Há muitos anos – em meados de 1958 – publiquei um artigo sobre Espinho na revista ‘Turismo’, uma publicação que ressurgira na época; datava dos anos quarenta e registou então (em 1944) a minha estreia no jornalismo.
Na sua 2ª série, num número dedicado a praias e termas, a ‘Turismo’ levou-me a emparceirar com outros colaboradores, como Acácio Neves, Pimentel Teixeira, Guedes de Amorim, Jayme Duarte de Almeida, Manuel Martinho e Seabra Cancela.
E comecei a minha crónica por relatar que entrara em Espinho por Silvalde, “longa fila de casas genuinamente portuguesas, dispostas com harmonia à beira da estrada”, referi logo a seguir que não tardei a entrar “na mais geométrica das nossas vilas”, à qual também chamei “a cosmopolita e encantadora Espinho”.
Por título, teve esta avoenga crónica ‘Espinho-Capital da Costa Verde’. E foi ilustrada com duas fotografias, ‘Um aspeto da Avenida 8’ e ‘A excelente piscina’.
Referindo que Espinho, no começo do século XIX, era “um humilde lugarejo da freguesia de S. Félix da Marinha, do concelho de Vila Nova de Gaia”, destaquei que na transição para o século XX começou a praia a ser procurada e “rapidamente a fama do seu admirável clima marítimo operou prodígios e levou a população das terras vizinhas a preferi-la e a divulgar-lhe as belezas naturais, ao mesmo tempo que novos habitantes se fixavam no lugar”.
Destaquei “a policromia da concorrida feira semanal que se efetua num vasto largo”, considerei que os Paços do Concelho estavam instalados “num elegante edifício” e a Igreja Matriz apresentava “linhas invulgares”. Não foram esquecidas as “frondosas e acolhedoras sombras” do Parque João de Deus.
Mais transcrevo do escrito de há 59 anos: “As avenidas 7 e 8 e a rua 19 são as principais artérias da vila. Ali encontra o visitante tudo quanto lhe pode transformar a estadia em Espinho nas mais encantadoras férias. O Palácio-Hotel oferece-lhe o luxo a que o turista mais exigente está habituado. Próximo, fica sumptuoso casino e o elegante cinema. Depois surge a Piscina Solar Atlântico, a maior de Portugal”. Como um dos melhores atrativos da Costa Verde, considerei “a Monumental Esplanada, belamente situada e construída com luxo e modernismo”.
Naturalmente, no relato de há meio século não faltou um “senão”, relativamente à linha férrea, “pois prevalecem em Espinho essas aborrecidas barreiras gradeadas que obrigam os automobilistas a enervantes demoras, antes de poderem alcançar a praia”. Como se sabe, este problema foi bem tardiamente resolvido, ainda não há dez anos, mas também bem tardia está a ser a beneficiação da área à superfície sobre a estação ferroviária subterrânea, que urge embelezar para não parecer um “deserto”.

Com Manuela Aguiar, antiga Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, que tem Espinho no coração e nas origens desde há várias gerações
Voltei recentemente a Espinho, agora a Espinho – cidade. Acordara uma troca de impressões – e de recordações – com a Dra. Manuela Aguiar, antiga Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, que tem Espinho no coração e nas origens desde há várias gerações, considerando Espinho “uma terra fantástica onde tudo é perto e fácil, lojas, igreja, biblioteca, museu, cinema, esplanadas, cafés, a praia e o mar”. E mais me confidenciou que Espinho “é uma terra demasiado pacata para turistas mas bem agradável e tranquila para residentes”.
Conhecera pessoalmente a Dra. Manuela Aguiar há 35 anos, bem longe, durante uma edição do Festival Cabrilho, em San Diego, na Califórnia. Depois, de vez em quando, os contatos têm ocorrido em Lisboa. Agora, em Espinho, pessoas e factos desbobinaram-se-nos na memória, com boas recordações de amigos comuns que as andanças pelo mundo nos trouxeram.
Em pouco mais de meia-dúzia de horas, a Dra. Manuela Aguiar deu-me a conhecer algo da “nova” Espinho, como o moderno Centro Multimeios, que “reúne a estética e a funcionalidade num espaço original”, o Museu Municipal, instalado numa antiga fábrica de conservas de peixe cujos produtos tiveram grande aceitação nacional e internacional, e a Biblioteca Municipal Marmelo e Silva, inaugurada em 2011, que recebeu o nome do escritor e professor José Marmelo e Silva, quando do centenário do seu nascimento; quatro anos antes de falecer, fora agraciado com a Medalha de Ouro da Cidade.
Vencendo o tempo, o Casino Solverde mantém-se como imagem de Espinho de ontem e de hoje. E nas épocas e horas próprias, a piscina e a esplanada, vizinhas do mar e da praia, registam normal afluência.
E Espinho orgulha-se de eventos culturais de que é cenário, como os festivais internacionais de Música e de Folclore e de Cinema de Animação. Ao longo de gerações familiares, prestes a alcançar o centenário, os violinos “Capela”, fabricados em Espinho, impuseram-se pela sua qualidade e perfeição artística.
Vasco Callixto