Os dez objetivos para a difusão da Língua Portuguesa

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“A língua portuguesa é um dos bens culturais e políticos mais importantes do nosso tempo”. (…) A consciência dos recursos e dos desafios, do valor e dos bloqueios, é que nos permite avançar com segurança (…)”, afirma o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal.

“A língua portuguesa é um dos bens culturais e políticos mais importantes do nosso tempo”, defende o ministro dos Negócios Estrangeiros no início do prefácio que assina no ‘Novo Atlas da Língua Portuguesa’.
Um bem com uma “dupla dimensão” – cultural e política – e que “se projeta em todos os continentes”, reforça Augusto Santos Silva.
Lançado em novembro do ano passado, o ‘Novo Atlas da Língua Portuguesa’ reúne informações sobre muitos aspetos da expressão global da língua portuguesa, como números atuais da sua projeção, um panorama amplo sobre o ensino, dados sobre as populações dos países de língua portuguesa e as suas várias diásporas e um vasto conjunto de indicadores geográficos, económicos, financeiros, comerciais, de mobilidade humana e de inserção nas várias organizações internacionais dos países membros da comunidade dos países lusófonos.
Foi no prefácio desta obra global sobre a presença atual e a projeção futura da língua portuguesa no mundo, que o ministro dos Negócios Estrangeiros enumerou os dez objetivos da ação do Camões, I.P. para a sua consolidação e difusão. “Não chega dizer que a língua portuguesa é uma das mais faladas em todos os continentes e com enorme potencial económico”, alerta Santos Silva, assegurando que “são reais as dificuldades que a sua difusão enfrenta, quer nalguns países lusófonos, quer fora deles”.
Para os ultrapassar, a formação de professores de português é o primeiro instrumento de consolidação e difusão da língua destacado pelo ministro. Docentes de português como língua materna, língua segunda ou língua nacional, “que por sua vez é uma das formas mais produtivas de apoiar os diferentes países de língua portuguesa a desenvolver os seus sistemas de educação básica e secundária”. Formação, endenda-se, num sentido vasto, onde se incluem bolsas de estudo, cursos, materiais pedagógicos, base de dados e plataformas de informação, entre outras ferramentas de ensino.

Língua de herança e Língua estrangeira
Em segundo lugar, aponta a garantia da existência de uma rede transnacional de ensino do português como língua de herança, dirigida primordialmente às comunidades portuguesas no estrangeiro, “não numa lógica de fechamento à interação com os sistemas de ensino das sociedades de acolhimento, mas, pelo contrário, favorecendo essa interação”, alerta, dando como exemplo a declaração assinada pelas autoridades francesas e portuguesas em junho de 2016, que vem permitir a transição gradual do ensino do português como língua de origem para língua estrangeira, integrada nos currículos do sistema escolar francês.
A integração do português como língua estrangeira nos curriculos de ensino pré-superior, “no maior número possível de países, em vários continentes” é, aliás, a terceira aposta enumeradA por Santos Silva. E são vários os exemplos dos países onde tal já acontece – Espanha, Bulgária, Roménia, República Checa, Hungria, Itália, Senegal, Namíbia ou Uruguai. Igualmente decisivo, acrescenta, é a “futura credenciação das competências em língua portuguesa para a progressão de estudos superiores”.

Rede de ensino superior
O desenvolvimento de uma rede de licenciaturas e pór-graduações, de cátedras e leitorados, de centros de língua e cultura portuguesa, ou a sua integração como disciplina curricular noutros cursos, é outra “tarefa” do Camões, I.P. na dinamização do português. Em quinto lugar, o ministro aponta o fomento da oferta de cursos de português, com uma variedade de duração e de níveis, voltados especificamente para profissionais a trabalhar em áreas como a administração pública, negócios, turismo ou a cooperação para o desenvolvimento, sempra com a certificação dos manuais e, da qualificação dos professores e também das aprendizagens e nivel de competência dos alunos.
Outro desafio relaciona-se com a promoção do português como língua utilizada ou a utilizar, em organizações internacionais. Apesar de já ser uma língua oficial ou de trabalho em 33 desses organismos – como a União Europeia e a União Africana e ainda várias agência das Nações Unidas -, a verdade é que a sua ‘oficialização’ pode ser muito maior.
O objetivo prioritário a todos os países que o partilham deverá ser “tornar o português numa das (hoje, seis) línguas oficiais das Nações Unidas”, defende Augusto Santos Silva. E, nesse sentido, é fundamental a qualificação de tradutores e intérpretes em português.

A cooperação…
… é o sétimo desafio do Camões, I.P., segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros. A cooperação em língua portuguesa, entre os países de língua portuguesa. “Quanto mais central for o exido da educação e formação na cooperação, quanto mais ela apostar na capacitação dos recursos humanos e na estrutura de quadros profissionais e quanto mais aproveitar o valor literário e comunicacional do português, melhor será para sustentar os resultados da cooperação”, alerta. E com a cooperação, aumentam a força e a projeção da língua que nos une.
Mas a internacionalização passa também pelo ensino superior realizado em língua portuguesa e pela ciência comunicada também em português. Em Portugal, há milhares de estudantes estrangeiros a frequentar universidades, assim como há cientistas de vários países a desenvolver investigação neste país. Em relação a este universo, Santos Silva não defende que se deva “retroceder” no uso, desde logo, do inglês na produção e divulgação de conhecimento, mas também sublinha que “não é menos paroquial a reverência face à língua inglesa, como se ela fosse o substituto universal de todas as outras”.
O que o ministro defende, é a o desenvolvimento de políticas das quais resulte “o aumento de conteúdos disponíveis na nossa língua, nas várias plataformas e redes digitais”, assim como o aumento das publicações científicas em português e o ensino nesta língua, “em Portugal e noutros Estados ‘lusófonos’, e também noutros países, para estudantes estrangeiros”.

Dinamização também passa pela Cultura
O penúltimo desafio relaciona-se com a ação cultural externa desenvolvida por Portugal. Santos Silva refere que a convergência das entidades que promovem a ação cultural externa em português ou relacionada com as artes e o património nacional, assim como a articulação das ações e apoios “de modo a construir progressivamente programas fortes de promoção cultural global”, são também instrumentos “decisivos” para “consolidar e rentabiliar” o valor da nossa língua.
Todos estes desafios/objetivos que se apresentam ao Camões, I.P. na promoção da língua portuguesa confluem, no entender do ministro que tutela o instituto, num décimo: a coperação com congéneres de outros países, e não apenas os dos restantes países lusófonos. Neste rol, o titular da pasta dos Negócios Estrangeiros inclui as universidades e institutos superiores que um pouco por todo mundo oferecem cursos ou unidades curriculares em estudos portugueses, as instituições culturais que relalçam as culturas lusófonas e também os públicos que procuram uma formação básica ou avançada, por entenderem que o português é util na sua vida.

Ana Grácio Pinto

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