Mandado edificar por D. Dinis na última década do século XIII, o castelo medieval de Vila Viçosa ergue-se no centro da vila e alberga atualmente dois museus – o Museu de Arqueologia e o Museu da Caça.
O Castelo de Vila Viçosa, como o próprio nome indica, fica situado em Vila Viçosa, vila sede de concelho no Alentejo. A sua história confunde-se um pouco com a história do próprio concelho, criado por D. Afonso III a 22 de dezembro de 1258.
Doze anos mais tarde, o monarca doou a Vila Viçosa o seu primeiro foral, na sequência do qual é provável que tenha sido iniciada a construção do castelo. Mais tarde, durante o reinado de D. Dinis, em 1290, deu-se início à construção da cerca da vila e em 1297 o castelo já estava erguido.
Já no século XIV, durante a guerra com Castela, Vila Viçosa e o seu castelo tornou-se no quartel-general das operações. Foi aí que, em 7 de julho de 1382, Gonçalo Vasques de Azevedo, juntou ali capitães, alcaides e outros fronteiros menores, para defender o Alentejo invadido pelos castelhanos. Entre aqueles estava o jovem Nuno Álvares Pereira.
Em julho de 1383, partiram seis mil homens de Vila Viçosa para a fronteira de Elvas. A paz viria a ser restaurada a 31 de outubro de 1411 com a assinatura de um tratado de paz com o Reino de Castela.
Morto o rei D. Fernando, Vila Viçosa pela voz do seu alcaide-mor, Vasco Porcalho, e contra a voz dos seus naturais, tomou o partido de Castela. Vila Viçosa só voltaria a ser portuguesa após a batalha de Aljubarrota, sendo doada pelo rei D. João I ao Condestável D. Nuno Álvares Pereira.
O Castelo dos Duques de Bragança
D. Fernando, Conde de Arraiolos por doação de seu avô D. Nuno Álvares Pereira, e 2º Duque de Bragança, pela morte prematura de seu irmão mais velho D. Afonso, instala-se em Vila Viçosa.
Desde então, foi este o lugar de eleição dos Duques de Bragança, que residem na alcáçova do castelo de 1422 a 1502, quando se inicia a construção do Paço do Reguengo, atual Paço Ducal de Vila Viçosa.
As funções exclusivamente militares que o castelo assume a partir do século XVI, exigem alterações profundas.
Os duques D. Jaime I e D. Teodósio I construíram, seguindo os modelos italianos de praças ultramarinas, o resistente castelo artilheiro. O seu traçado de castelo artilheiro, único em Portugal, deve-se às obras promovidas por D. Teodósio I, com traça de Benedetto da Ravenna, o arquitecto responsável pela Fortaleza de Mazagão no Norte de África.
A reestruturação do castelo, na época das Guerras da Restauração, ficou a dever-se à posição estratégica que a vila detinha em relação a Castela.
A planta quadrada, com dois torreões em ângulos opostos, o aspecto compacto e os mecanismos defensivos inovadores – galerias antiminas e canhoneiras fortificadas para fogo cruzado – são características singulares que fazem deste castelo uma das jóias da arquitectura militar portuguesa.
De novo, em 1662, Schomberg fortifica-o, para o último grande episódio bélico vivido por esta fortaleza, a vitória sobre o exército castelhano comandado pelo Marquês de Caracena na batalha de Montes Claros, em Junho de 1665. Até finais do século XIX albergou um regimento de Infantaria.
Foi ainda durante o século XVII, que o Duque D. Teodósio II patrocionou a construção da Capela de Nossa Senhora dos Remédios e do Arco dos Remédio e que a maioria dos objetos de luxo e as tapeçarias que estavam no Castelo de Vila Viçosa foram transferidas para o Paço.
No século XIX, durante os reinados de D. Pedro V, D. Luís I e D. Carlos I, o Castelo de Vila Viçosa era ocupado pelas unidades militares que protegiam os monarcas enquanto estes se encontravam aí.
Ao longo do século XX, o Castelo de Vila Viçosa foi alvo de diversas obras que o deixaram com a configuração atual.
Restauradas as muralhas nos anos 30/40 do século XX pela Direção Geral dos Edificios e Monumentos Nacionais, a conservação das muralhas e alcáçova do Castelo de Vila Viçosa têm sido promovidas pela Fundação da Casa de Bragança.
Dentro do recinto amuralhado encontra-se a Igreja Matriz, santuário que alberga a imagem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Também no interior está o Solar da Padroeira de Portugal, ponto de paragem obrigatória e, mesmo ao lado, no cemitério jazem os restos mortais da poetisa Florbela Espanca, natural de Vila Viçosa. Por fim, no interior da alcáçova do castelo o visitante pode descobrir os Museus da Caça e de Arqueologia.
A subida às muralhas oferece uma vista ampla sobre o perímetro urbano de Vila Viçosa e uma perspectiva única sobre o verdadeiro postal ilustrado que são a Avenida Bento de Jesus Caraça e a Praça da República, repletas de laranjeiras.
Museu de Arqueologia
Em Maio de 1999 abriu ao público a coleção de Arqueologia que se encontra no Castelo de Vila Viçosa. Este espaço expositivo foi inteiramente remodelado e modernizado, tendo as peças sido sujeitas a estudo, consolidação e restauro.
A coleção é apresentada cronologicamente ao longo dos espaços que se distribuem pelo piso térreo. Embora todos os períodos estejam representados, é inegável o peso dos núcleos dedicados à presença romana, que aparece retratada nos vários aspectos do quotidiano, através do abundante espólio – sobretudo cerâmica – recolhido em inúmeras campanhas de escavação nesta região.
O espólio reunido resulta, na sua maioria, de trabalhos efectuados na zona do Alto Alentejo por António Dias de Deus e Luís Agostinho, funcionários da Colónia Penal de Vila Fernando.
O volume e importância dos achados interessou Abel Viana, que organizou e estudou as peças e foi o responsável pela criação e organização do museu.
Podem igualmente ser vistas algumas peças que pertenceram às colecções arqueológicas reunidas pelo rei D. Luis I e elementos arquitetónicos de vários períodos que foram sendo recolhidos na sequência das sucessivas obras no património edificado de Vila Viçosa e arredores.
Museu da Caça
O Museu da Caça representa um importante núcleo museológico quer pela qualidade e quantidade dos objectos expostos, como pela originalidade do projecto que lhe deu vida dentro do panorama nacional.
Recentemente criado, foi efetuada a simbiose entre espaços arquitetónicos carregados de história e importantes pelo seu valor artístico intrínseco e as coleções que aí se decidiu expor.
Patente no Castelo de Vila Viçosa, está a colecção que o engenheiro Manuel Lopo de Carvalho, antigo membro da Junta da Casa de Bragança, ali depositou e que a Fundação por sua vez se obrigou a expor condignamente.
Esta coleção de espécies venatórias foi recentemente doada à Fundação pelos herdeiros do colecionador.
O conjunto inclui numerosas aves europeias e troféus de caça de origem africana, bem como alguns exemplares provenientes das colecções reais, como o crânio de elefante pigmeu.
O grande núcleo de artefactos indígenas (cerca de 200 exemplares) foi constituído por membros da Família Real. O conjunto mais numeroso, constituído por armas cerimoniais, provém de Moçambique e Angola e foi oferecido quando da viagem às antiga colónias ultramarinas do Príncipe D. Luís Filipe, em 1907.
A colecção de armas de fogo integra numerosos exemplares de carabinas de caça e peças que estiveram associadas a excursões científicas do rei D. Carlos: canhões arpoeiros e pateiras.