“Fomos uma das entidades que massificamos, ajudamos e ensinamos o país a beber vinho”

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A Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz conta com cerca de 900 associados, tem produzido vinhos e azeites que passaram a ser sinónimo de excelência nos mercados mais exigentes.

A CARMIM – Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz foi criada em 1971 por um grupo de 60 viticultores com o objetivo de produzir e comercializar o vinho proveniente da uva das suas produções. Contando hoje com cerca de 900 associados, a CARMIM tem produzido, ao longo destes anos de história, vinhos e azeites de qualidade, os quais passaram a ser sinónimo de excelência nos mercados mais exigentes. A empresa lidera também no mercado nacional no segmento dos vinhos de qualidade. Os vinhos da CARMIM têm sido distinguidos com mais de 600 prémios em vários concursos nacionais e internacionais de referência, como referiu Miguel Feijão, presidente do Conselho de Administração da CARMIM, nesta entrevista.

Como define a CARMIM?
A CARMIM é reconhecida em Portugal e pelo mundo como sendo a maior cooperativa do Alentejo e uma das maiores cooperativas no setor do vinho em Portugal. Embora haja duas ou três cooperativas que colhem maior volume de uvas do que nós, é a CARMIM que tem o maior volume de vendas no país em termos de vinho engarrafado.

Como é que caracteriza os vinhos da CARMIM?
São vinhos do Alentejo e a própria região é hoje, como é sabido, uma região nobre na produção de vinhos.
Há alguns anos falava-se do Douro, antes falava-se do Dão, o Oeste continua a valer em termos de grandes produções, mas o Alentejo, pela quantidade de horas de sol, pelos solos que tem e pela forma como vamos tendo cada vez mais resolvido o problema da falta de água é uma região nobre para a produção de vinhos.

Este ano viram mais dois dos vossos vinhos premiados internacionalmente?
A CARMIM está a comemorar mais uma conquista. O vinho Reguengos Reserva dos Sócios 2014 recebeu a Grande Medalha de Ouro e o Monsaraz DOC tinto 2017 foi premiado com a Medalha de Ouro no Sélections Mondiales des Vins Canadá, trata-se do principal concurso de vinhos da América do Norte e foi realizado no Quebec, Canadá.

O Plano de Regadio de Reguengos de Monsaraz vai ajudar a produzir mais?
Sem dúvidas. A CARMIM, sendo uma empresa de grande dimensão no setor do vinho, é também uma empresa de grandes produções. Em 2014 colhemos 23 milhões de quilos de uva, em 2015 mais de 21 milhões de quilos, em 2016, colhemos 17.5 milhões de quilos e em 2017 colhemos cerca de 15 milhões de quilos de uva.
Temos vindo a reduzir a quantidade de quilos de uva que colhemos sem termos menos vinha. A uva e o vinho têm como elemento fundamental para viverem bem, até ao fim, e se criarem, reproduzirem, atingindo as suas condições de boa produção, a necessidade de água, esse é um fator fundamental.
Temos lutado por isso, eu próprio ainda antes de pertencer aos órgãos sociais da CARMIM, iniciei com mais alguns agricultores aqui de Reguengos de Monsaraz, em 2010, uma série de encontros e reuniões, quer com as instâncias locais, quer com os poderes públicos, quer com a própria EDIA, no sentido de conseguirmos que um projeto de extensão do Plano de Regadio do Alqueva, que estava à data estipulado, avançasse também para o concelho de Reguengos de Monsaraz.
Isto hoje em dia é um facto consumado, o projeto existe. Está neste momento em estudo de impacto ambiental, uma vez que já tem o financiamento garantido pelo Banco Europeu de Investimento. Uma vez terminado o Estudo será lançado o concurso internacional sendo provável que, em 2022, possamos dizer que temos água suficiente para regar as nossas vinhas. A partir dai, cada um jogará com a capacidade e o saber que tem.
Temos perspetivas de a médio prazo podermos ter uma produção que, independentemente de outras condições climatéricas, como o calor, se tivermos 40 dias com 40 graus, como tivemos no ano passado, não há agua que salve a uva, mas, em princípio, tendo água suficiente e tendo um clima favorável, empenhando a tecnologia que temos na Adega, tendo o saber que os nossos viticultores associados têm, com a ajuda de bons técnicos, nós seremos capazes de produzir vinho com qualidade e em quantidade, capaz de satisfazer todo o país e exportar.
Nós exportamos cerca de 25 por cento daquilo que produzimos.

Em que mercados estão presentes?
Neste momento o nosso principal mercado para exportação é o Brasil. Estivemos cerca de um ano parados em Angola, devido ao problema das divisas. Em 2016 não vendemos para Angola, mas retomámos em 2017, de alguma forma recuperámos a nossa relação com o país através de outros operadores e tem corrido muito bem este ano.
Exportamos alguma quantidade para os Estados Unidos e exportamos em grande dimensão para a Europa. A Europa é o nosso ‘mercado da saudade’, não são os franceses que estão a beber o nosso vinho, embora alguns também o provem. Na Suíça, no Luxemburgo ou na Alemanha já são outras pessoas, não é só o mercado da saudade.

