Raquel Gaspar, bióloga marinha, juntou-se a mulheres pescadoras do Sado num projeto que está a ajudar a proteger as pradarias marinhas no Estuário do Sado. E acabou de vencer Prémio Terres de Femmes Portugal 2017
A bióloga marinha Raquel Gaspar criou um projeto que envolve as mulheres pescadoras do Sado na proteção das pradarias marinhas. ‘Guardiãs do Mar: salvar o ambiente, preservar empregos’ está a sensibilizar estas mulheres para a eliminação do lixo resultante da mariscagem e das técnicas de pesca agressivas.
E, ao mesmo tempo que permite às que estão desempregadas encontrarem uma nova ocupação baseada na educação marinha, integra as pescadoras ativas nos estudos científicos de monitorização do ambiente marinho.
Agora, acaba de vencer a 8ª edição do Prémio Terres de Femmes Portugal 2017, anunciou a Fundação Yves Rocher, que todos os anos galardoa uma iniciativa na área do eco-empreendedorismo que seja dinamizado por uma mulher portuguesa.
“O ‘Guardiãs do Mar’ inclui um Programa de Educação Marinha, essencialmente dirigido à comunidade escolar, e onde a ‘Ocean Alive’, organização promotora do projeto, propõe atividades como visitas de estudo guiadas, um dia a mariscar com uma guardiã do mar ou uma visita marinha a bordo”, explica a fundação numa nota divulgada aos media.
Raquel Gaspar revela que o prémio, no valor de 10 mil euros, vai permitir a todos que estão envolvidos no projeto, chegarem “mais longe e dar formação a mais 12 guardiãs do mar”. “Acredito na cidadania ativa que faz mudar o mundo, promovendo o voluntariado e a participação de stakeholders (indivíduos estratégicos para um projeto). Se em menos de dois anos conseguimos mais de 700 voluntários nas campanhas de sensibilização e limpeza de praia e o envolvimento de vários agentes locais, universidades e até da Unesco, amanhã poderemos inspirar outros com a paixão do nosso projeto”, defendeu Raquel Gaspar, durante a cerimónia de entrega dos prémios.
Pradarias marinhas: um habitat vital
As pradarias marinhas são o terceiro habitat com mais valor do planeta e que se encontra em declínio acelerado. No caso do estuário do Sado, é fonte de alimento para os golfinhos e principal suporte da pesca local.
“Existem cerca de 55 hectares de pradarias no estuário do Sado e apenas um hectare de pradarias consegue sequestrar 830 toneladas de carbono por ano, o equivalente às emissões de 100 automóveis, e dar um rendimento de cerca de 800 euros aos pescadores locais, por ser berçário da vida marinha”, revela a organização do prémio.
Alerta ainda para o facto de a cada hora, em todo o mundo, o equivalente a dois campos de futebol de pradarias marinhas ser destruído fruto de técnicas de pesca agressivas ou de poluição.
Até agora, as campanhas de sensibilização já promoveram sete ações de limpeza de praia, envolveram 271 voluntários, abordaram 437 mariscadores, apanharam mais de quatro toneladas de lixo e cerca de 12 mil embalagens de sal. Até 2019, a organização do ‘Guardiãs do Mar’ estima que o retorno financeiro para as mariscadoras possa ascender a 20 mil euros.
Além do galardão de eco-cidadã, Raquel Gaspar entrou na corrida ao Prémio Internacional que disputará com outros nove países, bem como ao Prémio do Público, no valor de cinco mil euros, sujeito a votação online em www.yves-rocher-fondation.org/terre-de-femmes/, até 24 de março.
As dezenas de projetos submetidos à 8ª edição do Prémio Terre de Femmes Portugal foram avaliados por um júri nacional independente constituído por representantes da Liga para a Proteção da natureza (LPN), Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território e Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL).
Luísa Schmidt, uma dos elementos do júri e investigadora principal do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, realçou a importância do prémio Terre de Femme, salientando que “juntam-se este ano, neste galardão, dois objetivos de desenvolvimento sustentável particularmente importantes para o nosso futuro em comum: as mulheres e o mar”.
Ana Grácio Pinto