A Lusovini nasceu em 2009 e, tendo como ponto de partida a região do Dão, rapidamente expandiu a sua produção para as regiões da Bairrada, do Douro, do Alentejo e dos vinhos Verdes.
Atualmente o Grupo Lusovini tem uma das mais modernas instalações vinícolas do Dão onde procura melhorar a qualidade e os resultados a cada vindima, com o objetivo de criar vinhos distintos e com grande personalidade. “O desafio é colocar dentro das garrafas toda a riqueza deste país vitícola extraordinário que é Portugal”, afirma Casimiro Gomes, o presidente da Lusovini, que partilhou com o ‘Mundo Português’ a sua visão para o futuro do setor e da própria empresa.
Como surgiu a Lusovini?
A Lusovini surge do facto dos oito acionistas e os cinco executivos da Lusovini, termos trabalhado todos juntos, é fruto das alterações que cada um teve ao longo da vida profissional tivemos como objetivo criar um projeto completamente diferenciado daquilo que se fazia em Portugal e que nós próprios também tínhamos feito. Pensámos no projeto começando pelo mercado para só depois chegar à produção. Sendo que a maioria dos acionistas são técnicos agrícolas ou enólogos. Esta é uma característica muito interessante, porque nós tínhamos a vontade da produção e temos essa vontade, mas fomos primeiro ver os mercados. Isto também porque nascemos em 2009, o pior período da economia em Portugal, como tal, tivemos que explorar melhor os mercados e percebê-los para depois avançar com a produção. Este foi o nosso ponto de partida.
Já nasceram com vocação exportadora?
Desde o primeiro dia, por isso já contamos com cinco internacionalizações, com empresas próprias em vários continentes porque consideramos que não basta produzir, é muito importante estar próximo dos mercados, é importante dar o serviço aos clientes, senão é só mais um líquido dentro de uma garrafa, e isso há muitos países a fazer, talvez com muito mais capacidade que nós portugueses, porque somos um país de pequenas produções, de diversidade e é essa diversidade que nós tentamos transmitir nos nossos projetos internacionais.
Neste momento, cerca de 75 por cento do nosso volume de negócios provém de mercados externos e queremos manter essa percentagem. Também queremos crescer mais no mercado nacional, bem como no internacional uma vez que achamos que estamos com um bom índice de exportação. Temos feito isto de duas maneiras, através da internacionalização, com empresas nossas que compram os nossos vinhos e vendem, oferecendo o serviço ao cliente local, e através da exportação para mais 37 países, para clientes que importam diretamente os nossos vinhos. São lógicas diferentes.
Quais os maiores desafios para a exportação dos vinhos nacionais?
Eu acho que a nossa marca umbrela, que é Portugal, ainda não está bem conseguida. Estamos agora a dar os primeiros passos, com o reconhecimento que temos tido no turismo, por exemplo, mas é preciso um somatório de atividades e funções no país para que ele tenha credibilidade. No dia em que Portugal tiver mais credibilidade seguramente que os vinhos ‘Pedra Cancela’, ‘Sericaia’, ‘Regateiro’, ‘Bons Anos’, todos os vinhos que nós fazemos, como os dos nossos colegas concorrentes, terão mais valor. Falta associar à marca Portugal, uma imagem para o consumidor internacional que possa ser mais diferenciada. Este é um caminho que será certamente longo.
A atividade da vitivinicultura, da vinha até ao vinho, é um negócio geracional, os investimentos não podem ser pensados a curto prazo. Toda a nossa estratégia é sempre reinvestir o que geramos e o que podemos agregar à empresa. Não gerimos a nossa expectativa em função das crises, ou porque a economia vai crescer muito. Se fosse assim não tínhamos fundado a empresa em 2009, ano em que havia uma imensa crise em Portugal.
O nosso caminho é assente em quatro pilares fundamentais. A vinha, a enologia, que potencia aquilo que nós fazemos de melhor na vinha, o mercado, e um quarto elemento que é o enoturismo. Nós lançámos o primeiro enoturismo em Portugal e na altura foi um produto quase rejeitado. Estamos a falar no início da década de 90 e nessa altura falar em enoturismo era quase um absurdo. Hoje é moda, mas agora temos que ir mais longe, oferecer mais serviços e quando investimos no enoturismo temos que fazer como quando plantamos uma vinha, não podemos pensar no lucro imediato, mas no serviço que prestamos aos nossos potenciais clientes e àquilo que eles podem transportar da nossa imagem para outros potenciais clientes. É exatamente este o quarto pilar da nossa estratégia.

“Neste momento, cerca de 75 por cento do nosso volume de negócios provém de mercados externos e queremos manter essa percentagem”, revela Casimiro Gomes
Essa ‘imagem a transportar pelos clientes’ levou á criação de um Museu Virtual do Vinho?
