Leonor Freitas e a filha, Joana Freitas, representam a 4ª e 5ª geração da família à frente desta casa agrícola onde há “um grande amor pelas vinhas” e pelo que nelas se produz.
O ‘Mundo Português’ regressou a esta casa vitivinícola que não para de crescer em investimentos em mais hectares de vinha e nas suas instalações, com o enoturismo a fazer parte dos projectos. O jornal foi recebido pela 5ª geração desta família: Joana Freitas, filha de Leonor Freitas e responsável pelas áreas Comercial e Financeira e de Relações Públicas.
Sua mãe é a mulher que tomou conta das vinhas de Fernando Pó e abandonou a sua formação académica em Serviço Social pelo amor à terra e às vinhas, depois de ter herdado 60 ha de vinhas de apenas duas castas – Castelão e Fernão Pires. Com o seu espírito inovador e diferenciador, Leonor Freitas introduziu uma diversidade de castas como Trincadeira, Touriga Nacional, Aragonês, Syrah, Alicante Bouschet, entre outras. Hoje, 29 castas diferentes vincam mais de 90 anos de uma produção vitivinícola que passou de geração em geração, com uma tão forte ligação à terra.
Como em tantas outras empresas familiares, a criação de uma marca própria revelou-se igualmente um trampolim no mercado. Seguiu-se a compra de terras, a plantação de novas vinhas e a criação de uma adega com equipamentos modernos que integra no mesmo edifício um conjunto de áreas: produção, estágio em barricas de carvalho e engarrafamento de vinhos.
Hoje a Casa Ermelinda Freitas emprega emprega cerca de 80 pessoas, sendo proprietária neste momento de 440 hectares de vinha, onde a casta maioritária é o Castelão. Dada a sua localização privilegiada da exploração, nela são produzidos alguns dos melhores vinhos da região. Vinhos que correm mundo e são exportados para mais de 30 países. Pelo trabalho desenvolvido, Leonor Freitas foi agraciada a 10 de Junho de 2009 com a comenda de Ordem do Mérito Agrícola, Comercial e Industrial Classe do Mérito Agrícola Comendador pelo então Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva.
A Joana Freitas é a quinta geração desta família que nasceu para produzir vinhos. Cursou enologia…
É verdade, sou a 5ª geração. Tirei o curso de Gestão e mais tarde uma pós graduação em Enologia e Marketing. Sempre gostei muito do sector da enologia e vinicultura, foi criada neste mundo e ainda pensei ir para Enologia, mas optei no sentido de profissionalmente ficar na empresa e que a gestão deveria ficar na família. Conheci a minha avó Ermelinda Freitas, que faleceu há quatro anos, bem como a bisavó, Germana. Tenho um irmão cujo gosto é mais a informática, que está na empresa. Assim como a minha mãe que veio para os vinhos por amor e não conseguiu vender a empresa aquando da morte do meu avô dado ser filha única, eu, que nasci neste mundo dos vinhos, tenho uma grande amor pelas vinhas e pelo que faço.
Os investimentos tem sido um ponto assente desta empresa?
Permanentes, os investimentos tem sido permanentes, hoje totalizam 440 hectares de vinha e investimos nas vinhas, estruturas na adega e no enoturismo, e vamos arrancar em força a receber visitantes, turistas, e mesmo sem qualquer divulgação, já começamos a receber muitas visitas. Vamos ter um circuito em parceria com a CP (Comboios de Portugal), dado em frente à adega se situar o apeadeiro de Fernando Pó, da linha do Alentejo. E o comboio Intercidades, vindo de Lisboa e com destino a Évora, aqui fazer paragem (dois dias por semana, quintas e sábados) no regresso proporcionando aos turistas uma rota ferroviária e de vinhos com almoço nas nossas instalações visita às vinhas e duas adegas, com degustação de produtos regionais.
Os vossos vinhos correm o mundo e há muito que deixaram este nosso ‘retângulo’. Quanto ronda a vossa produção ou venda por ano e o que representa a exportação para a Casa Ermelinda Freitas?
