O relatório da comissão técnica independente, entregue ontem no Parlamento, refere que os incêndios que deflagraram a 14, 15 e 16 de outubro de 2017 causaram 48 mortos e constituiram “o maior fenómeno piro-convectivo registado na Europa até ao momento e o maior do mundo em 2017.
Os incêndios de outubro de 2017, que provocaram 48 mortos, de acordo com a comissão técnica independente, foram os primeiros com tamanha grandeza ocorridos no outono na Europa, refere o relatório.
A comissão técnica independente que elaborou o documento esclarece ainda que a mistura de vários fatores meteorológicos constitui “o maior fenómeno piro-convectivo registado na Europa até ao momento e o maior do mundo em 2017, com uma média de 10 mil hectares ardidos por hora entre as 16h do dia 15 de outubro e as 05h do dia 16 de outubro para o conjunto dos cinco mega-incêndios estudados”.
De acordo com o relatório de 276 páginas, as ignições do dia 15 de outubro produziram sete manchas ardidas na região Centro, excedendo 10 mil hectares cada, “incluindo o maior incêndio de que há memória, com início em Vilarinho, Lousã, e área de 45.505 hectares”.
“Além da extraordinária dimensão, os mega-incêndios de 15 de outubro individualizam-se à escala europeia por serem os primeiros desta ordem de grandeza a ocorrer no outono”, acrescenta.
O relatório, feito a pedido do Governo e que abrange oito distritos das regiões Centro e Norte, destaca ainda que os fogos foram intensificados pelo furacão Ophelia, pese embora a previsão para esses dias já apontasse para perigo meteorológico de incêndio, classificado como extremo, num contexto que incluía ainda a velocidade do vento e o momento de severidade da seca sazonal.
Populações “entregues a si próprias”
A comissão técnica independente sublinha ainda no relatório que o panorama vivido nesses dias traduziu-se “numa situação de dramático abandono, com escassez de meios, ficando as populações entregues a si próprias”. Uma situação sentida sobretudo a 15 de outubro.
O documento indica que “por momentos iniciais” foram cumpridas as determinações fixadas nas diretivas.
“Mas rapidamente se verificou não haver possibilidade de manter a estratégia teoricamente fixada, sobretudo devido a duas razões: dificuldade de mobilizar forças suficientes perante o número de ignições que se sucediam em áreas de grande dimensão e impossibilidade de dar uma resposta a todos os incêndios por parte dos corpos de bombeiros”, sublinha o relatório.
A impossibilidade de dar uma resposta esteve relacionada, refere o documento, com o facto de se estar em outubro e na fase Delta de combate a incêndios em que há “uma capacidade de mobilização limitada”.
“Estes fogos incidiram principalmente em floresta – 78% da superfície queimada -, predominando em geral o pinheiro-bravo, sendo que 42% da área afetada nunca havia ardido (desde 1975) e o fogo é historicamente infrequente na maior parte da restante, o que indicia elevada continuidade e carga de combustível”, refere o documento.
Falhas de atuação
É também esclarecido que predominou o “fogo de copas”, especialmente em pinhais densos e baixos. De acordo com o relatório, apesar de ser “difícil encontrar um padrão explicativo para todos os casos”, as mortes registadas nos incêndios de junho – com destaque para Pedrógão Grande, com 66 mortes – e nos de outubro ocorreram em ambas as situações no momento em que “há uma mudança da velocidade de propagação do incêndio”.
Ou seja, ocorreram quando o fogo deixou de se comportar “de forma convencional” e passou a ter “comportamentos erráticos relacionados com o ‘downdraft’ (correntes de ar) e fases expansivas em diferentes direções”.
O documento conclui que falhou a capacidade de “previsão e programação” para “minimizar a extensão” do fogo na região Centro (onde ocorreram as mortes), perante as previsões meteorológicas de temperaturas elevadas e vento.
Segundo o relatório, a Autoridade Nacional de Proteção Civil pediu um reforço de meios para combater estes incêndios devido às condições meteorológicas, mas não obteve “plena autorização a nível superior”, e a atuação do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) foi “limitada” por falhas na rede de comunicações.
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