Ao longo da nossa vida profissional, no meu caso já vai para o trigésimo primeiro ano, verificámos que se dermos a conhecer ao mundo a nossa realidade, a realidade portuguesa, e não estou a referir-me apenas aos vinhos, refiro-me a tudo o resto, a gastronomia, a paisagem, as castas, as infraestruturas que o país hoje tem, o vinho passa a valer mais. O Museu Virtual do Vinho também se insere nesta política, mostrar que somos um país com muita história no vinho e que o nosso vinho não deve ser só reconhecido em função do preço de custo, mas em função de tudo o que está envolvido. A cultura tem que ser valorizada para que possa haver fixação das pessoas no mundo rural, temos que deixar alguma coisa para que os jovens se fixem e vejam que podem ter oportunidades para eles e para os seus filhos no desenvolvimento agrícola e, naturalmente, fora dos grandes centros urbanos.
A região do Dão proporciona essas oportunidades?
O Dão, hoje em dia, para a maior parte dos consumidores é uma região que se está a iniciar, mas foi a primeira região em Portugal a engarrafar vinhos de mesa para o mercado. Se recuarmos 100 anos era a única região que engarrafava vinhos de mesa, fruto do trabalho que era feito na altura e da grande procura que os vinhos tiveram. Talvez se tenham cometido erros graves, que depois andámos durante três décadas a tentar apagar, ou a pagar a conta. Hoje acontece exatamente o contrário, penso que a renovação do Dão começou há 30 anos, porque de facto apareceram produtores engarrafadores e novos investimentos, muito significativos, que foram feitos na região. Tudo isto arrastou um pequeno número de produtores e estamos agora a colher o fruto desses investimentos, porque a vinha é um negócio muito lento e a perspetiva de vermos esse resultado deve ser de décadas.
Eu diria que hoje estão constituídos uma série de elementos que serão capazes de reposicionar o Dão no lugar que ele merece. Porque também se desvalorizou muito o vinho branco, onde o Dão, em especial com a casta Encruzado, mas não só, tem a possibilidade de se fazer vinhos únicos.
Pela ocasião do lançamento do Museu Virtual apresentámos um vinho de 1974, todo o público, os jornalistas de especialidade ficaram completamente rendidos. E não era um vinho nosso, era um vinho feito na região. Isto demonstra o potencial que os vinhos brancos tiveram, mas que entretanto estiveram um pouco abandonados. Só recentemente é que os brancos voltaram a conquistar o seu lugar. Também é verdade que os brancos perderam essa expressão no Dão fruto da filoxera que atacou os vinhedos em França e fez com que os produtores franceses que vinham procurar vinhos à região procurassem vinhos tintos em Portugal. Por isso os vinhos tintos eram mais valorizados o que de alguma maneira induziu os produtores, recuando um século atrás, ou mais de um século, em plantar mais uvas tintas.
Estou convencido claramente que o nosso encepamento pode perfeitamente ser metade branco, metade tinto, o que hoje no mercado não representa mais do que 20% do consumo de brancos. Isto é algo quase provocador. Mas acredito que os brancos do Dão podem fazer esse caminho.
Hoje estão sediados num espaço histórico na produção de vinhos na região. Mas agora com outras valências?
Hoje estamos nas instalações da primeira Adega Cooperativa da região do Dão, a Adega de Nelas. Naturalmente que o movimento cooperativo e a idealização do movimento cooperativo tem, olhando para a forma como os estatutos estão idealizados, é o ideal para o desenvolvimento de toda a estrutura fundiária e agrícola. Acontece que as pessoas não estavam preparadas para um modelo de partilha, como o modelo cooperativo, não é um agente que compra uvas e resolve o problema.
Os associados tiveram imensas dificuldades em se envolver como se fizessem parte do modelo, foi aí que o movimento cooperativo, não só no vinho, mas em quase todas as outras atividades agrícolas perdeu aquilo que poderia ser hoje uma organização com grande valor à semelhança de outros países onde tem sucesso.
Nas últimas duas décadas, o movimento cooperativo no Dão, perdeu quase 50% das unidades por insolvência. Nós adquirimos estas instalações à massa insolvente e durante três anos estudámos aquilo que poderíamos fazer do espaço, para além da atividade da transformação das uvas e o aspeto logístico da operação e verificámos que a unidade tinha grandes potenciais. Por um lado potenciar a traça arquitetónica de uma época, o Estado Novo, é certo, mas é uma época da nossa história e dar-lhe um aspeto contemporâneo e mais elementos que valorizassem aquilo que o mercado quer hoje. Então avançámos com o enoturismo introduzindo a ‘Taberna da Adega’ que é um espaço de gastronomia regional, local aberto ao público todos os dias com o objetivo de proporcionar sensações aos nossos visitantes e consumidores de maneira a valorizar aquilo que é o potencial dos nossos vinhos, mas também aquilo que é o potencial da região.