Voltei recentemente a subir ao Monte Gordo, em Vila Franca de Xira. Tinha lá ido uma vez, há quarenta e muitos anos, quando o turismo municipal cuidara daquele panorâmico local, preparando-o para bem agradar aos visitantes que se dispusessem a ir até àquelas alturas para admirar a fascinante vastidão das terras vilafranquenses, em que avultam a lezíria e o Tejo, ali transposto por uma então 10ª ponte, que se inaugurara havia pouco mais de uma dúzia de anos. Era sem dúvida um miradouro bem convidativo. O recém-chegado satisfazia-se plenamente e a presença sempre se prolongava mais do que o previsto. Tanto mais que havia até uma visita a fazer, a um velho moinho, que convidava a entrar, como se lia sobre a porta: “Sr.Visitante visite o Moinho por apenas $50”. Barato, original e simpático. E um jovem orientava a visita e apontava na planura certos sítios, como o antigo cais de embarque da margem esquerda do rio e a então muito receada ‘Reta do Cabo’, que os frequentes acidentes ali ocorridos levavam às páginas dos jornais.
Quando agora voltei ao Monte Gordo, francamente, a selvajaria de uns tantos e o não amparo das atuais entidades municipais, entristeceu-me. O cinquentenário miradouro, com efeito, continua lá. Mas impera ali a desolação e até a placa em azulejo identificadora do local foi vítima de agressões selváticas, passando a ignorar-se a entidade promotora da iniciativa e o ano em que tal se concretizou. Onde se lia “C.M.V.X. 1965”… nada se lê! Inconcebível! E faço ideia há quanto tempo se manterá este lamentável estado de coisas. Dois moinhos foram particularmente aproveitados. Mas um terceiro moinho está entregue aos “cuidados” do tempo que passa. No Monte Gordo não há velas ao vento nem visitas a fazer. Há, valha-nos isso, a paisagística do leito e das margens do Tejo, o que bem merece a deslocação ao local.
A via de acesso ao Monte Gordo apresenta-se a partir da área norte de Vila Franca de Xira. A distância a percorrer é curta: não ultrapassa os 2 quilómetros. No entanto, é bem preciso 3ª ou 2ª velocidade e condução cautelosa, uma vez que a rampa com que se depara é áspera e justifica todos os cuidados. Trepa-se pela encosta acima, vencem-se curvas e contracurvas apertadas entre muros. O pavimento, alcatroado há muito, é deficiente. É necessário, portanto, beneficiar e retificar esta via de acesso, para tornar mais suave a escalada.
Quanto ao mal tratado miradouro, urge que se proceda à sua restauração e – como sugeri há anos nas páginas da revista ACP – “será de encarar a hipótese de instalar lá no alto uma casa de chá, um restaurante ou snack-bar, dotando-se a varanda do miradouro de óculos de grande alcance, para que os visitantes ali encontrem um bom ambiente e tentem descobrir os segredos da vasta lezíria ribatejana que se lhes patenteia das alturas”.
Há meio século fez-se algo de bom, relativamente ao altaneiro balcão debruçado sobre a planura. Impõe-se que se faça agora um apropriado complemento do que foi feito em tão magnífico local. E aconselhável será então a edição municipal de um desdobrável turístico sobre o Monte Gordo.