O Terreiro das Missas em Lisboa a “dois passos” da Presidencia da República – Palácio de Belém e virado ao rio, foi o local onde foi colocada, numa cerimónia que juntou vários embaixadores, o embaixador do Canadá, em Portugal o escultor e o Presidente da Câmara que usaram da palavra tem sido muito visitada , dadao ser uma obra de arte diferente e que nos remete para a cultura indígena
É uma escultura com cerca de dois metros de altura, de bronze, que nos remete para a cultura india” referiu ao nosso jornal que integra a representação da pesca do bacalhau — que aproximou durante séculos portugueses e canadianos –, eventualmente sob a forma de lobos e baleias assassinas” salientando , que na mitologia Salish, que povoa o imaginário de Luke Marston, “são o mesmo ser”. Salientou que “quando penso em família e no oceano, penso sempre no lobo e na orca. Ambos viajam em grupo, em família. Na nossa cultura acreditamos que a entidade do lobo e da orca é a mesma. São o mesmo ser. Viajam, caçam quando estão em terra e se a família desce das montanhas para a água transformam-se em orcas e caçam na água. Ocorre-me essa mitologia”, referiu Marston.
Fernando Medina, presidente Câmara de Lisboa; encerrou a cerimónia destacando este gesto de amizade de Portugal com o Canadá e salientou a visita do Primeiro Ministro de Portugal ao Canadá e o reatamento das relações históricas expressadas ao primeiro ministro canadiano , que nos unem, felicitou o autor da obra pela forma e pelo que ela significa “ o tema do mar é algo que nos une, que faz parte da identidade cultural dos dois povos “ comunidades de pescadores de aventureiros, que descobriram no mar a forma de ir mais além e de encontrar outros mundos. Esta peça tem também um segundo significado – é que o autor conta-nos através dele próprio, a incrível história da emigração e dos migrantes, Luke descendente de um português açoriano, que no Século XIX vai para o Canadá e depois do Canadá vai para os EUA e , depois regressa ao Canadá e cujo seu trineto regressa a Portugal para nos deixar uma obra destas e isto é marcante e diz muito, particularmente no tempo em que vivemos, e nessa Lisboa uma cidade aberta, cosmopolita, tolerante, ter aqui uma obra de um canadiano, descendente de origens portuguesas, tantos anos depois tem também este significado, de dois países que tem feito da abertura e da tolerância, uma marca essencial da sua politica interna e externa”
O Canadá assinalou este ano os 150 anos da proclamação da independência e as suas missões diplomáticas em todo o mundo estão a preparar uma série de eventos culturais.
Portugal não é exceção e a instalação daquele trabalho — entre uma série de acontecimentos culturais previstos para decorrer ao longo do ano – é o melhor corolário do exemplo da relação que une os dois países, de acordo com o embaixador canadiano em Lisboa, Jeffrey Marder.
O escultor Luke Marston, trineto de Joe Silvey, baleeiro açoriano apresenta a sua obra (foto António Freitas/MP)
“Queremos aproveitar este aniversário para marcar a presença canadiana em Portugal continental e nos Açores e celebrar com os portugueses esse momento importante” do nascimento de um país, cujo “crescimento assenta desde a sua origem na diversidade”, começou por sublinhar Marder.
“Somos um produto da mistura, da diversidade, temos duas línguas oficiais, o inglês e o francês, e uma série de línguas indígenas, para além de que, ao longo dos 150 anos do estabelecimento do Canadá como país, crescemos através da imigração, o que criou um Canadá ainda mais diverso, povoado por pessoas dos quatro cantos do mundo”, afirmou.
“Vemos na diversidade uma força e também uma riqueza económica”, disse ainda Jeffrey Marder, antes de reconhecer que, não obstante, a relação entre o Estado canadiano e os seus povos ou populações nem sempre foi exemplar, sobretudo no que diz respeito às nações indígenas.
