A Carmim tem ultrapassado os problemas decorrentes do decréscimo na sua capacidade de comercialização de vinho e azeite. O seu atual presidente revela que o passivo reduziu-se para metade e pagam-se melhor as uvas aos associados
“A CARMIM ao longo dos seus mais de 46 anos conheceu diversos presidentes, uns com mais sucesso outros com menos, e por isso atravessou diferentes períodos com diferentes resultados comerciais”, começa por explicar o atual presidente da Cooperativa Agricola de Reguengos de Monsaraz.
Miguel Feijão acrescenta que, porém, a partir de 2010/2011 “começou a verificar-se um grande decréscimo na sua capacidade de comercialização de vinho e azeite”. “A última direcção esteve cinco mandatos de três anos e tinha um director-geral que sempre os acompanhou ao longo desse tempo. Acabaram por se ir acomodando e não tiveram a inteligência suficiente para se adaptarem às exigências maiores do mercado e sobretudo às suas mudanças permanentes”, diz ainda nesta entrevista ao ‘Mundo Português.
E a nível internacional isso também aconteceu?
A nível internacional optaram pela forma mais fácil, que foi contratar um diretor geral para a exportação a quem conferiram plenos poderes e que ao longo de 3 anos trabalhou e estruturou a seu belo prazer, sem que a direcção se apercebesse atempadamente daquilo que estava a ser feito.
Isso criou obviamente algum mal estar entre os sócios?
Todos estes factos despertaram um grupo de associados para a necessidade de travar este decréscimo da CARMIM e da consequente colocação em risco da rentabilidade dos associados.
Mas entretanto as coisas já melhoraram?
Termina este ano a 24 de junho o primeiro ciclo de três anos, em que a direção actual teve como tarefa prioritária o restabelecimento da credibilidade comercial e gerar no mercado de novo a apetência e o desejo do consumo dos produtos da CARMIM. Esta acção resultou num acréscimo de faturação, tendo em dois anos passado de 20 milhões de euros para muito perto de 30 milhões de euros, o mesmo acontecendo na exportação com um peso na faturação global da ordem dos 20 a 25 por cento. Diga-se também que o preço médio das nossas vendas aumentou 16 por cento e as nossas grandes marcas passaram a estar presentes no mercado como desde há muito tempo não se via. Com esta evolução, a venda de vinho a granel de baixo valor e que chegou a ser de 7 milhões de litros anuais, foi substancialmente reduzida e em 2016 foi mesmo de zero.
Houve portanto um aumento das vendas de vinho engarrafado?
Passámos de uma produção anual em 2014 de cerca de 9 milhões de garrafas, para 14 milhões e meio que alcançámos em 2016. Recordo aqui que em 2013 e 2014 as linhas de engarrafamento passaram muitos dias sem necessidade de trabalhar, tendo nos últimos dois anos necessidade de fazer muitas horas extraordinárias e trabalhar algumas vezes ao fim de semana.
Como balanço final desta mudança de realidades foi possível reduzir o endividamento que, no final de 2013 roçava os 14 milhões de euros, para 6,5 milhões no final de 2016.
E esta nova situação reflectiu-se no rendimento dos associados?
Também aqui houve progressos significativos e muito importantes. Conseguiu-se passar dos 38 cêntimos/kg de uvas que foram pagos aos associados desde 2011 até 2014, para os 41 cêntimos em 2015 e para os 47 cêntimos em 2016.
Apesar de tudo os sócios têm sido invadidos com informações menos verdadeiras e tendenciosas, afirmando que para pagar as uvas a este preço, gerámos um brutal buraco financeiro na CARMIM. Aqui só posso dizer aos associados que aguardem calmamente a publicação do Relatório e Contas, onde podem verificar pessoalmente, ou pedindo ajuda aos seus contabilistas , a forma como a CARMIM reduziu neste período o seu endividamento, aumentando o valor pago pelas uvas e conseguindo a subida de preço médio dos vinhos .
E o futuro vai trazer mais crescimento?
De há uns tempos para cá que a CARMIM tem estagnado e até mesmo diminuído a área global de vinha detida pelos associados um pouco até pela dificuldade que havia em escoar a própria produção. Hoje em dia atendendo ao mercado, a CARMIM encara a possibilidade de, no mínimo, atribuir os hectares de vinha correspondentes, aos que se têm perdido por abandono de actividade ou saída de associados.
Enfim, aproxima-se um ato eleitoral e, nessa data, é o momento para que os associados possam decidir, não só o seu futuro mas o próprio futuro da CARMIM, de forma a que se possa continuar no sentido do reforço da sustentabilidade e no acréscimo de rendimento que todos temos vindo a sentir nas nossas explorações.
As escolhas do presidente
Fizemos um desafio a Miguel feijão. Se convidasse um grupo de amigos para jantar e os quisesse impressionar com os vinhos da CARMIM, quais escolheria? A resposta foi rápida e sem hesitações…
– Para acompanhar um prato de peixe, este ano escolhia um Rosé fresquinho que é uma novidade que a CARMIM acaba de lançar no mercado. Trata-se de um vinho com 70 por cento de Aragonez e trinta de Castelão.
Vinificação: As uvas são apanhadas à mão pelos associados e descarregadas, sendo de imediato desengaçadas e esmagadas. Depois são maceradas durante 18 horas a uma temperatura de 10 graus. Parte do mosto é separado e fermentado em depósitos de inox a 16º.
Estágio: Depois são submetidos a diversas provas de selecção sendo os melhores devidamente identificados e estabilizados, resultando daí o lotes que dará origem à marca Monsaraz Rosé.
Gastronomia: Trata-se de um vinho que acompanha com saladas, mariscos, pratos de peixe e carnes brancas, podendo também ser servido como aperitivo
– Para acompanhar um prato de carne, escolhia um Monsaraz Reserva Branco garrafeira dos sócios que não sendo propriamente uma novidade é sempre um vinho que se bebe com o encanto dos vinhos CARMIM.
Vinificação: Vindima manual de talhões seleccionados, com prensagem suave, seguida de clarificação estática a 10º durante 48 horas. Fermentação parcial em depósitos de inox seguida de passagem para barrica de parte do lote fina.
Estágio: Após “battonage” durante seis meses é efetuado o lote final sendo engarrafado em seguida, cumprindo um mínimo de dois meses de estágio em garrafa.
Consumo: As garrafas devem repousar deitados, com o vinho em contacto com a rolha, em local fresco e com alguma humidade, condições que devem manter-se estáveis ao longo do ano. Só assim de poderá conservar nas melhores condições