1578: Batalha de Alcácer-Quibir ou a Batalha dos três Reis (III)

Data:

Por mares nunca dantes navegados, há 600 anos atrás os portugueses seguiram ao encontro de outras terras e novos povos. O esforço para conquistar locais longínquos e cheios de perigo era o preço a pagar pela abertura de novas rotas do comércio. Este especial sobre «A Presença Militar Portuguesa à Época dos Descobrimentos», que poderá ler ao longo de várias semanas, destaca o papel inovador de portugueses que os levou a vencer grandes batalhas…

Ao desembarcar em Tânger, D. Sebastião encontra-se com Muley Mahamet. O Rei português recusou a proposta de Muley Moluco de lhe entregar alguns portos em troca de paz, pois este vinha com o plano de cercar o porto de Larache com parte da armada enquanto o próprio Rei iria liderar a conquista de Alcácer-Quibir, que se localiza a sudeste de Larache. D. Sebastião enfrentou vários contratempos e não chegou a Alcácer-Quibir: o exército inimigo foi confrontado nas imediações da cidade.
Os soldados andavam bem vestidos, com trajes curtos e de cores, cheios de botões, de medalhas e de plumas, com colares de ouro, em cavalos bem selados, como refere a ‘Crónica do Xarife Mulei Mahamet e d’El-Rei D. Sebastião. 1573-1578’.
Segundo o mesmo documento, o monarca português podia contar com 75 embarcações, alguns galeões e naus grossas, e algumas embarcações estrangeiras, com boa artilharia de bronze. Contavam com 17 navios de remos, cinco deles galés, três bergantins e seis navios. Mulei Mahamet contava com cerca de 10 mil cavalos que cercavam Alcácer-Quibir.
O sultão de Marrocos reuniu um exército mais extenso que D. Sebastião. Os marroquinos usaram o facto de conhecerem o terreno melhor que os portugueses, decidindo assim usar apenas parte do seu exército deixando parte da sua artilharia de fora.
Do outro lado do campo. D. Sebastião colocava a sua infantaria disposta em quadrado. Mas quando iniciou a marcha deparou-se com a artilharia moura. Os portugueses viram a sua retaguarda atacada o que causou um grande caos no exército português. Mesmo com este contratempo a infantaria moura foi travada e a cavalaria portuguesa conseguiu investir contra o seu inimigo, afastando-o.
Contudo o que parecia o começo duma vitória para os cristãos não passou duma ilusão. A infantaria moura, que estava mais bem treinada e acostumada ao terreno, conseguiu reagrupar e com a ajuda do exército que se mantinha escondido, voltou a atacar os portugueses. Os mouros também contavam com a ajuda dos arcabuzes.
Com este cenário o exército português entrou em debandada tornando-se assim uma presa fácil para o seu inimigo.

A caminho da batalha
O objetivo de D. Sebastião era enfrentar pessoalmente o Xarife Moluco, não propriamente o de conquistar Larache. Por isso, logo pela manhã, reuniu-se com o conselho e expôs a sua vontade de iniciar a batalha. Refugiou-se na sua tenda reunido com o Conde de Vidigueira com quem tinha confiança, e, depois de discutirem os últimos pontos, fizeram o exército levantar tenda e partir.
Em relação à descrição da formação do exército no dia da batalha, tal como diz Luís Sousa, os cronistas têm todos a mesma opinião, ou seja, foi a mesma que em Arzila. Sabemos que Diogo Lopes de França ia à frente da coluna de marcha como explorador, comandando a coluna e levando-a em direção ao campo inimigo, quando viram as tropas inimigas à sua frente, também em coluna de marcha. As tropas já estavam a pouca distância uma da outra.
Os mouros aproveitavam as irregularidades do terreno para esconderem as suas tropas. No ponto mais alto da elevação estava a artilharia escondida, enquanto a infantaria encontrava-se por trás. As alas e os contingentes de cavalaria estavam adelgaçados, alargando apenas no fim, de modo a poderem cercar a retaguarda cristã quando juntassem as pontas para poderem combater todos ao mesmo tempo e por todo o lado.
Os portugueses viram a cavalaria dos mouros aparecer de repente do lado da colina que ocupava todo o campo de batalha. Vendo-se cercados por todos os lados, D. Sebastião andou por todo o campo de batalha dando ordens, porém os cristãos foram surpreendidos pelo fogo da artilharia inimiga escondida por ramos.
Os mouros começaram a disparar antes que as tropas portuguesas pudessem reagir. Na segunda linha estão 2500 elches, 4000 azuagos e 1000 cavalos nas alas. Na primeira linha estão 3000 andaluzes e cerca de 3500 gazulas, na frente encontramos 1000 arcabuzeiros montados.
Abd al-Malik esperava que os cristãos ficassem ao alcance da artilharia. Os arcabuzeiros a cavalo investiram, seguidos pelos arcabuzeiros andaluzes e gazulas. Os cavalos tinham rodeado o campo cristão atacando assim a retaguarda inimiga.
O esquadrão de aventureiros estava impaciente para atacar o exército inimigo, que estava localizado à sua frente a alvejá-lo. Iniciaram assim o ataque os traquejados mercenários que eram bastante bons e segundo a crónica devem ter provocado um grande estrago no inimigo. Aproveitaram e partiram para cima do exército mouro, seguidos pelos esquadrões da vanguarda. D. Sebastião encontrava-se à frente do batalhão de cavalos da ala esquerda, e assim não sabia se a ordem de atacar tinha chegado a D. Duarte na ala direita, por isso apreçou-se a atacar para apoiar os soldados.
Os portugueses pareciam invencíveis, os mouros tinham passado a segunda linha de apoio, vendo que as descargas dos arcabuzes não impediam o avanço dos inimigos. Formaram assim em cunha, contra uma formatura linear, os aventureiros que atacam apoiados por uma carga de cavalos comandados pelo rei, pondo o inimigo em fuga. O resto da vanguarda veio fortalecer este movimento ofensivo. As cinco primeiras fileiras foram forçadas a andar, estando sob os canhões inimigos.

O contra-ataque mouro
Desgostoso pela dissipação dos seus soldados, Abd al-Malik acabou por ceder pela força dos cristãos. Mas de seguida a vanguarda foi retirada e desarticulada de uma forma natural, o coronel dos aventureiros foi abatido, o que provocou uma desorientação dos outros oficiais que bateram em retirada, abandonando as cinco primeiras fileiras. O comando que ia à frente foi isolado no centro do campo e cercado pelo inimigo. Assim que se aperceberam da situação, alguns alcaides reuniram a guarda pessoal do xarife e contra-atacam. Os restantes terços da vanguarda que seguiam atrás dos aventureiros foram “prensados” pelo inimigo, perdendo assim o controlo e avançando sobre os outros acabando por confundir a segunda linha do exército.
Depois da vanguarda derrotada, ou seja, o bloco A, os mouros concentraram-se sobre a segunda linha, já enfraquecida pela retirada dos terços da sua frente. Depois da formatura desfeita, o esquadrão de batalha que foi o bloco B dividiu-se em vários blocos de soldados que tentaram resistir, colocando-se por detrás das “carretas convertidas”.
Organizados em dois esquadrões fortalecidos pelos mosqueteiros – os soldados comandados pelo oficial Francisco da Távora – combateram desde que a batalha começou, sem descansar.
Após as duas primeiras linhas do exército terem sido derrotadas a batalha ainda durou um pouco mais devido à presença de D. Sebastião, que de certo modo animou os soldados que restavam. Até que os soldados cristãos foram cercados por completo…

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