“Temos muito orgulho na nossa história, mas temos que admitir que houve episódios no passado que não foram bons. A relação com os povos indígenas não foi sempre muito positiva. Originalmente, não eram tratados como cidadãos com direito de voto, etc. A reconciliação entre o Governo do Canadá e os povos indígenas, que também são canadianos, é muito importante para reconhecer os erros do passado e procurar maneiras de crescer cultural, politica e economicamente juntos, como canadianos diversos”, rematou Jeffrey Marder, cumprimentando o senhor presidente da Câmara de Lisboa, a vice-presidente Catarina Vaz Pinto, com o pelouro da cultura, a presidente do Grupo parlamentar Portugal/Canadá na Assembleia da República, os colegas embaixadores e representantes da missões diplomáticas dos países “irmãos das américas”; à junta de freguesia de Belém “ há dois anos atrás iniciámos este projecto artístico, concebido originalmente como uma oferta do Canadá, através da sua embaixada a Portugal e à cidade de Lisboa, para marcar os 150 anos do Canadá.

O embaixador do Canadá em Portugal Jeffrey Marder e o escultor Luke Marston, trineto de Joe Silvey, baleeiro açoriano(foto António Freitas/MP)
Quero expressar os meus agradecimentos profundos à Câmara de Lisboa, e há um ano quando tivemos um reunião importante com Catarina Vaz Pinto, o apoio da Câmara foi fundamental para hoje estarmos aqui, neste local magnifico à beira do rio e à vista do Palácio de Belém e daqui avisto os guardas do palácio, que sei que vão permanente olhar pela segurança desta obra de arte, agradeço aos arquitectos e aos patrocinadores da obra. Os temas desta obra são indígenas e outro tema destas celebrações dos 150 anos é, a diversidade e Luke Marston é um luso descendente, o seu trisavô emigrou, dos Açores quando tinha dois anos, para o Canadá. Neste contexto, a história de Joe Silvey – ou do açoriano José ou João Silva – oferece um exemplo raro de boa convivência, de integração, da miscigenação entre os povos autóctones, hoje canadianos, e os colonos que começaram a chegar em força ao país na segunda metade do século XIX”
Depois de Vancouver onde Luke Marston é autor de uma estátua em bronze com cinco metros de altura, exposta no Parque Stanley, em Vancouver, desde abril de 2015, que conta a história de Silvey, seu trisavô, e da sua família, exemplo notável de um “casamento” raro entre duas culturas, sem domínio nem segregação, que hoje serve de exemplo à política de “reconciliação” promovida pelo Governo canadiano.
Sobre a obra
O “cod lure” era uma ferramenta tradicional de psca do bacalhau que era colocada no fundo do oceano e depois girava ao subir à superfície, atraindo dessa forma o bacalhau, que era depois apanhado pelos pescadores que esperavam com lanças nos rochedos ou nas suas pirogas. A sua beleza, bem como a sua elegância da forma e do conceito, foram as razões que levaram Luke Martson a criar a peça. O isco do bacalhau presta homenagem ao prato tradicional de Portugal e serviu de inspiração para a escultura de cinco metros que criou em Stanley Park, na cidade de Vancouver. Conta, refere “ a história do meu trisavô, Jose Silva, natural do Pico, que viajou para o Canadá num baleeiro no início do Século XIX. O meu bisavô casou-se com um indígena chamada Phqaltinat com quem teve dois filhos, tendo a sua mulher falecido ainda nova. Mais tarde voltou a casar-se com a minha trisavó e teve mais 9 filhos (seis filhos e três filhas) “Sea Wolf”, ou lobo marinho, é uma lenda de transformação e perseverança. Esta peça regista “ ilustra a intenção do Canadá de construir uma melhor relação com os sues Povos Indígenas. O país procura, assim, modificar a perceção que o mundo tem sobre estes povos. Somos um país de grande diversidade, com ilhares de tribos e nações diferentes, cada uma delas com tradições, idiomas e modos de vida próprios. Sobrevivemos e fomos capazes de nos adaptar nos últimos 200 anos sombrios de internato indígenas e de colonização do Canadá. O “Sea Wolf” é um caçador e o sustento da sua família; viaja em grupo e assume alternadamente a forma de lobo e orca, tanto como caçador na terra como no oceano. Esta peça apela à ligação das famílias à terra, montanhas, rios e oceanos, bem como à nossa responsabilidade, por respeito a todos os seres vivos, na sua preservação.