barricas de vinho na CARMIMPode-se dizer que a CARMIM foi também uma das empresas que ajudou a promover o consumo de vinho engarrafado em Portugal?
Não há duvidas que fomos uma das entidades que massificámos, ajudámos e ensinámos o país a beber vinho. Ainda hoje, no norte do país, muitos restaurantes têm como vinho da casa as nossas referências ‘Terras d’El-Rei’ e ‘Reguengos’, porque há 30 anos atrás eramos dos poucos ‘players’ do mercado com capacidade em volume e em quantidade para, onde quer que nós chegássemos, as pessoas gostarem e ficarem a ser consumidores fiéis do nosso vinho. Isso aconteceu durante muitos anos. Hoje em dia nos supermercados encontramos as marcas CARMIM e encontramos outras 500 marcas, mas alguém abriu esse caminho.
Nos anos 90, 2000 a vinha no Alentejo foi considerada a árvore das patacas e deu-se uma caminhada em tudo semelhante à procura do El Dourado da Califórnia e proliferaram por ai adegas privadas pequenas, algumas ainda existem, umas tiveram sucesso, outras nem por isso, mas nós continuamos aqui e continuamos no mercado como estávamos antigamente com a nossa capacidade e com a nossa qualidade.
Se comercialmente formos capazes de estar no mercado como os outros, certamente a ‘CARMIM’ irá durar muitos anos e irá ter retorno para os seus associados.

Qual o objetivo da construção da Central Fotovoltaica inaugurada este ano?
Nós temos as nossas instalações espalhadas por 8 hectares, cerca de 80 mil metros quadrados de terreno. Estamos dotados de vários pavilhões, cada um com a sua valência e cada um tem a sua importância dentro da CARMIM. Tínhamos uma fatura anual de cerca de 250 mil euros de eletricidade, tal como algumas dezenas de milhares de euros em despesas com água, começámos por reduzir na despesa da eletricidade.
Embora possamos anunciar que diminuímos a pegada ecológica e que tivemos uma atitude louvável perante a sustentabilidade ambiental, o nosso objetivo principal foi reduzir a despesa com eletricidade.
Não fizemos a central fotovoltaica apenas porque somos amigos do ambiente, fizemos a central para poupar dinheiro na eletricidade e para sermos autossustentáveis. Trata-se de uma central fotovoltaica de consumo direto, não temos sequer baterias.
Hoje somos autónomos em termos de produção de eletricidade. É preciso frisar bem que a Central Fotovoltaica tem como objetivo principal a nossa sustentabilidade económica e, por consequência, a nossa sustentabilidade ambiental.

E a aposta no Enoturismo?
O Enoturismo é ainda uma atividade de pequena dimensão, porque nós não somos uma entidade privada, ou um produtor privado, não houve nenhuma decisão para criar as estruturas do Enoturismo.
Nós temos tentado, muito timidamente, investir no enoturismo para nos dar mais visibilidade e criar mais apetência para as pessoas que nos visitam. Ainda hoje as pessoas visitam-nos mais pela grandiosidade industrial, do que pela beleza da paisagem que temos para lhes mostrar.
Estamos, a pouco e pouco, a associar também a paisagem, a vinha, o campo, Monsaraz, a Barragem do Alqueva que tem atraído muitas pessoas a Reguengos, e nós vamos tentando atrai-las à ‘CARMIM’ mostrando a adega por dentro, as caves e a nossa capacidade de armazenamento, envelhecimento e tratamento dos vinhos. Terminamos sempre com uma prova de vinhos que as pessoas apreciam bastante, onde podem também adquirir os vinhos que provaram, mas representa ainda uma pequena parcela da nossa atividade.
Temos intenções de, gradualmente, somar pequenas parcelas e queremos, tal como outros, vir a ter uma componente forte de Enoturismo. Claro que temos que associar mais alguns fatores que não só uma visita à adega.
Não é fácil dizer aos nossos associados que vamos pagar menos 1 cêntimo que seja por quilo de uva para gastarmos 500 mil euros na melhoria do projeto de Enoturismo. Esta é uma das dificuldades que encontramos.

Pode-se considerar que existe um novo posicionamento estratégico em relação aos azeites ‘CARMIM’?
Na ‘CARMIM’ a produção de azeites é tão antiga como a produção de vinhos.
Em 1971 constituímos a ‘CARMIM’ em termos de adega e em termos de lagar. Durante alguns anos ainda trabalhámos com um lagar à antiga, depois modernizámos o nosso lagar de extração de azeites a frio, o que permitiu extrair azeite virgem extra. Nós temos uma envolvência de olivais antigos, alguns milenares, muitos olivais centenários onde perdura a variedade galega, muito própria desta região. Os nossos azeites têm a qualidade própria da azeitona galega que tem características especiais para criar grandes azeites. Apesar de não serem os azeites que hoje as pessoas procuram nos supermercados, muito amargos e até de difícil degustação, são azeites suaves, amendoados, próprios da azeitona galega.
Quando entrámos, há quatro anos, o azeite era quase todo vendido a granel e em garrafões de 5 litros, mas nós resolvemos criar referências que têm a ver com a qualidade, com o aspeto e com a essência que os azeites demonstram. Criámos uma variedade gourmet, concebemos garrafas de 75cl, criámos o galheteiro que tem alcançado bastante êxito no mercado da restauração. Ao mesmo tempo criámos um vinagre de vinho tinto para acompanhar o azeite no galheteiro.
No fundo alterámos a nossa forma de olhar para o negócio do azeite. Anteriormente era fazê-lo e vendê-lo, agora criamos mais valor e levamo-lo para o mercado indiciando as pessoas e demonstrando a qualidade que ele tem. Este facto fez com que o valor médio por quilograma de azeite seja agora muito mais elevado do que aquele que tínhamos anteriormente. Era um produto secundário e é hoje, para nós, a nossa joia da coroa.

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