Os nossos vinhos, seguindo a tradição deste povo emigrante e lutador, foram lá para fora apoiados nas comunidades portuguesas no estrangeiro, que muito divulgam Portugal. Depois começamos na descoberta de outros. Sem nunca desvalorizar os nossos portugueses.
Numa entrevista que nos deu e já lá vão cinco anos, a sua mãe referia: “(…) para nós o cliente lá fora, muito mas muito importante, são os nossos emigrantes. Nós temos uma riqueza enorme espalhada pelo mundo que são os nossos emigrantes, os portugueses residentes no estrangeiro preferem os produtos portugueses, nomeadamente o vinho. Eu exporto muito para o Luxemburgo e fui lá para agradecer aos portugueses, para agradecer o trabalho que eles estão a fazer. Vim de lá sensibilizadíssima. Eles são a via de acesso aos naturais dos países onde estão presentes. Para mim o mercado da emigração é essencial”. Comunga dessas afirmações?
As palavras da minha mãe são muito atuais. É um mercado que não pomos de forma alguma de lado ou lhe damos menos atenção e continuamos a crescer nele, quer no Luxemburgo quer noutros países. Exportamos presentemente muito bem para o Brasil, e em 2012 quando a minha mãe deu essa entrevista não estávamos no Brasil. Este ano de 2017 vamos chegar à Rússia, bem como a China, que é um mercado em crescimento.
A exportação representa 40% e mantém essa taxa, mas como um volume muito maior de litros exportados, já quem de 2012 até 2017 quase que duplicámos a área de vinha. Chegamos a mais de 30 países e vinificamos 12 milhões de litros ano. Mas ainda podemos crescer muito mais nos países onde estamos, temos que continuar sempre a divulgar a qualidade dos vinhos de Portugal.
A vossa aposta na inovação tem conquistado prémios, não esquecendo em 2008 o prémio internacional do ‘Melhor Vinho Tinto do Mundo’…
Sim, em 2008 conquistámos o prémio de ‘Melhor Tinto’ no concurso Vinailes Internacionales com o nosso Syrah 2005, tendo sido considerado o melhor vinho do mundo nesta competição. Mas até hoje já conquistámos muito mais do que as 72 medalhas de ouro ganhas na altura e sessenta e muitas de prata. Tudo graças ao enólogo da Casa que já faz parte da família, Jaime Quendera.
A vossa aposta no SISAB PORTUGAL repete-se ano após ano. O evento tem trazido frutos à Casa Ermelinda Freitas?
Claro. O SISAB PORTUGAL é o evento em Portugal que mais pessoas dos mercados internacionais trás. O SISAB é a conquista de novos mercados e o reencontro com os atuais clientes que nos visitam nesta feita.
Quais são os projetos futuros para a casa Ermelinda Freitas?
Consolidar cada vez mais a qualidade, vender mais vinhos, exportar. A nossa aposta é na exportação e no enoturismo. É quase uma obrigação nossa apostar no enoturismo. Trazer pessoas, fazer parcerias com pessoas no setor do turismo. A vinha e o vinho são um produto turístico.
A Casa Ermelinda Freitas disponibiliza visitas às vinhas e às instalações. Inclui prova de cinco vinhos acompanhada de produtos típicos da região, com a duração aproximada de 1h15min. Esta pode ser realizada em português, inglês e francês com uma marcação prévia de pelo menos dois dias.A Casa Ermelinda Freitas tem estabelecido parcerias com agentes de turismo na região para a realização de visitas com preços previamente acordados.
Temos um grande objetivo que é ajudar a prestigiar o trabalho rural, este meio rural em que estamos e, para provar isso e tudo o que a nossa família fez, inaugurámos na altura ainda pelo Presidente da República Cavaco Silva o ‘Espaço de memórias e afectos’, um espaço museológico e de memórias da família e dos trabalhos na vinha e na adega.
Mostra o que a região de Fernando Pó era há uns anos atrás e toda a evolução deste setor. Queremos continuar a promover a Casa Ermelinda Freitas, e a região (Península de Setúbal) e Portugal. E enviamos aos nossos consumidores e em especial aos emigrantes o nosso muito obrigado.