O padre Manuel Formigão é figura central na investigação e divulgação das Aparições na Cova da Iria
O papa aprovou a publicação de um decreto que abre caminho à beatificação do sacerdote português Manuel Formigão, figura central na investigação e divulgação das Aparições na Cova da Iria.
O papa Francisco teve uma audiência com o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, o cardeal Angelo Amato, autorizando a promulgação do decreto que reconhece as virtudes heroicas do sacerdote diocesano Manuel Nunes Formigão, fundador da Congregação das Irmãs Reparadoras da Nossa Senhora de Fátima.
Segundo a agência Ecclesia, este é um passo central no processo que leva à proclamação de um fiel católico como beato, penúltima etapa para a declaração da santidade; para a beatificação, exige-se o reconhecimento de um milagre atribuído à intercessão do agora venerável Manuel Formigão.
Manuel Formigão nasceu em 01 de janeiro de 1883 em Tomar. Este tomarense, nascido no primeiro dia de 1883, foi – nas palavras de D. Manuel Mendes da Conceição – “uma trombeta de Deus”.
O seu pai era oficial do exército e vivia no convento de Cristo numa área para oficiais. Manuel Formigão fez os estudos superiores, em Roma, e foi ordenado presbítero naquela cidade italiana a 4 de abril de 1908, após ter estudado Teologia e Direito Canónico.
Laureado em Teologia e Direito Canónico pela Universidade Gregoriana, Manuel Formigão regressou a Portugal em agosto do ano seguinte à ordenação. Na viagem para a sua pátria natal fez uma paragem em Lourdes (França) e, aos pés da Virgem comprometeu-se a divulgar a devoção mariana, em Portugal.
No mês de outubro de 1910 caía o Antigo Regime e implantava-se a República no nosso país. Durante anos, em virtude dos movimentos revolucionários e da perseguição desencadeada contra a Igreja, não se puderam realizar peregrinações aos santuários estrangeiros. O padre Manuel Formigão só voltaria ao Santuário francês em 1914 para participar no Congresso Eucarístico Internacional.
A atração pelas aparições de Fátima
Quando ouviu falar das aparições na Cova da Iria a três crianças tomou duas atitudes continuadas: a de não ligar importância ao assunto, mas que o facto deveria ser estudado, dado verificar-se uma afluência sempre crescente ao local das aparições.
A imprensa liberal – ‘O Século’ e o ‘Diário de Notícias’ – relatavam os acontecimentos de Fátima. No entanto, ao saber da prisão dos pequenos pastores (agosto de 1917), falou do assunto ao cardeal patriarca de então e chegou à conclusão que deveria observar o fenómeno no local.
O desejo de ir ao local no mês de setembro estava generalizado em quase todo o país e o mesmo acontecia com o cónego Formigão.
Numa crónica de 11 de Outubro de 1917, o jovem padre relata no jornal ‘A Guarda’ o que presenciou: “Cedendo a um sentimento de curiosidade, justificada por factos tão extraordinários, embora sem lograr vencer de todo a repugnância que sentia em fazê-lo, pelo receio de parecer dar importância excessiva ao que talvez não passasse duma ridícula superstição, resolvi partir para Fátima, juntamente com alguns amigos”.
Não se aproximou muito do local das aparições e “apenas constatei a diminuição da luz solar”. Ele próprio confessou: “regressei de Fátima mais céptico, apesar de me ter comovido bastante ao testemunhar a fé ardente e a piedade sincera dos peregrinos”.
Apesar do ceticismo inicial, o cónego Formigão voltou novamente a Fátima para conhecer pessoalmente os videntes, interrogá-los e ouvir das testemunhas fidedignas a narração verídica dos episódios que se tinham verificado nos cinco meses precedentes.
Feitos os primeiros interrogatórios, o cónego Nunes Formigão ficou com uma impressão completamente diferente da que tinha antes. Sem chegar ainda à sobrenaturalidade dos factos, algo lhe fica indelevelmente na alma: a sinceridade dos videntes.
Nesse mesmo ano foi nomeado professor de Teologia do Seminário de Santarém. “Mais que admirado pelos seus alunos, o jovem professor era por eles muito estimado. Não era o professor que arrastava sem convencer. Era o pedagogo que convencia pela clareza com que expunha os temas, pela ponderação e pelo método que utilizava”, refere a Agência Ecclesia.
Fenómeno de Fátima: de curioso a divulgador
Na década de 20, colabora e põe de pé o periódico ‘Voz da Fátima’ e escreve a obra ‘As grandes maravilhas de Fátima’. Para ajudar na construção da Basílica escreve o livro ‘Fátima, o Paraíso na terra’. Em 1931 sai a ‘A Pérola de Portugal’ e cinco anos depois ‘Fé e Pátria’.
“Através da sua acção e da sua pena ao serviço da Igreja e dos acontecimentos de Fátima, o cónego Formigão antecipou-se à Igreja que bem serviu. Depois dos Pastorinhos, o Sr. Formigão foi o instrumento escolhido por Nossa Senhora para garantir a autenticidade desses acontecimentos”, escreveu D. João Pereira Venâncio, 2º bispo de Leiria.
Devido à fama de santidade, a Conferência Episcopal Portuguesa concedeu a anuência, a 16 de novembro de 2000, para a introdução da causa de beatificação e canonização deste apóstolo de Fátima.
A clausura do processo diocesano de canonização realizou-se a 16 de abril de 2005. Depois de lidas as atas de encerramento do processo, foram fechadas e lacradas as 20 caixas que contêm as provas recolhidas durante esta fase instrutória, num total de mais de seis mil páginas.
A 28 de janeiro deste ano decorreu a cerimónia de trasladação dos restos mortais do padre Manuel Formigão, conhecido como «o apóstolo de Fátima», do cemitério local para um mausoléu construído na Casa de Nossa Senhora das Dores.