O mau tempo que tem assolado o país há já duas semanas vai manter-se até domingo. Há, infelizmente, dois mortos a registar (na Madeira e em Castro Verde), muitos danos com deslizamento de terras e o cancelamento de imensos voos com a Madeira como destino. E há prejuízos na agricultura e nas pescas no Douro, Madeira e Açores.
O mau tempo chegou há duas semanas com muita chuva, trovoadas, vento, queda de neve e agitação marítima. E vai manter-se até domingo, como informa o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). A chuva forte, com probabilidade de ocorrência de trovoadas, o vento e a agitação marítima mantêm-se no território do continente, sendo sexta-feira (dia 9) o dia mais gravoso.
No Arquipélago da Madeira o mau tempo foi particularmente sentido. Os ventos fortes que originaram rajadas de 78 a 80 quilómetros por hora, com 100 quilómetros nas terras altas, que inclusivamente oibrigaram ao fecho do aeroporto. O mau tempo provocou estragos na orla costeira, constrangimentos no aeroporto devido ao forte vento – chegaram a ser cancelados 14 voos de diferentes companhias – e uma série de ocorrências que, em terra, têm causado a queda de árvores e pequenos deslizamentos.
Uma das vítimas mortais foi registada na Madeira. Trata-se de um homem de nacionalidade inglesa que vivia no Algarve e está ainda desaparecido nos mares da Madeira depois de ter sido arrastado por uma onda na Praia Formosa, no Funchal.
A outra vítima mortal foi registada em Castro Verde, no Alentejo, onde dois carros foram arrastados pelas águas de uma ribeira no passado dia 4. Quatro pessoas foram resgatadas com vida, mas uma mulher morreu.
O acidente ocorreu às 16h38 horas na estrada que liga Entradas e São Marcos de Ataboeira, em Castro Verde.
Segundo o Comando Distrital de Operações de Socorro de Beja, as três pessoas que ocupavam uma das viaturas sofreram ferimentos ligeiros. Um homem com cerca de 70 anos que ocupava o segundo veículo foi resgatado mais tarde, pelas 18h20 horas. A sua mulher, com idade aproximada, que estava dada como desaparecida, foi encontrada sem vida no interior do automóvel.
Madeira: 1,5 milhões de euros na agricultura
Na Madeira os prejuízos estão a ser contabilizados, mas o governo daquela Região Autónoma estimou que, na agricultura, os prejuízos decorrentes do temporal que afetou a região na última semana sejam de 1,5 milhões de euros e anunciou apoios até 80% a fundo perdido.
“Apurados os valores dos prejuízos, o Governo Regional irá ativar duas medidas de apoio, designadamente pagamento a fundo perdido até 80% do valor do prejuízo e a abertura da medida dos Fundos Comunitários para o restabelecimento do potencial produtivo com apoios a 100% no investimento”, anunciou o presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque.
O mau tempo que afetou a região entre 25 de fevereiro e 05 de março provocou danos na agricultura, sobretudo nas culturas da cana de açucar e na da banana, na costa sul entre Santa Cruz e a Calheta.
“Isto significa que, para além de serem ressarcidos dos prejuízos, os produtores podem investir na reposição das condições de produção das respetivas explorações”, afirmou o presidente do Governo Regional, durante uma conferência de imprensa na sede do executivo, na qual também esteve presente o secretário regional da Agricultura, Humberto Vasconcelos.
Açores: Federação pede ativação do Fundopesca
Na Região Autónoma dos Açores, o presidente da Federação de Pescas dos Açores (FPA) defendeu que estão reunidas as condições para que seja ativado o Fundopesca face aos condicionalismos impostos pelas condições atmosféricas adversas.
“Temos vindo a acompanhar a meteorologia desde há cerca de 15 dias e em todas as ilhas as condições meteorológicas têm impedido os profissionais da pesca de exercerem a sua atividade, com consequente quebra de rendimentos”, declarou à agência Lusa Gualberto Rita.
O conselho administrativo do Fundopesca vai reunir em 12 de março para analisar os seus critérios de acionamento na sequência da monitorização das descargas de pescado em lota, anunciou o Governo dos Açores.
Flores, Corvo e Santa Maria eram as ilhas que há cerca de uma semana estavam com “vendas abaixo do período homólogo do ano passado”, cenário que “até final da semana” se vai estender às restantes, havendo assim “condições para acionar o FundoPesca”, adverte o responsável da FPA.
É da competência do conselho administrativo avaliar o cumprimento dos critérios a observar para a ativação do Fundo de Compensação Salarial dos Profissionais da Pesca dos Açores (Fundopesca).
O dirigente da FPA quer que o fundo seja “ativado de imediato”, mas está consciente que, face à nova legislação, este apoio “só vai beneficiar cerca de 50% da comunidade piscatória” dos Açores.
Ainda nos Açores, a Proteção Civil recomendou hoje medidas de autoproteção tendo em conta o agravamento do tempo no arquipélago, até sábado, com previsões de chuva, trovoada e agitação marítima nas nove ilhas.
Douro: Produtores reclamam ajudas ao Governo
Os produtores olivícolas e florestais do Douro Superior reclamaram a ajuda do Governo para fazer face aos prejuízos causados pelo mau tempo em cerca de um milhar de hectares de olival e 1,5 milhares hectares em montados.
“Temos verificado a quebras dos galhos de milhares de árvores como as oliveiras mais jovens, que acabaram por não resistir ao peso provocado pela acumulação da neve e do gelo que se fez sentir em diversos pontos do território do Nordeste Transmontano, na semana passada”, disse à Lusa o presidente da Associação de Produtores Agrícolas, Florestais e Ambientais (APATA), Armando Pacheco.
Os dirigentes da APATA garantem que é visível uma “certa angústia” por parte dos agricultores no que respeita ao futuro, já que oliveiras, sobreiros e outras espécies de árvores de fruto e florestais podem “não vingar”.
“Há doenças que possivelmente vão entrar nas árvores, através dos cortes e rachadelas provocados pelo mau tempo. Agora, solicitamos apoios para aquisição de fungicidas que possam ajudar a proteger da entrada de fungos as feridas causadas pelos cortes”, vincou Armando Pacheco.
Os produtores florestais pedem ainda ao Governo um alargamento por um mês do prazo para a poda dos sobreiros, que se estende até ao final do mês de março.