Depois do título europeu, Joana Schenker deu a Portugal o primeiro título mundial de bodyboard. Filha de pais alemães, que se fixaram no Algarve, a bodyboarder já nasceu em Portugal e nem pensa sair de Sagres onde vive. Em entrevista ao Mundo Português, fala da sua relação com o mar, sobre a importância deste título para a modalidade em Portugal, em como sente que ensinar é um dever e como ser vegetariana a tornou numa pessoa melhor…
Campeã do mundo! É a primeira portuguesa a atingir esse patamar. Imagino que sinta muito orgulho…
É incrível. Sinto uma felicidade enorme de poder trazer este título para Portugal, pois o bodyboard português tem imenso talento e já merecia ter esta distinção. Ser a primeira portuguesa a consegui-lo dentro do universo dos desportos de ondas é um honra e claro também motivo de orgulho.

“Sinto uma felicidade enorme de poder trazer este título para Portugal, pois o bodyboard português tem imenso talento e já merecia ter esta distinção”
Como apareceu o bodyboard na sua vida…
O bodyboard entrou na minha vida de forma muito natural. Sagres, o sítio de onde venho, tem uma forte tradição nesta modalidade, os meus amigos da escola já praticavam e foi por influência deles que acabei por experimentar também. Nunca mais parei!
Como é um dia normal para si?
O mar manda no meu dia. Normalmente levanto-me cedo e vou ver como estão as ondas. Costumo surfar uma a duas vezes por dia consoante a qualidade das ondas. Uma vez de manhã e outra à tarde. Se não houver ondas faço treino fora de água e tento despachar todas as outras coisas que a vida exige. Gosto do facto de não ter horários marcados e estar sempre em “stand by” para quando as ondas aparecem.
O mar é essencial…
É difícil descrever em palavras a minha relação com o mar. O mar sempre esteve presente desde que tenho memória e esteve direta ou indiretamente relacionado com todos os bons momentos da minha vida. O mar é capaz de nos ensinar muitas qualidades, paciência, preservação, esforço, superação, luta, calma, humildade, diversão e acima de tudo respeito.
Sagres é o melhor sítio para praticar bodyboard?
Sem dúvida. Sagres é dos melhores lugares da Europa para fazer bodyboard. O nosso recorte especial da costa e a constante ondulação que recebemos proporcionam ondas incríveis, e particularmente boas para o bodyboard. Para além disso ainda temos um clima muito bom durante todo o ano. Nasci no “ginásio” perfeito para o bodyboard.
Nasceu em Portugal mas demorou a ter a nacionalidade portuguesa para poder competir com as cores lusas. Chegou a sentir que era uma injustiça?
Ambos os meus pais são alemães que vieram para o Algarve há mais de 30 anos. Como nasci em Portugal, vivi aqui toda a minha vida e também todo o meu percurso no bodyboard é português, cheguei a sentir que não fazia sentido não poder representar as cores lusas, porque no fundo me sentia portuguesa. Mas é claro que sem a nacionalidade não era possível e sempre compreendi isso perfeitamente. Acabei por me nacionalizar para acabar com essa questão.
Qual o momento da sua carreira que recorda com mais frequência?
Foram tantos momentos ao longo dos anos que é impossível nomear um especifico. Mas aqueles em que consegui alcançar os objetivos pelo qual lutei muito pela primeira vez são os que recordo com mais carinho. Os primeiros títulos do cada circuito, as primeiras vitórias, momentos muito importantes no meu crescimento enquanto atleta.
Recordo muitos dias de ondas boas que partilhei com os meus amigos… esses são os momentos mais preciosos de todos.

“A minha principal motivação continua a ser a mesma de sempre, evoluir e surfar melhor”
É o primeiro título do circuito mundial para Portugal na modalidade. Acha que o bodyboard português vai ser mais reconhecido a partir de agora?
Sim é o primeiro título mundial profissional de uma modalidade de “surfing” em Portugal. É tão bom ser o bodyboard a modalidade que o conseguiu primeiro, isso vai ficar na história do desporto português. Já tenho sentido esse reconhecimento, nunca o bodyboard esteve tão presente na comunicação social, as pessoas de repente olham-nos como um desporto mais sério e importante. Gostava que esse reconhecimento se transformasse em apoio aos atletas e à modalidade para que no futuro possa haver mais conquistas destas.
Depois de um título mundial, qual o objetivo na sua carreira?
A minha principal motivação continua a ser a mesma de sempre, evoluir e surfar melhor. Este foi sempre o meu foco e os títulos foram o resultado disso. É claro que depois de um ano em que venci o circuito nacional, o circuito europeu e o mundial parece que já fiz tudo, mas isso não vai diminuir a minha vontade de continuar a evoluir.
Em 2018 tudo começa do zero e é assim que vou encarar a próxima época.
Ensinar é também uma paixão?
Ensinar é um dever que sinto enquanto atleta, retribuir ao bodyboard o que ele fez por mim.
Garantir que há uma nova geração de atletas de Sagres que possam manter a nossa tradição como terra do bodyboard.
Dar aos jovens a oportunidade de usufruir das excelentes condições naturais que têm à porta, e fazê-los ver a importância de preservar e proteger as praias e o oceano.
O patrocínio da Sagres foi importante na sua carreira? Como se sente em ser uma das caras de uma marca tão portuguesa e tão importante a nível nacional e internacional?
O patrocínio da Cerveja Sagres foi fundamental para conseguir realizar o meu sonho de correr o Circuito Mundial e assim ter a hipótese de ir em busca do título.
Mas a minha ligação com a Cerveja Sagres vai além disso: sendo eu da terra em que a cerveja Sagres se inspirou para o seu nome quando foi fundada em 1940 cria uma ligação que faz todo o sentido. Sinto um enorme carinho pela marca Sagres e ser uma das suas embaixadoras é também um motivo de orgulho para mim.

“O mar manda no meu dia. Normalmente levanto-me cedo e vou ver como estão as ondas.”
Como foi o seu natal? Sendo vegetariana não comeu o tradicional bacalhau…
É verdade, sou vegetariana desde dos 10 anos. Não como peixe nem carne há 20 anos. Uma opção moral, não quero contribuir para a exploração e abuso dos animais. No caso do bacalhau, e se sem querer estragar a festa a ninguém, é uma espécie extremamente ameaçada pela sobre pesca. Por isso deixo aqui o desafio, experimentem algo novo, não faltam receitas para opções de ceias de natal vegetarianas, incrivelmente deliciosas! Aposto que muita gente até vai gostar mais do que do bacalhau.
Acredita que ser vegetariana fez a diferença na sua carreira para o seu bem estar físico e até emocional?
Tornar-me vegetariana foi a melhor decisão da minha vida. Os benefícios são muitos e a todos os níveis. Desde a saúde, rendimento desportivo, bem-estar físico ao bem-estar emocional, à proteção do planeta. Torna-nos em pessoas mais conscientes e com maior compaixão.
Já alguma vez pensou em emigrar? Já aconteceu encontrar portugueses nos sítios onde competiu?
Sair de Sagres ou de Portugal é completamente impensável para mim. Sinto-me um afortunada por ter nascido aqui. Encontro portugueses em quase todos os lugares onde vou e é sempre uma alegria. A descontração e simpatia dos portugueses são inconfundíveis.
Quero desejar um bom ano novo a todos!
Fotografias gentilmente cedidas pela atleta