Duas unidades móveis estão a auscultar, de porta a porta, a população das aldeias afetadas pelo incêndio de Pedrógão Grande, que atingiu também Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, e que provocou 64 mortos e mais de 200 feridos.
Durante dois meses, estas duas viaturas vão transportar técnicos da Segurança Social, do Notariado e Registo e da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro e percorrer 213 localidades dos três concelhos.
O objetivo, segundo Sofia Pereira, do Instituto de Segurança Social, é proporcionar “um contacto mais próximo com as pessoas”, sobretudo com aquelas que não se conseguem deslocar aos serviços locais da Segurança Social, e dar uma resposta mais integrada às necessidades da população.
As pessoas “procuram algum acompanhamento social, apoio no preenchimento de requerimentos de prestações sociais e de algum subsídio e, fundamentalmente, apoio para a agricultura”, sublinhou a responsável nacional pela área da ação social.
As unidades móveis, que foram cedidas pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, estão apetrechadas com equipamentos informáticos e permitem um atendimento mais calmo e personalizado à população.
Este serviço começou no dia 28 de agosto e passados quatro dias tinha visitado 17 localidades e atendido 130 pessoas, a maioria nas aldeias de Nodeirinho e Figueira, no concelho de Pedrógão Grande, duas das mais afetadas pelo incêndio que deflagrou a 17 de junho.
A agência Lusa acompanhou a viatura que se deslocou para Outão, no concelho de Pedrógão Grande, uma aldeia com cerca de duas dezenas de habitantes, e assistiu ao atendimento de quatro pessoas, que se queixam dos poucos apoios financeiros para os prejuízos que tiveram.
“Ardeu-me tudo, o pinhal, o trator, as hortas e uma casa de arrumos, que dá um prejuízo de 9.500 euros, mas só me querem dar cinco mil euros. Para receber mais tenho de me coletar, mas já não tenho idade para isso”, enfatiza Guilhermina Santos, de 80 anos.
A octogenária, que reside sozinha, vai ter agora de aguardar por dois técnicos agrícolas para mostrar o que o fogo lhe destruiu.
As dúvidas de José Fernandes Lopes, de 90 anos, também se prendem com o valor a receber dos prejuízos causados pelo incêndio, que lhe destruiu propriedades agrícolas e florestais, uma casa de arrumos e ainda um barracão.
“Só para restaurar a casa 20 mil euros não chegam e, no resto, não sei dar um valor. Querem-me dar 10 mil euros para tudo [estragos nas propriedades agrícolas e casa de arrumos]”, dos quais cinco mil euros para arranjar a casa”, contou.
Conformado com a situação, José Fernandes Lopes desabafa: “o que hei de fazer, mal de quem fica mal”.
Maria Madalena de Jesus, que tem 38 anos, uma das pessoas mais novas a ser atendidas na unidade móvel, quis saber o que aconteceu à sua ficha de prejuízos, que não tinha dado entrada no sistema informático.
Apesar de contabilizar prejuízos ao nível florestal e de árvores de fruto que rondam os 20 mil euros, Maria Madalena de Jesus disse que também só vai avançar com o pedido de apoio até aos cinco mil euros para o setor agrícola.
O mesmo sucede com Albano Assunção Graça, representante de Maria do Carmo Sacramento, de 79 anos, a quem ardeu pinhal, árvores de fruto e um barracão, cujos prejuízos também atingem alguns milhares de euros.
“Então a minha tia vai-se coletar para receber mais de cinco mil euros?”, questiona Albano Graça, proprietário de uma empresa de comércio e montagem de pneus, que também sofreu milhares de euros em prejuízos, que ainda não estão contabilizados.
A maioria dos produtores agrícolas, adianta, estão a optar pelo processo simplificado de apoios até cinco mil euros “porque já estão saturados de ir a reuniões e de serem obrigados a coletarem-se”.
Seis feridos continuam hospitalizados
Seis feridos na sequência do incêndio que deflagrou em junho em Pedrógão Grande continuam hospitalizados, dois dos quais bombeiros, informou o gabinete de crise que acompanha a resposta da Saúde.
O bombeiro da corporação de Castanheira de Pera que está internado no Hospital de Santa Maria (Lisboa) “está em boa recuperação” e o outro operacional hospitalizado no São João (Porto) também recupera, já estando a “respirar por si”, disse à agência Lusa o membro do gabinete de crise da Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC) António Morais, sublinhando que a recuperação, nos dois casos, “ainda vai demorar o seu tempo”.
No Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) continuam internados três feridos, dois dos quais na unidade de queimados e uma mulher na ortopedia, face às “várias fraturas” que sofreu, referiu.
O homem internado em Valência (Espanha) “é o único que mantém o prognóstico reservado”, registando uma “recuperação mais lenta”, acrescentou António Morais.
Segundo este responsável, há ainda quatro pessoas em unidades de cuidados continuados: um no Montijo, dois em Figueiró dos Vinhos e um em Pedrógão Grande.
No início de julho, na sequência do incêndio de junho em Pedrógão Grande que resultou na morte de pelo menos 64 pessoas, havia 19 pessoas hospitalizadas.
Para além dos feridos deste incêndio que estão hospitalizados, António Morais afirmou ainda que na sequência dos incêndios registados nos distritos de Castelo Branco e Santarém há dois internados no CHUC, dois no Hospital da Cova da Beira (Covilhã) e dois no Hospital de Santa Maria (Lisboa), um deles bombeiro da corporação de Vieira de Leiria.
O incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande no dia 17 de junho, no distrito de Leiria, provocou pelo menos 64 mortos e mais de 200 feridos, e só foi dado como extinto uma semana depois.
Mais de dois mil operacionais estiveram envolvidos no combate às chamas, que consumiram 53 mil hectares de floresta, o equivalente a cerca de 75 mil campos de futebol.
O fogo chegou ainda aos distritos de Castelo Branco, através da Sertã, e de Coimbra, pela Pampilhosa da Serra e Penela.