O Castelo de Beja localiza-se no extremo da cidade. Esta fortificação medieval é flanqueada por seis torres, incluindo a de Menage, a mais alta e uma das mais belas do território nacional. Apresenta uma vista fantástica vista sobre a cidade de Beja e a planície alentejana em redor.
O local que albergou o castelo era ocupado já na pré-história. Foi também mencionado nos escritos de Políbio – geógrafo e historiador grego que nasceu em 200 a.C. (antes de Cristo) e faleceu em 118 a.C., e de Ptolomeu – cientista grego que viveu entre 100 d.C. (depois de Cristo) e 168 d.C.
A fortificação data da invasão romana da Península Ibérica, possivelmente pela importância que a localidade adquiriu no cenário regional: foi escolhida por Júlio César para formalizar a paz com os Lusitanos, no ano de 49, e passou a denominar-se ‘Pax Julia’.
Era esso o nome da atual cidade de Beja no tempo do domínio romano da Península.
Conquista e reconquista
Acredita-se que os muros de defesa romanos remontem a algum momento entre o século III e o século IV. Essa relevância econômica e estratégica manteve-se à época dos Suevos, dos Visigodos e sob a ocupação Muçulmana.
Por altura das batalhas pela reconquista cristã da Península Ibérica, a localidade foi inicialmente conquistada pelas forças de D. Afonso Henriques em 1159, para ser abandonada quatro meses mais tarde. Alguns anos depois, em dezembro de 1162, foi reconquistada de surpresa por uma expedição de populares idos de Santarém.
Nos anos que se seguiram, posteriormente à derrota daquele soberano no cerco de Badajoz (1169), o cavaleiro Gonçalo Mendes da Maia, conhecido com ‘O Lidador’, já nonagenário, perdeu a vida na defesa das muralhas de Beja. Alguns estudiosos acreditam que a grande ofensiva almóada (uma dinastia proveniente de Marrocos) de Abu Yusuf Ya’qub al-Mansur até ao rio Tejo, em 1191, após ter reconquistado Silves, compreendeu também a reconquista de Beja, permanecendo em poder dos cristãos apenas Évora, em todo o Alentejo.
Supõe-se ainda que a povoação teria retornado a mãos portuguesas apenas entre 1232 e 1234, época em que as vizinhas Moura, Serpa e Aljustrel, documentadamente, retornaram.
A primeira restauração dos muros de Beja data do reinado de D. Afonso III (1248-79), que as fez iniciar a partir de 1253, com recursos oriundos, por dez anos, por dois terços dos dízimos das igrejas de Beja. No ano seguinte a povoação recebeu o seu foral nos mesmos termos do de Santarém, confirmado em 1291 no reinado de seu filho, D. Dinis (1279-1325). Este, por sua vez, prosseguiu as obras de reconstrução, reforçando e ampliando as muralhas e torres, em 1307, e iniciou a construção da torre de menagem, em 1310.
No século XV, sob o reinado de D. Afonso V (1438-1481), a vila foi elevada a ducado, tendo como 1° duque de Beja o seu irmão, o infante D. Fernando e, posteriormente, o rei D. Manuel I (1495-1521). No reinado deste último soberano têm lugar grandes obras de beneficiação das defesas da vila, elevada a cidade em 1517.
Da Guerra da Restauração aos nossos dias
Até ao século XVII, o Castelo de Beja passou por diversas ampliações e modernizações, particularmente no contexto da Guerra da Restauração da independência portuguesa, quando foi reforçado por baluartes.
Cerca de um século mais tarde, parte das suas muralhas foi demolida e a sua pedra utilizada na construção da nova igreja do extinto Colégio dos Jesuítas, para sede do Paço Episcopal (1790).
No início do século XIX, com a eclosão da Guerra Peninsular, a cidade de Beja opôs resistência às tropas invasoras de Napoleão. Como resultado, as forças sob o comando do general Jean-Andoche Junot, mataram cerca de 1.200 pessoas na região, em 1808. Poucos anos mais tarde, as Guerras Liberais fizeram novas vítimas entre a população.
Uma das mais belas torres…
O castelo foi classificado como Monumento Nacional por Decreto publicado em 16 de junho de 1910. A partir de 1938 o castelo passou por obras, realizadas pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais e que desobstruíram e consolidaram as portas de Évora e reconstruíram a cobertura da alcáçova.
Duas décadas mais tarde começaram os ciclos de obras de fortificação dos troços das muralhas e de recuperação da Torre de Menagem, que se prolongaram por várias fases. Em 2016, após obras de reparação, a torre de menagem foi reaberta ao público.
É considerada pelos investigadores uma das mais belas torres de menagem de Portugal. Projetada por arquitetos ou mestres desconhecidos, é composta por três salas. A primeira sala, ao nível térreo, é iluminada por três frestas estreitas e a sua é decoração composta por bocetes naturalistas e alvéolos de inspiração muçulmana. Na face leste parte a escada que dá acesso ao segundo e terceiro andar e terraço, num total de 183 degraus.
A segunda sala é a mais bela do castelo, de acordo com a descrição de Túlio Espanca: “(…) magnífica é a cobertura octogonal, de ogivas e nervagem polinervada, assente em modilhões com cordão boleado e capitelação esculpida graciosa e pitorescamente com figuras atlantes e anjos, nas mais esforçadas posições”.
Na terceira sala, mais simples, destacam-se sobretudo as decorações figurativas antropo-zoomórficas (seres cujo corpo é parte humano e parte animal) e a particularidade das inúmeras siglas de canteiros que participaram na construção ao longo dos séculos XIV/XV. A partir desta sala se pode apreciar um dos mais belos panoramas de Beja: a planície no seu esplendor.
De referir ainda que na praça de armas encontra-se a Casa do Governador, edifício que sofreu profundas alterações nos finais da década de 30, no sentido de valorizar e conservar o Castelo de Beja.
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