Luke é filho de escultores
Os pais de Luke, são ambos escultores e nasceu na Ilha da Vancouver, na Colúmbia Britânica e em 2015 inaugurou a sua peça mais icónica no Stanley Park em Vancouver. Este projecto teve como inspiração as suas raízes Coast Salish e portuguesas. Tem expostas várias obras no mundo e já recebeu a medalha do Jubileu de Diamante da Rainha Isabel II em 2012, em reconhecimento da sua contribuição para as artes
Um homem do mundo com uma história incrível que a partir de agora tem uma estátua em Lisboa, no Terreiro das Missas.
José Silva, ou Joe Silvey, nasceu na Calheta de Nasquin na Ilha do Pico, caçou baleias, e a vida levou-o para a Colúmbia Britânica em 1860.
A memória histórica do português Joseph (Joe) Silvey está diretamente relacionada com o respeito dos povos indígenas, já que ó açoriano foi defensor das populações locais, tendo casado duas vezes com índias.
José Silva nasceu na ilha do Pico, entre 1830 e 1840 e começou cedo, com apenas 12 anos, nos altos mares na caça a baleia. De acordo com a biografia «The Remarkable Adventures of Portuguese Joe Silvey» (A Extraordinária Aventura do Português Joe Silvey), escrita por Jean Amit Barman, o açoriano chegou à Colúmbia Britânica por volta de 1860 num barco baleeiro e decidiu ali fixar-se e tentar a sua sorte na corrida do ouro, que estava no auge.
Além de ensinar os indígenas a fazer redes para apanhar o peixe, obteve a primeira licença de pesca naquela província, abriu um dos primeiros bares (‘saloons’) e uma loja com material para os mineiros, em Gastown, onde se localiza Vancouver.
Na altura, havia na região apenas cerca de 300 europeus, mas com a corrida do ouro, o número rapidamente subiu para 30 mil imigrantes ocidentais.
João Silva foi o primeiro europeu a viver onde está hoje localizado o Stanley Park, há cerca de 150 anos. E se hoje o Canadá é apontado como um exemplo de um país multicultural, há pouco mais de 150 anos atrás a miscigenação não era uma realidade. Mas Joe Silvey não se importou: casou com duas nativas, e protagonizou o primeiro casamento entre um aborígene e um não aborígene em Vancouver.
A primeira mulher foi Khaltinaht, neta do respeitado chefe Musqueam Kiapilitanom, com quem teve duas filhas. Após a morte da cônjuge pouco depois do nascimento da segunda filha, voltou a casar-se com uma segunda nativa, Kwahama Kwatlematt, tendo mais nove filhos. Para proteger a sua família, já que a miscigenação não era bem vista pelos conservadores europeus, Silvey comprou a ilha de Reid, tendo levado para lá a esposa e os filhos. Cerca de 150 anos depois, os seus descendentes perfazem já perto de um milhar de pessoas na costa oeste.
Em 1867 tornou-se no primeiro cidadão Luso-canadiano. Viveu em Brockton Point, a actual Stanley Park.
Faleceu em Reid Island a 17 de Janeiro de 1902. As suas aventuras deram origem a um documentário televisivo e ao livro «The Remarkable Adventures of Portuguese Joe Silvey».
Oficialmente, há 429 mil portugueses e lusodescendentes no Canadá (census 2011), mas calcula-se que existam cerca de 550 mil, estando a grande maioria localizada na província do Ontário. Na Colúmbia Britânica vivem cerca de 25 mil portugueses e lusodescendentes, a grande maioria encontra-se em Vancouver e arredores, existindo também importantes comunidades em Kitimat e no Vale do Okanagan.
ANTÓNIO FREITAS ( TEXTO E FOTOS e VIDEO COM MONTAGEM DE CARLOS CASIMIRO)