudade e foi crescendo cada vez mais. No início todos tínhamos que a dinamizar e em conjunto com os nossos colegas, os participantes, a organização, criámos uma feira que eu acho que hoje em dia tem a dinâmica que era preciso manter para encontrar cada vez mais canais internacionais. Eu acho que essa exploração por parte da direção do SISAB PORTUGAL foi conseguida e hoje em dia temos realmente participantes muito especiais e sobretudo somos procurados por sermos portugueses.
Quando vamos a feiras internacionais no estrangeiro há muita oferta mundial, no SISAB PORTUGAL temos realmente o que de melhor se faz em Portugal. Isto para nós é o fator diferenciador e é muito importante.
Existe uma relação muito forte entre a portugalidade, ou a tradição portuguesa, e as ‘Conservas Ramirez’?
Nós somos a empresa de conservas de peixe mais antiga do mundo em laboração. Havia outras anteriores, mas fecharam e atualmente somos a mais antiga. Viajamos bastante e sabemos o quão apreciada é a nossa cultura e a nossa cozinha. Penso que este é uma fator muito importante para podermos continuar a fazer o nosso caminho.
O ‘Atum assado à Algarvia’ é um produto da ‘Ramirez’ há mais de 50 anos, vendemos em Portugal, mas continuamos a vender mais, e cada vez mais, no estrageiro, tal como o ‘Bacalhau em azeite e alho’, ou o ‘Bacalhau com grão’ que são produtos muito portugueses, mas que, de facto, são cada vez mais consumidos universalmente. Já não estamos a falar apenas das comunidades portuguesas no estrangeiro, mas de clientes que nos pedem, com as suas próprias marcas internacionais, em vários países.
Acho que o caminho da diferenciação portuguesa, obviamente associado à grande quantidade de turistas que visitam Portugal atualmente, de facto levam Portugal lá para fora.
Aparecem aqui pessoas que estiveram em outros locais do país onde contactaram com os nossos produtos e perguntam-nos onde é que podem encontrar determinados produtos nos seus países de origem, desde a Hungria, à França, aos Estados Unidos ou até da Austrália.
Nós temos tido essa faculdade, em nos trazerem aqui as pessoas, mas todos aqueles que visitam o nosso país tornam-se embaixadores muito importantes para todos os produtos portugueses.
Os hábitos de consumo de conservas mudaram?
Completamente. É óbvio que há sempre produtos de base como o atum ou as sardinhas em óleo, ou em tomate, que são a base da nossa alimentação em conserva portuguesa, tal como no estrangeiro.
Aquilo que eu vejo, uma vez que temos uma loja aberta na fábrica, que cada vez cresce mais, é que a visitação é muito feita, hoje em dia, para além dos turistas, pelos nossos conterrâneos que adquirem as caixas especiais, com os lotes especiais e fazem disso uma oferta. Eu próprio estou a fazer isso e com grande satisfação, porque sei que as pessoas ficam realmente agradadas. Uma caixa de conservas bonita faz hoje toda a diferença e acho que as nossas estão muito bem conseguidas.
A inovação continua a desempenhar um papel importante nas ‘Conservas Ramirez’?
Nós lançamos dois a três produtos por ano, não querendo isto dizer que mantenhamos todos em produção, alguns acabam descontinuados, mas há sempre produtos que avançam. As gamas alargam-se. Nós temos hoje mais de 60 produtos entre a gama Ramirez e as outras marcas. A grande mais-valia de uma conserva, além do paladar e da inovação que lhe está associada, é que é um produto com uma segurança total.
Por outro lado temos uma vantagem económica, porque é um produto que na maioria dos casos é vendido abaixo de 1 euro e isso também é algo que, com a desvalorização das moedas e com as dificuldades que o mundo atravessa, faz das conservas cada vez mais uma solução para os lares de todo o mundo.
O futuro é promissor…
Nós temos muitos anos. Obviamente que haverá sempre evolução e poderá haver sempre mais cuidados. Os produtos biológicos estão em franco crescimento, poderemos sempre fazer algum tipo de restyling nas embalagens, mas eu acho que as bases ficarão sempre. Nós temos 165 anos de conservas e as bases ficaram para sempre.
O ‘Atum em azeite’, o ‘Atum em óleo’ ou as sardinhas ficarão sempre, até porque a conserva é um bem extraordinário. Não tem qualquer tipo de conservantes ou corantes. Estamos a falar de peixe em óleo, ou tomate, que é fechado, esterilizado e está pronto. É uma refeição fantástica e com uma validade muito longa. Quando abrimos uma lata de conservas Ramirez, passado 10 ou 15 anos, ela está em perfeitas condições, sobretudo com o alumínio que usamos hoje para construir as latas.
A ‘Ramirez 1853’ é também um espaço criado a pensar na sustentabilidade ambiental?
Esta unidade, para além de toda a inovação ao nível industrial, de robótica e arquitetónica tem toda uma vertente ecológica que para nós é muito importante. Atualmente estamos a aproveitar a totalidade das águas pluviais que caem nos telhados. Temos um nível freático altíssimo, porque escolhemos um local onde houvesse água em abundancia, que é fundamental para esta indústria. Podemos trabalhar com gás ou com fuel, mas estamos a funcionar há 3 meses apenas com biomassa das nossas caldeiras, neste caso de caroço de azeitona.
Para além disto, a iluminação da fábrica é também o mais verde possível, de maio a dezembro dispomos de luz direta que é projetada por tubos solares. Temos a capacidade de criar um ambiente muito bom, com luz que não sofre alterações de calor ou de frio, é atérmica, o que nos dá uma qualidade de trabalho muito grande.
Aliado a isto temos também a permutação de calor, a utilização das nossas máquinas permite-nos durante a noite transferir energia acumulada para o sistema de descongelação de peixe.
Temos uma série de vertentes ecológicas e muito verdes que vão ao encontro daquilo que se procura hoje.
Devo referir que é para nós um orgulho, um reconhecimento do nosso árduo trabalho, termos sido considerados no ano passado, por auditores ingleses, uma das 5 melhores unidades agroindustriais no mundo. Para a ‘Ramirez’ é um orgulho e penso que para Portugal também o será com certeza.