Edificado sobranceiro à primitiva povoação e ao rio Lis, o Castelo de Leiria é um dos ex-libris da cidade, recebendo, anualmente, entre 50 e 70 mil visitantes. É considerado o melhor exemplo de transformação residencial de um castelo no país, sendo uma atração arquitetónica, histórica e arqueológica.
À época da Reconquista cristã da península Ibérica a região de Leiria era um ponto nevrálgico da defesa da fronteira sul do Condado Portucalense. Viria a tornar-se rapidamente num próspero centro económico medieval graças ao comércio de cereais e produtos alimentares (trigo, azeite, vinho, frutas), de madeiras (pinhal de Leiria), de minérios (ferro, carvão, sal-gema, calcário) e de produtos artesanais (lanifícios e tecelagens, couros, olarias, ferragens).
Leiria
Ao consolidar o seu governo a partir de 1128, o jovem D. Afonso Henriques, futuro Afonso I de Portugal (1143-1185), planeou alargar os seus domínios, então limitados a norte pelo rio Minho a sudoeste pela serra da Estrela e a sul pelo rio Mondego. Nesse sentido, a partir de 1130, invadiu por diversas vezes o território vizinho da Galiza a norte, ao mesmo tempo em que se mantinha atento à fronteira sul, constantemente atacada pelos muçulmanos.
Para defesa a sul, em 1135 fez erguer estrategicamente, de raiz, um novo castelo entre Coimbra e Santarém, no alto de uma elevação rochosa, um pouco ao sul da confluência do rio Lis com o rio Lena, a cuja guarnição, sob o comando de D. Paio Guterres, foi confiada a defesa da nova fronteira. À povoação que também iniciava, e que passaria a designar o respetivo castelo, chamou de Leiria. Dois anos mais tarde, a povoação e o seu castelo foram assaltados por forças do Califado Almóada, que se aproveitaram de uma investida das forças de D. Afonso I à Galiza (1137). Após forte resistência, D. Paio Guterres e seus homens foram forçados a abandonar as suas posições. De volta ao reino, o monarca organizou uma contra-ofensiva para conter o avanço dos muçulmanos. Ao final desse mesmo ano, os muçulmanos, cientes de que o monarca português havia encetado nova campanha contra o rei de Leão, na Galiza, atacaram e conquistaram novamente Leiria e seu castelo, cujos defensores, na ocasião, sofreram pesadas baixas, vindo o seu alcaide, D. Paio Guterres, a ser feito prisioneiro. De volta às mãos de D. Afonso I (1142), o monarca outorgou carta de foral à povoação, determinando a reconstrução e reforço da estrutura do castelo, no qual fez erguer uma capela sob invocação de Nossa Senhora da Pena entre 1144 e 1147.
O desenvolvimento da vila à época era tão expressivo que sediou as Cortes de 1254, convocadas por Afonso III de Portugal (1248-1279), as primeiras onde foram chamados representantes do clero, da nobreza e do povo.
Também outros monarcas dedicaram atenção a Leiria, destacando-se Dinis I de Portugal (1279-1325), que ali residiu por diversas ocasiões, vindo a doar à rainha Santa Isabel a vila e o seu castelo (cerca de 1300), escolhidos para a criação de seu herdeiro, o príncipe D. Afonso. É a D. Dinis que se atribui a adaptação do castelo à função de palácio, a reconstrução da Igreja de Nossa Senhora da Pena e o início da construção da poderosa Torre de Menagem (8 de maio de 1324), poucos meses antes do seu falecimento. Esta torre foi concluída no reinado de seu sucessor, conforme inscrição epigráfica no seu exterior.
Sob domínio de D. João I de Portugal (1385-1433), que aqui celebrou, em 1401, o casamento de seu filho D. Afonso (futuro conde de Barcelos e duque de Bragança), iniciaram-se os trabalhos de edificação dos chamados Paços da Rainha ou Paços Novos, nos quais se destacam os vãos góticos e o espaço de suas salas e câmaras.
Manuel I de Portugal (1495-1521) concedeu o Foral Novo a Leiria (1510). Neste início de século, o soberano fez erguer uma sacristia entre a capela-mor da igreja e a torre sineira.
Estilo
O castelo de Leiria é considerado um exemplar de arquitetura militar e residencial sobranceiro à cidade enquadrado no lado norte. A configuração do castelo, segundo afirmam os estudiosos, deve-se à junção de quatro grandes períodos construtivos: o romântico, do século XII, o gótico dionisino, da primeira metade do século XIV, e o gótico joanino, de inícios do século XV. Mas as obras de restauro dos finais do século XIX e da primeira metade do século XX tiveram também algum impacto na configuração do monumento.
A planta do castelo é poligonal irregular, marcada pela solidez do seu sistema defensivo (muros e torres) no interior do qual se destacam o Paço Real, a Igreja de Santa Maria da Pena e a Torre de Menagem. Defendida externamente por uma barbacã, a cerca é reforçada por torreões de planta quadrangular. Nesta cerca surgem duas portas: a Porta do Sol, a sul, onde hoje está a Torre da Sé, e a Porta dos Castelinhos, a norte, flanqueada por duas torres. Ultrapassada a Porta do Sol entra-se num largo com algumas edificações, o antigo Paço Episcopal (hoje sede da PSP) e a Capela de São Pedro. Subindo por uma rampa, ao longo da cerca da vila, acede-se à entrada do castelo, pela Porta da Albacara, em arco de volta redonda sob uma torre, que funcionou como torre sineira da vizinha Igreja de Nossa Senhora da Pena.
As muralhas do castelo foram reforçadas no seu trecho mais vulnerável (onde o declive do terreno não é tão acentuado) por uma barbacã, seguida por uma cerca avançada, a norte e a leste. Pelo lado oeste pode ver-se a chamada Porta da Traição, em arco quebrado. O reduto interno, envolvido por uma cinta de muralhas, encontra-se disposto numa plataforma mais elevada a noroeste, e é dominado pela Torre de Menagem.
Para os nossos leitores que queiram visitar este magnifíco castelo cheio de história, informamos que pode visitar o local de segunda à sexta entre as 9h e as 18h e das 10h às 18h30 aos sábados, domingos e feriados. O custo da visita é de dois euros.
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