Por mares nunca dantes navegados, há 600 anos atrás os portugueses seguiram ao encontro de outras terras e novos povos. O esforço para conquistar locais longínquos e cheios de perigo era o preço a pagar pela abertura de novas rotas do comércio. Este especial sobre «A Presença Militar Portuguesa à Época dos Descobrimentos», que poderá ler ao longo de várias semanas, destaca o papel inovador de portugueses que os levou a vencer grandes batalhas…
Durante o século XVI, Malaca, foi um importante centro de comércio, tanto a Ocidente como a Oriente, pois fez comércio com a China, Japão, Egipto, Arábia e Índia, tendo sido, desta forma, um importante centro de distribuição para o Oceano Indico. Portugal teve contato com Malaca pela primeira vez em 1509, com a expedição de Lopes de Sequeira. Depois deste, Afonso de Albuquerque partiu de Portugal para Malaca em 1511.
Afonso de Albuquerque, nasceu em 1453, em Alhandra e morreu em 1515, em Goa. Era chamado de ‘Leão dos Mares’ ou de ‘César do Oriente’. Foi um fidalgo militar, e o Vice-Rei e Governador da Índia Portuguesa.
Para Colin Goh, um amante da história das conquistas regionais, Afonso de Albuquerque era um homem com estratégias eficazes, que se sabia impor, não aceitando subornos e implacável com quem ousa-se trai-lo. Joseph Sta Maria, acredita que o português usou a miscigenação como estratégia para defender a sua posição, pois acreditava que Portugal não tinha homens suficientes para manterem um império.
Afonso de Albuquerque, foi um dos navegadores mais importantes para Portugal estabelecer o seu império no Oceano Indico. Ficou conhecido pela estratégia de fechar todas as passagens navais para o Índico, construindo uma série de fortalezas fechando assim aquele oceano e impedindo que os otomanos, os árabes e os hindus pudessem exercer o seu poder.
Ficou conhecido pela sua garra em campo de batalha e ao mesmo tempo pelas ações de diplomacia que estabelecia. Participou em varias expedições como a da Índia, de Goa, a de Ormuz, a entrada do Golfo Pérsico, entre outros, estabelecendo também inúmeros contatos diplomáticos com reinos como o da Etiópia, Índia, Reino do Sião, Pérsia e China. Áden é das poucas derrotas que são ligas a Afonso de Albuquerque. Não tendo conseguido dominar esta cidade, mesmo assim foi o primeiro a navegar no Mar Vermelho, junto do estreito Bab-el-Mandeb .
O Rei D. Manuel I concede-lhe o título de Vice-Rei e Duque de Goa, título de que nunca chegou a usufruir. Depois de Alexandre, o Grande, Afonso de Albuquerque foi o segundo português a fundar uma cidade na Ásia, e o primeiro Duque nascido fora da família real.
Malaca: uma conquista distante
Voltando a Malaca, esta foi conquistada pelos portugueses em 1511. De todas, foi a ocupação militar mais distante. Esta era uma das cidades mais estratégicas e lucrativas, pois de lá podia-se controlar o comércio das especiarias para os países anteriormente referidos.
No início deste mesmo ano, Rui de Araújo, prisioneiro em Malaca, envia uma carta a Afonso de Albuquerque, pedindo-lhe que este avance com uma frota em direção da cidade. Ao recebe-la Albuquerque conversa com Diogo Mendes de Vasconcelos, a fim de seguir para Malaca. Esta expedição não foi vista com bons olhos, mas mesmo assim Albuquerque seguiu em frente. É reunida uma armada com cerca de 900 portugueses, 200 mercenários hindus e cerca de 18 embarcações.
Esta era uma cidade bastante rica, mas com poucos edifícios e construções de madeira. Contudo, Malaca estava bem defendida, pois o sultão Mahmud Shah, possuía cerca de 20 mil homens e mais de 2000 peças de fogo. Mesmo assim, o português investiu sobre os inimigos com os seus navios e obrigou o sultão a render-se e a soltar os portugueses feitos prisioneiros na expedição passada e a construir uma feitoria fortificada.
O sultão não ficou muito preocupado com a armada portuguesa e a 25 de Julho de 1511, no ato do desembarque, os portugueses são atacados por setas, fazendo com que tivessem de recuar para se reorganizar. Só no dia seguinte conseguiram então desembarcar e investir contra os inimigos. Nessa altura aparece o sultão, com a sua tropa e os seus elefantes. Fernão Gomes de Lemos juntamente com outros soldados fez com que os elefantes recuassem, vencendo assim aquela batalha.
Em Agosto houve um novo ataque por parte dos portugueses, porém, em tempo de bonança, alguns mercadores foram ter com Afonso de Albuquerque pedindo-lhe proteção e a estes foram dadas bandeiras para que não fossem saqueados quando os portugueses ganhassem esta guerra.
Voltando ao ataque realizado em Agosto, os portugueses depararam-se com a fuga do sultão e dos seus homens, nesta altura foi dada ordem para o saque da cidade, respeitando as bandeiras.
Em 1512 Afonso de Albuquerque partiu para a Índia com alguns carpinteiros malaios para que esses pudessem aprender a construir navios à maneira portuguesas. Foram deixados em Malaca 13 homens a assegurar a fortificação, um armada de oito navios e mais de 200 homens para protegerem a cidade e o mar. Este projeto não correu bem, apesar do ‘Leão dos Mares’ não ter desistido. Contudo, pensa-se que nunca foi realizado.
Após a morte de Afonso de Albuquerque em 1515, Malaca começou a ter problemas. Um deles era do ponto de vista militar a falta de gente, e, seguidamente, a falta de navios – mas não adiantaria ter muitos, visto não haver homens em número suficientes. Esta falta de gente ocorreu devido aos surtos de doenças que atingiram aquela zona, tais como a malária, a febre-amarela e a cólera – motivadas pelo clima húmido, má alimentação, entre outras. Por outro lado os homens que sobreviveram começaram a sair de Malaca com perspetivas de enriquecerem, por exemplo, na China e nas Molucas. Deixando sempre Malaca sem guarnição, os poucos que ficavam estavam desmotivados, acabando por não fazerem o seu trabalho, o que foi aproveitado pelos inimigos que foram ganhando terreno.
Para controlar essa situação foi enviado para Malaca D. Aleixo de Menezes e a sua armada de cerca de 300 homens, duas naus e um junco, juntamente com munições e armas. Ao chegar à cidade, em 1518, D. Aleixo deparou-se com uma fortificação quase abandonada, para isso nomeou Afonso Lopes da Costa como Capitão da fortaleza e Duarte de Melo para Capitão-mor da armada. A segunda medida que tomou foi o bloqueio do rio Muar, fazendo com que os inimigos recuassem. Contudo não foi o suficiente, as batalhas continuaram e os inimigos conseguiram furar as defesas dos portugueses.
Malaca foi sofrendo várias investidas acabando por ser conquistada em 1641 pelos holandeses, outra das grandes companhias de navegação, em 1641.
Afonso de Albuquerque em Malaca…
Afonso de Albuquerque continua a ser conhecido em Malaca. Na altura era visto como o “um grande homem, com mão forte, uma vez que exercia o seu poder, mas nunca com tirania”.
O idioma falado nesta altura era o ‘kristang’, um idioma cristão-português, que ainda hoje é conhecido e falado por alguns habitantes das comunidades portuguesas em Malaca.
Hoje em dia o nome de uma das principais ruas de Malaca tem o nome do nosso português Afonso de Albuquerque.