Por mares nunca dantes navegados, há 600 anos atrás os portugueses seguiram ao encontro de outras terras e novos povos. O esforço para conquistar locais longínquos e cheios de perigo era o preço a pagar pela abertura de novas rotas do comércio. Este especial sobre «A Presença Militar Portuguesa à Época dos Descobrimentos», que poderá ler ao longo de várias semanas, destaca o papel inovador de portugueses que os levou a vencer grandes batalhas…
D. João III, filho de D. Manuel e de D. Maria de Castela, a sua segunda esposa, nasceu em 1502 e subiu ao trono em 1521, após a morte de seu pai. Ficou conhecido como D. João III ‘o Piedoso’ e em 1525 casou com D. Catarina de Áustria.
Durante o seu reinado, propiciou a continuidade da expansão do território português para África, Ásia e América, baseando a sua política, num ideário nacional e ultramarina. Este longo império foi uma grande preocupação para o monarca, devido à sua dimensão, pois tornava-se complicado administrar e controlar tudo o que se passava em cada local. Os portugueses estavam sobre os ataques das forças árabes e turcas, e, para tentar controlar essas resistências, foram enviados navios com homens armados. Porém estas medidas tornavam-se demasiado pesadas para o país. Portugal teve de abandonar assim as praças de Safim, Azamor, Alcácer-Ceguer e Arzila, e para poder compensar estes problemas D. João III volta-se para o Brasil, como refere João Medina na ‘História de Portugal, Vol. VI’.
Relações externas e diplomacia
O reinado deste monarca ficou marcado pelas relações externas e pelas medidas diplomáticas com Espanha e com França, devido aos ataques dos navios franceses sobre os navios de comércio português. Foi também com D. João III que o tribunal da Inquisição foi instalado em Portugal em 1536.
No ano de 1525, o rei casou com a infanta D. Catarina princesa espanhola, filha de D. Filipe de Castela, arquiduque da Áustria, e da rainha D. Joana, segunda filha e principal herdeira de D. Fernando, o Católico, Rei de Aragão e de D. Isabel, rainha de Castela e irmã do imperador Carlos V. Durante este reinado, D. Catarina exerceu uma grande influência nos negócios do reino. Porém, quando D. João III faleceu, em 1557, já todos os seus filhos também haviam falecido, e, assim, quem herdou o trono de Portugal foi D. Sebastião, seu neto, filho do príncipe D. João. Como este era ainda menor de idade, foi D. Catarina de Áustria que assumiu a regência do reino durante a menoridade do neto, com a ajuda do Cardeal D. Henrique que era seu cunhado e que também pretendia chegar à regência, como refere Jean-François Labourdette na obra ‘História de Portugal’.
D. Catarina procurou os melhores mestres para ensinarem o jovem rei de Portugal, porém o Cardeal também teve uma palavra na educação do futuro monarca. Este estando fortemente ligado à vida religiosa, depois da educação do Rei direcionada, a rainha regente enviou uma grande armada para África, para a proteção das praças onde os portugueses já tinham feito grandes atos heróicos. Porém Portugal não estava com problemas só no Norte de África, a Índia também estava com dificuldades. Este cenário aumentou com as guerras de corso com ingleses, franceses e holandeses. Três grandes potências.
Em 1519, D. Catarina fundou em Lisboa o Colégio dos Meninos Órfãos e também foi ela quem mais lutou para a instalação da inquisição em Goa. D. Catarina quis entregar a regência do reino ao Cardeal D. Henrique, porém esta ação não foi bem vista por todos. Em 1561, D. Frei Bartolomeu escreveu uma carta à rainha mostrando o seu descontentamento, bem como D. Rodrigo Pinheiro, bispo do Porto. Visto o descontentamento destes homens poderosos, a rainha continuou na regência mais um ano, entregando-a ao Cardeal em 1562. Enquanto isso, D. Sebastião ia aperfeiçoando os seus dotes militares. Assim, em 1568 D. Sebastião atingiu a maioridade e foi proclamado Rei de Portugal.
Em 1574, D. Sebastião partiu na primeira Jornada a África com o apoio de alguma nobreza que não se encontrava interessada no comércio do Oriente, mas sim na guerra do Norte de África, pois esta dava-lhes capitanias, tenças e doações. Junto do monarca seguia também D. Duarte de Meneses, nascido em 1537, Nobre e militar português, capitão de Tânger e de Arzila. Lutou na Batalha de Alcácer-Quibir ao lado de D. Sebastião.
Na opinião de alguns autores, a primeira Jornada em África não tinha como objetivo a conquista de território, mas sim o estudo da mesma área e das condições para mais tarde fazer guerra contra os mouros. Estas terras não eram só ricas em ouro, mas também em prata, cobre, trigo, carne, açúcar, salitre, anil, entre outras.
Para se aventurar em Marrocos, o rei português precisou do apoio da armada espanhola para impedir a passagem da frota turca do Mediterrâneo para o Estreito. Os turcos eram aliados de Mulei Moluco que destronara o seu sobrinho, o Xerife Mulei Mahamet, tendo este reinado de 1573 até 1578, também sendo conhecido como Mohamed ou Mahamede.
A conquista do porto de Larache foi apenas uma desculpa para partir à conquista. D. Sebastião comunicou a D. João da Silva, embaixador de D. Filipe II em Portugal, que havia necessidade de fazer um bloqueio nas portas do Estreito de Gibraltar entre os turcos e Mulei Moluco, como já foi referido acima, pois este tinha-se tornado uma forte ameaça para a Península Ibérica.
Segundo D. Duarte de Meneses, para que a guerra entre Mulei Moluco e Portugal não viesse a concretizar-se, Moluco teria de entregar “três portos de mar” e as suas vilas, Cabo de Gué, Larache e Celhe.
Na próxima semana, publicamos o segundo capítulo sobre a Batalha de Alcáer-Quibir