O Cicloturismo (passeios turísticos em bicicleta com os amigos, com a família ou individualmente) constitui uma atividade lúdica, recreativa e desportiva que contém uma filosofia de comunhão com a natureza e de respeito pelo ambiente. Os cicloturistas sempre privilegiaram, ao longo dos anos, regiões de grande valor paisagístico, biológico e cultural.
Em Portugal, a partir de 1890, surgem pessoas que usam a bicicleta para deslocações turísticas, não havendo, no entanto, dados conhecidos sobre a sua evolução até aos anos 20. Nessa altura as voltas a Portugal em cavalo, de grande impacte popular e cobertura pelos jornais da época, eram acompanhadas também por cicloturistas.
O Cicloturismo ressurge nos anos 40 e 50 em Portugal pela mão de António Duarte Laureano que cria o Grupo “Os Quinze” – Lisboa, percorre o país e desenvolve as ideias do Cicloturista francês Velócio, fez palestras em várias academias culturais e sociedades recreativas, usando a bicicleta para percorrer o país nas suas deslocações. A polícia política confundiu, varias vezes, as suas atividades com ações políticas, tendo sido detido ao longo dos anos pela PIDE. Deslocava-se de bicicleta frequentemente nas suas viagens a Espanha e a França.
Nos anos 50
Aristides Martins, depois de ter sido ciclista de competição nos anos 40 e mais tarde selecionador nacional tornou-se na década de 50, igualmente, um impulsionador do cicloturismo em Portugal com outros amigos.
Nos finais dos anos 50, o escultor Laureano Pinto Bastos, Catedrático Jubilado da Faculdade de Arquitetura do Porto. O Dr. António Sousa Pires, licenciado na Sorbonne, desenvolve o Cicloturismo a partir dos finais dos anos 50 e nos anos 60, sobretudo na região norte.
Os anos 60
Nos anos 60 também o Dr. Eduardo Vasco da Veiga de Oliveira, neto de Alves da Veiga (patriota, político, estadista e chefe da revolta Republicana no Porto), tinha a humildade e ousadia de ir de bicicleta para o seu trabalho de médico na fábrica da Senhora da Hora e de receber no seu ciclo de tertúlia intelectual e de convívio Cicloturista da época, em que promovia passeios com Eugénio de Andrade, José Rodrigues, Laureano Ribatua, Jorge Listopad, Bento da Cruz, Sofia de Mello Breyner, Agustina Bessa Luís; Manuel Santos Martins, entre outros. Fez milhares de quilómetros de bicicleta e todas as estradas do mapa do ACP (Automóvel Clube de Portugal) da época.
José Manuel Sá Carneiro e António Sousa Martins entusiasmam Fernando Castel-Branco Sacramento nos raides cicloturistas de fundo que se iniciam em Portugal e, em conjunto com o Dr. Eduardo Oliveira, publicam o livro “Caminho de Santiago” – percurso francês e espanhol.
Nos Anos 70
Aristides Martins, no pós 25 de Abril de 1974 cria juntamente com 12 cicloturistas o CDCL – Comissão Distrital de Cicloturismo de Lisboa, a primeira estrutura organizada para sensibilizar, dinamizar e coordenar o cicloturismo em Portugal. Posteriormente foi criada em 1982 no norte do país mais uma Associação. O CDCL nos últimos 5 anos de atividade registava 69 núcleos e 1095 aderentes devidamente inscritos.
Segundo Aristides Martins a Federação de Ciclismo tentou fazer uma aproximação ténue ao CDCL com o objetivo de captar verbas da Direção Geral dos Desportos, o que nunca se concretizou em termos práticos. Os elementos do CDCL não aceitaram qualquer cargo a nível federativo. Ainda segundo Aristides Martins surgiram uns quantos “paraquedistas” com ideias pouco definidas e que satisfizessem a família Cicloturista da época. O CDCL levou o Cicloturismo a Évora, ao Cabo da Roca, Sines, Tomar, Paris, Casa do Gaiato – Centro de Recuperação de Alcoitão, Aldeia SOS, entre outros.
Nos Anos 80
Mário Lino, das Caldas da Rainha, colecionador e estudioso da história da Bicicleta, influenciado por Aristides Martins, inicia os raides cicloturistas “Caldas da Rainha – Badajoz” que em 2006 teve lugar na 24ª edição com o “Caldas – Vila Nueva del Fresno” na comemoração do centenário do General Humberto Delgado, que foi assassinado pela PIDE em Vila Nueva del Fresno.
José Manuel Caetano, em 1982, associa-se ao movimento de Aristides Martins e Fernando Sacramento, com quem se compromete a continuar a desenvolver a sua obra e a promover o Cicloturismo em Portugal. Organiza o 1º Encontro Nacional de Cicloturismo em Sesimbra, funda mais tarde o Núcleo Cicloturista de Sesimbra e organiza o 1º Sesimbra – Montechoro – Algarve em 1986 (Ano Europeu do Ambiente). É nesta altura que toma contacto com a área do Ambiente através do seu amigo pessoal Carlos Pimenta (Secretário de Estado do Ambiente na época). Um evento que inicialmente previa a participação de 100 pessoas atingiu nesse ano, com colaboração do Ano Europeu do Ambiente, do Serviço Nacional de Parques e da Secretaria de Estado do Ambiente cerca de 850 participantes, que durante 3 dias percorreram Sesimbra – Arrábida – Vila Nova de Mil Fontes – Alzejur – Vila do Bispo – Montechoro. Dado o número elevado de participantes surge a génese do Centro Português de Cicloturismo que culmina na fundação da Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta.
José Manuel Caetano, em 1987, toma contacto nos Estados Unidos com o aparecimento das Bicicletas Todo-o-Terreno (BTT), e conjuntamente com Jaime de Almeida, do Stand Jasma, inicia os primeiros passeios de BTT em Portugal organizando durante 5 dias o Mértola – Alcoutim – Pereiro – Cachoupo – Barranco Velho – Alte – Silves – Mexilhoeira Grande – Foz do Rio Alvor, em que participa um histórico do BTT e da sua promoção no norte do país, Félix Barbosa, do Porto.