Este é o grande dilema das Nações Unidas, organização que se debate no meio de uma teia constituída pelos interesses dos seus membros. Todos querem reformar a organização, mas ninguém quer ceder nos seus interesses, pensando sempre que “o outro” fica mais beneficiado.
A seguir à Segunda Grande Guerra, o Comité Francês de Libertação Nacional demorou para ser reconhecido pelos Estados Unidos como o governo oficial da França, e, com isso, o país foi inicialmente excluído das conferências que criaram a organização. Charles de Gaulle, adjetivando-a famosamente de “machin” (geringonça ), e disse não crer que uma aliança em prol da segurança global ajudaria a manter a paz mundial, preferindo tratados de defesa diretos entre países.
Também durante a Guerra Fria, tanto Estados Unidos como União Soviética acusaram as Nações Unidas de favorecimento ao outro respetivamente. Em 1953, a URSS forçou a renúncia de Trygve Lie, o secretário-geral, ao recusar negociar com ele; e nas décadas de 1950 e 1960, um popular autocolante que circulava nos Estados unidos dizia: “Não se pode soletrar comunismo sem ONU”.
Em fevereiro de 2003, o presidente dos EUA, George W. Bush, referindo-se à incerteza da fundação em relação às provocações iraquianas sobre o regime de Saddam Hussein, disse que “os países livres não vão permitir que as Nações Unidas desapareça na história como uma sociedade deliberativa ineficiente e irrelevante.”
Por outro lado, o presidente francês, François Hollande, afirmaria em 2012 que “a França confia nas Nações Unidas. Ela sabe que nenhum Estado, não importa quão poderoso, pode resolver problemas urgentes, lutar por desenvolvimento e trazer um fim a todas as crises. A França quer que a ONU seja o centro do governo mundial.”
Críticos como Dore Gold, um diplomata israelita, Robert S. Wistrich, um estudioso britânico, Alan Dershowitz, um estudioso legal estadunidense, Mark Dreyfus, um político da Austrália e a Liga Anti-Difamação consideram que a atenção em relação ao tratamento dado por Israel aos palestinos é exagerada.
Em setembro de 2015, Faisal bin Hassan Trad, da Arábia Saudita, foi eleito presidente do painel do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas que nomeia peritos independentes, um movimento criticado por grupos de direitos humanos.
Desde a fundação, que têm sido feitos pedidos para uma reforma na organização, mas sem consenso em relação a como ela seria feita. Alguns querem que as NU tenham um papel maior ou mais eficiente e sobretudo mais interventivo nos problemas mundiais, enquanto outros querem que seu papel seja reduzido a ações humanitárias. Outros clamores são a Reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, novas maneiras de se eleger o secretário-geral, e a criação da Assembleia Parlamentar das Nações Unidas. Jacques Fomerand afirma que a divisão mais duradoura em vista da ONU é a “divisão norte-sul”, com os países ricos ao norte e os em desenvolvimento ao sul. As nações sulistas tendem a ser favoráveis a uma ONU com mais poderes, com uma Assembleia Geral mais forte e que lhes dê uma maior voz nos dilemas universais, enquanto que os países ao norte preferem uma ONU economicamente “laissez-faire” e que foque mais em ameaças transnacionais como o terrorismo.
Ineficiência burocrática
A ONU também foi acusada de ineficiência burocrática e desperdício. Durante a década de 1990, os Estados Unidos retiveram suas doações por motivos de “ineficiência”, começando um reembolso com a condição de que uma iniciativa de grandes reformas fosse introduzida. Em 1994, um “bureau” dos Serviços de Supervisão Interna (ESSI) foi criado pela Assembleia Geral para servir como observatório de eficiência. Um programa oficial de reforma foi iniciado por Annan em 1997.
As reformas incluem a mudança dos supracitados membros permanentes do Conselho de Segurança (que refletem as relações de poder de 1945); fazer com que a burocracia fique mais transparente, responsável e eficiente; tornar a ONU mais democrática e instituir uma tarifa internacional sobre os fabricantes de armas.
Em setembro de 2005, a ONU convocou uma Cúpula Mundial, que reuniu os chefes da maioria dos Estados-membros, adjetivando-a de “uma oportunidade única em uma geração para tomar decisões audaciosas nas áreas de desenvolvimento, segurança, direitos humanos e da reforma das Nações Unidas.
Kofi Annan propôs que a cúpula concordasse com um “grande contrato global” de reforma das Nações Unidas, que renovaria o foco da organização sobre a paz, segurança, direitos humanos e desenvolvimento, e a tornaria mais bem equipada para o enfrentamento das questões do século XXI.
O resultado da cúpula foi um texto de compromisso acordado pelos líderes mundiais, que incluía a criação de uma Comissão de Consolidação da Paz para evitar que os países emergentes passem por conflitos, um Conselho de Direitos Humanos e um fundo para a democracia, uma condenação clara e inequívoca ao terrorismo “em todas as suas formas e manifestações” e acordos para dedicar mais recursos ao Escritório de Serviços de Supervisão Interna, alcançar as Metas de desenvolvimento do milénio, encerrar o Conselho de Administração Fiduciária devido à realização da sua missão e concordar que a comunidade internacional tem a “responsabilidade de proteger” – o dever de intervir quando os governos nacionais não cumprem sua responsabilidade de proteger seus cidadãos de crimes atrozes contra a humanidade.