Centro de defesa no meio de um território essencialmente rural, o castelo dos Mouros serviu de ponto de vigia da cidade de Lisboa e das vilas da Ericeira, de Sintra, Cascais, Mafra e Tomar, e ainda das movimentações marítimas no Oceano Atlântico.
Os caminhos vertiginosos deste castelo estendem-se ao longo dos cumes da montanha, bailando por entre grandes rochedos cheios de musgo – alguns do tamanho de autocarros. A vista sobre a paisagem circundante é uma atração à parte e quando não há nuvens a tapá-la, vê-se o cintilante oceano Atlântico e o verde da serra ao redor, com Sintra lá em baixo – a vila, o Paço, o Palácio da Pena…
Instalado num dos cumes sobranceiros da serra de Sintra, o Castelo dos Mouros é uma fortificação construída em torno do século X após a conquista muçulmana da Península Ibérica. Duas cinturas de muralhas contornam de forma irregular os blocos graníticos da serra, por entre penedos e sobre penhascos.
A data de edificação não é precisa, mas foram os muçulmanos a construí-la, ainda que muito primitiva, no cume da serra. O principal propósito da construção seria, além de alertar para uma invasão, apurar as movimentações entre Lisboa e Sintra, e entre Cascais e Mafra.
No início do século XII, a região de Sintra encontrava-se sob domínio da taifa de Badajoz, governada por Mutawaquil. Dada a ameaça de ataque por parte do exército de Ali ibn Yusuf ibn Tashfin, proveniente do Norte de África, Mutawaquil decidiu entregar Santarém, Lisboa e Sintra ao rei D. Afonso VI de Leão e Castela, com vista a uma aliança defensiva de toda a região. No entanto, Afonso VI estava tão investido na defesa do seu próprio reino que não foi capaz de prestar auxílio ao governante mouro que sucumbiu perante a ofensiva de Ali ibn Yusuf ibn Tashfin, em 1094. Daí para a frente, Sintra viria a andar “de mão em mão” até ser entregue de forma voluntária e permanente a D. Afonso Henriques, em 1147, que sete anos mais tarde atribuiu uma Carta de Foral a Sintra, onde ordenou o reparo das muralhas e a construção de uma templo cristão, a Igreja de São Pedro de Canaferrim.
A configuração atual do Castelo dos Mouros é fruto de diversas campanhas e acontecimentos, destacando-se as intervenções realizadas durante a primeira dinastia, iniciadas por D. Afonso Henriques após a tomada de Lisboa e Santarém (1147) até à utilização da fortificação no reinado de D. Fernando I (1383) e os os danos causados pelo terramoto de 1755, as obras de restauro de D. Fernando II no século XIX, ao gosto romântico da época, e ainda as intervenções conduzidas pela Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, no século XX.
Um castelo e um rei obcecado pela arte…
Uma das personalidades mais importantes para o Castelo dos Mouros existiu quando aquela construção era já milenar. Fernando II foi um rei obcecado por arte, drama e boa vida – era um apaixonado pela Idade Média – e ordenou a reconstrução do castelo. A torre Real é, aliás, referenciada como um dos locais preferidos deste rei para pintar. Depois de um longo período de pouca importância, o monarca imprimiu nas ruínas do castelo um forte charme, conforme fez naquela altura em toda a região de Sintra.
Mais recentemente, a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais também procedeu a obras de melhoramento do castelo. De modo a apoiar as intervenções de recuperação e aprofundar a informação histórica do local, a empresa municipal Parques de Sintra-Monte da Lua desenvolveu o projeto ‘À Conquista do Castelo’, que foi antecedido e acompanhado pela realização de escavações arqueológicas, realizadas desde 2009, em parceria com a Universidade Nova de Lisboa.
Os trabalhos arqueológicos realizados em vários setores do Castelo permitiram compreender a ocupação do local ao longo dos séculos, tendo sido possível identificar um cemitério medieval cristão, silos e alicerces de habitações muçulmanas, bem como objetos e artefactos da Idade do Bronze, da Idade do Ferro e do Neolítico, destacando-se um vaso cerâmico completo do 5º milénio a.C. No espaço das Antigas Cavalariças identificaram-se pavimentos em pedra, possivelmente construídos durante as reformas de D. Fernando II, e uma galeria de escoamento de águas da cisterna que o atravessa de oeste a este. Foram ainda descobertas várias bases de silos escavados na rocha, e muros de uma habitação muçulmana com artefactos cerâmicos do século XI-XII. É sobre esta que assenta todo o pano de muralha nascente, demonstrando que este troço terá sido construído a partir da segunda metade do século XII, após a reconquista cristã.
Nas restantes áreas escavadas no interior da fortificação também foi possível identificar mais zonas de silos e outras estruturas relacionadas com o espaço doméstico, onde foram recolhidas várias moedas da primeira dinastia portuguesa, variado espólio de osso e marfim e cerâmica de todas as épocas, desde o Neolítico até ao século XIX. Contígua à Igreja de São Pedro de Canaferrim destaca-se a imponente cisterna que remonta ao período islâmico. No seu interior brota a nascente que abastecia o Palácio Nacional de Sintra.
O Castelo dos Mouros foi classificado como Monumento Nacional em 1910 e integra-se na Paisagem Cultural de Sintra, classificada pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade desde 1995.
Pelos cantos e encantos do Castelo dos Mouros
Para visitar este castelo, o caminho faz-se pela rampa da Pena, um percurso cativante que corre pelo interior da serra. Passeie pela segunda cintura de muralhas. A edificação de um castelo traz segurança às populações, e para proteger gentes, animais e colheitas, foi construída uma segunda linha de muralha, evidenciado a existência de um povoado de alguma dimensão nesta vertente.
Não deixe de observar os silos, estruturas escavadas na rocha para armazenamento de cereais e leguminosas. Esta técnica de conservação dos alimentos aparece descrita em vários tratados árabes de agricultura. Já a Igreja de São Pedro de Canaferrim foi construída no século XII, após a conquista de D. Afonso Henriques. Foi a primeira igreja paroquial de Sintra e terá permanecido a culto até ao século XIV. A partir de 1840 foi transformada por D. Fernando II numa ruína romântica integrando a floresta do Parque da Pena. Atualmente alberga o Centro de Interpretação do Castelo, onde são exibidos objetos recolhidos nas escavações arqueológicas e apresentada a história do castelo. As antigas cavalariças são compartimentos que terão sido cobertos e cuja função não é conhecida. Julga-se terem funcionado posteriormente como espaços de criação e guarda de animais domésticos. No seu interior podem observar-se os alicerces de uma casa muçulmana e, em todo o espaço circundante, silos representativos da ocupação islâmica. Ali construiu-se o novo Centro de Apoio ao Visitante, dotado de loja, cafetaria com esplanada e instalações sanitárias.
Horário: Das 10h às 18h (último bilhete às 17h)
Preços: 18 a 64 anos: 6,50 euros; 6 a 17 anos: 5 euros; maiores de 65 anos: 5 euros
A bilheteira tem disponível um serviço de intérprete de Língua Gestual através de videochamada (Serviin). O serviço funciona nos dias úteis das 10h às 18h.