A Ponte Vasco da Gama facilitou o acesso a Lisboa e, em 20 anos, duplicou a população residente nos concelhos da margem Sul, mas o presidente de Alcochete lamenta que as infraestruturas não tenham acompanhado o aumento dos habitantes.
Antes de 29 de março de 1998, chegar a Lisboa de Alcochete ou do Montijo, onde residem muitos trabalhadores que se deslocam diariamente para a capital, demorava entre uma a duas horas de carro.
Do Montijo, o trajeto para Lisboa era essencialmente de barco, mas de carro a solução era ir a Almada apanhar a Ponte 25 de Abril.
“Levávamos cerca de uma hora, uma hora e tal”, sem filas, disse Nuno Canta, presidente da Câmara do Montijo (PS).
Agora, “numa situação perfeitamente normal, em 20 minutos ou meia hora estamos em Lisboa”, salientou Fernando Pinto, presidente de Alcochete (PS), realçando que a ponte trouxe aos residentes neste concelho “maior conforto financeiro, porque gastam menos combustível, e maior qualidade de vida”.
A Vasco da Gama mudou a centralidade dos dois concelhos e isso levou a que um ‘boom’ populacional se mudasse para a margem sul. Ambos os concelhos praticamente duplicaram a população em 20 anos.
A ponte “trouxe-nos mais pessoas, mais investimento, mais emprego e obviamente maior desenvolvimento”, considerou Nuno Canta.
Apesar de muitos se terem radicado e criado emprego no concelho, a maior parte dos que vieram para o Montijo trabalham em Lisboa e “em empregos muito qualificados”.
“Até porque a nossa base, o chamado rendimento ‘per capita’ do Montijo, subiu exponencialmente após a ponte. Temos gente muito qualificada, a trabalhar em empregos muito qualificados em Lisboa, que depois tem rendimentos muito altos, que fez com que depois aumentasse o rendimento ‘per capita’ do Montijo. Somos já o quarto [concelho] ao nível de Lisboa”, afirmou.
“Eu tenho dito sempre que sempre que o Montijo se aproxima de Lisboa cresce, sempre que o Montijo se afasta de Lisboa, diminui. Essa tem sido sempre a sina da cidade, basta olhar para a história”, disse, realçando a ligação histórica centenária entre o seu concelho e a capital, através do rio.
Em Alcochete, Fernando Pinto, autarca desde outubro, realçou que, apesar de muito positiva, a ponte também trouxe “preocupações acrescidas”.
Na Educação, como a população praticamente duplicou, “não houve dos anteriores executivos um acompanhamento no que diz respeito aos estabelecimentos de ensino que são responsabilidade da câmara municipal e até do Governo central”.
“No que diz respeito à Saúde a mesma coisa, um centro de saúde sem atendimento permanente, que tem uma equipa médica reduzida, instalações a precisar de intervenção e não acompanhou as necessidades do aumento da população”, destacou, somando ainda as condições dadas aos elementos de segurança.
Ambos os autarcas concordam que a Ponte Vasco da Gama é “um marco da engenharia portuguesa”, “um monumento da região de Lisboa”, “uma obra que orgulha”.
“Também trouxe mais tráfego e mais trânsito à cidade, além de ter de se conter o ímpeto urbanístico, o que no Montijo foi bem feito. Acho que temos uma parte mais ordenada que cresceu com a Ponte do que a parte que já existia”, considerou Nuno Canta.
As duas localidades consideram que não perderam as respetivas identidades e tentaram a integração dos novos residentes nas tradições e cultura locais.
No Montijo, os filhos dos residentes que vieram com a Ponte aprendem nas escolas a história e a cultura do concelho, “para ajudar na sua ligação à terra”.
Nem as preocupações ambientais aquando da construção da ponte, segundo o autarca de Alcochete, se justificaram, salientando a requalificação das Salinas do Samouco.
“Na altura havia uma preocupação generalizada, sobretudo ao nível dos ambientalistas, na questão de aves, com particular incidência para a questão dos flamingos, mas o que é certo é que hoje a própria população de flamingos quase que duplicou em relação à que existia o que veio provar que a Ponte Vasco da Gama não é inimiga dos flamingos”, destacou.
(LUSA)