Era um antigo palacete desabitado, mesmo ao lado do afamado Templo Romano, de Évora. Agora é uma unidade hoteleira para cientistas, investigadores e artistas, num conceito inovador em Portugal.
O novo hotel de Évora destina-se ao conceito de turismo científico, inspirado no ambiente de Oxford e Cambridge, Inglaterra. O projeto é de um investigador e professor da Universidade de Évora.
Segundo Miguel Bastos Araújo o seu objetivo é aproveitar “uma cidade fantástica” e com “uma dinâmica científica crescente e interessante” e dotá-la de infraestruturas para “competir com Oxford e Cambridge”.
“Sempre achei que Évora estava para Lisboa como Cambridge e Oxford”, centros universitários ingleses, “estavam para Londres”, compara o cientista, também investigador do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid (Espanha) e especializado nos impactos das alterações climáticas na biodiversidade.
Na cidade com a segunda mais antiga universidade de Portugal, diz, há “potencial” para o turismo científico, em que as pessoas viajam para trabalhar durante alguns meses, para locais onde encontrem colegas, mas “falta desenvolver” este conceito, até no país.
Com raízes em Évora, onde passou a adolescência, e tendo vivido e trabalhado em vários países do mundo, Miguel Araújo já “alimentava” há anos esta ideia de replicar na cidade o ambiente de retiro científico que encontrou nesses locais.
A oportunidade “bateu à porta” quando se deparou com um antigo palacete, a escassos 80 metros do Templo Romano e devoluto há 30 anos, que comprou, recuperou e fez agora “renascer” como Casa Morgado Esporão – Residência das Artes, Ciências e Humanidades.
“Esta casa lembrou-me um bocadinho os ‘colleges’ de Oxford, onde as pessoas fazem umas estadias, umas sabáticas, até vivem lá, e que são espaços muito agradáveis, que incentivam a criatividade”, recorda.
O imóvel “reflete um bocadinho a história de Évora”, com elementos construtivos desde o século XIV ao século XIX, e foi recuperado, num investimento de 1,5 milhões de euros, graças a um projeto da empresa Science Retreats, de Miguel Araújo, a fundos comunitários.
Uma casa “repleta de cientistas”
Com 1.700 metros quadrados de área coberta e dotada de jardim, piscina e pátio, a unidade já está a funcionar parcialmente desde julho de 2017 e abriu totalmente em fevereiro.
“No total são 13 apartamentos, todos com sala, copa e quarto, alguns com possibilidade de alojar três a quatro pessoas”, mas “a maioria para duas”, e com “um serviço muito personalizado”, explica Ana Clara Meireles, a diretora da Casa Morgado Esporão.
O espaço, que foi residência, no século XV, do 4º Morgado do Esporão, Álvaro Mendes de Vasconcelos, “figura central da corte” do rei D. João III, tem “elementos arquitetónicos e decorativos notáveis”, como frescos e pinturas murais, a par de comodidades próprias do século XXI, segundo a Sicence Retreats.
As “mentes criativas”, como lhes chama Miguel Araújo, que por ali têm passado, não procuram as “comodidades tradicionais de um hotel”.
Desejam antes “um prolongamento do que é a sua casa”, enfatiza Ana Clara Meireles.
A unidade já acolheu “altos quadros da indústria tecnológica” da cidade, investigadores espanhóis em estadias sabáticas ou um casal de norte-americanos que ficou “três meses e meio”, enquanto escrevia um livro: “E sempre que há um congresso em Évora”, a casa fica “repleta de cientistas”, conta a diretora.
Apesar de aberto a qualquer pessoa, o palacete, nesta sua “nova vida”, quer mesmo é atrair os mercados especializados das artes, ciências e humanidades, aos quais oferece diversas outras valências, como sala para ações de formação, ‘wine bar’ que se transforma em auditório, exposições e espetáculos.
“Para Évora é importante” este projeto, argumenta o promotor, argumentando que, fala-se “muito de novos modelos de desenvolvimento”, mas, para “replicar uma Califórnia na Europa não basta criar polos tecnológicos”. As pessoas criativas “são mimadas” e, por isso, é também preciso “criar a vontade de essas pessoas se deslocarem a esses sítios”.
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