A Tropigalia é a empresa líder na distribuição de produtos alimentares e não alimentares em Moçambique. Com uma faturação em 2015 de 840 Milhões MZM, emprega mais de 300 colaboradores e é distribuidor de mais de 40 marcas exclusivas, muitas delas de origem portuguesa. Adolfo Correia é o administrador desta empresa que tem vindo a ser reconhecida pela qualidade dos produtos, garantindo um serviço de qualidade, compatível com a excelência das marcas que representa.
Como é que surgiu a ideia de fundar a Tropigalia?
A Tropigalia é o resultado de uma viagem de três amigos que decidiram ir a Moçambique para conhecer as oportunidades que, na altura, eram promovidas na televisão portuguesa. Há cerca de 20 anos atrás, a televisão portuguesa fez uma série de documentários nos quais Moçambique aparecia como uma boa oportunidade e então juntámo-nos três empreendedores e decidimos ir lá.
No final dessa viagem acabaram por surgir hipóteses de fazer alguns negócios. Na altura, trabalhava numa empresa de origem alemã em Portugal e entendi que talvez houvesse em Moçambique oportunidade, enquanto empreendedor, de iniciar uma atividade própria. Acabei por falar, na altura, com o administrador para lhe explicar qual era a minha visão. Ele concordou e acabei por tirar seis meses de licença sem vencimento, para testar as oportunidades. A verdade é que nunca mais voltei, aliás, voltei, mas para vir buscar a família.
Acabei por iniciar atividade em Moçambique. Comecei exclusivamente por produtos não alimentares, no setor de atividade onde eu estava inserido. Muito rapidamente o mercado mostrou-me que o que a empresa estava a fazer ao nível da distribuição era um bom trabalho, mas estávamos a apostar nos produtos errados. Os produtos adequados seriam os produtos alimentares.
Havia há 17 anos atrás, uma forte deficiência de produtos alimentares de continuidade em Moçambique. O país era continuamente bombardeado por produtos, mas, para mim, enquanto consumidor, havia falta de consolidação de marcas, ou seja, eu ia um dia ao supermercado, comprava um produto alimentar, um iogurte, um leite, o que fosse que gostasse, mesmo uma marca desconhecida, mas na semana seguinte já não existia, existia outro, de outra marca. E alguns destes produtos não tinham qualidade que satisfizesse a expectativa dos consumidores. Percebi rapidamente que havia uma oportunidade de fidelização de marcas pelo fator qualidade.
A Tropigalia também é fruto da existência do SISAB PORTUGAL… Em que medida?
Acabei por encontrar em Portugal uma grande oportunidade. Há anos, o meu amigo Manuel José Rosa falou-me do SISAB PORTUGAL e agendou uma vinda a Portugal pela altura da feira. De facto, eu vim e logo nessa primeira viagem as coisas correram muito bem. De facto estavam no SISAB PORTUGAL os interlocutores principais das empresas, os centros de decisão nas negociações, no momento. A afinidade transmitiu-se logo pelo facto dos gestores de negócios estarem presentes no local.
A primeira marca com que trabalhei foi a Ferbar, já não me recordo qual foi a marca imediatamente a seguir, mas acredito que foi a Milaneza da Cerealis, houve empatia e fechámos negócio para Moçambique. Recordo-me perfeitamente que na altura tinha que comprar contentores completos e quando me falaram em contentores de 40 pés para rentabilizar os custos logísticos, eu achei aquilo uma exorbitância. Hoje recebemos centenas de contentores de 40 pés e materializámos muito rapidamente o negócio. Depois vieram outras marcas, a Lactogal, a Ramirez, a Sovena, a Compal, entre outras. São marcas relevantes que ajudaram a Tropigalia a consolidar-se no mercado e a Tropigalia devolveu a conquista no mercado a essas mesmas marcas que, supostamente, nunca tinham estado em Moçambique.
As marcas que estão hoje com a Tropigalia em exclusivo em Moçambique, nunca investiram um euro em promoção dentro de Moçambique. Na prática, todo o plano de marketing e de investimento feito pelas marcas, em Moçambique, é 100% suportado exclusivamente pela Tropigalia. Temo-nos dado muito bem, é uma relação de reconhecimento de parte a parte. Nós não entendemos de indústria, essa é a especialidade dos nossos parceiros, mas de Moçambique quem entende realmente é a Tropigalia.
Hoje figuramos entre os dez maiores investidores na Comunicação Social, nas televisões, na rádio, nas plataformas digitais, nos jornais e sempre com investimento da Tropigalia. Isto destaca-nos e põe-nos numa situação completamente diferente do tradicional importador.
Por outro lado, também encurtamos a cadeia de distribuição o máximo possível. Trabalhamos muito pouco com armazenistas. No produto alimentar, a Tropigalia importa e distribui ao retalhista. Não temos venda ao público. Assim, conseguimos fazer com que as operações se tornem mais competitivas.
A vinda ao SISAB PORTUGAL permitiu, num espaço bastante amigável, a partilha de conhecimento entre industriais e profissionais, onde tudo se torna bastante mais fácil. É uma excelente feira que coloca profissionais a fazer aquilo que eles mais gostam de fazer, negócios. Isto permitiu que rapidamente saltássemos algumas barreiras, algumas dificuldades e através da feira, facilmente atingirmos os objetivos que tínhamos. Levar o maior número de marcas portuguesas para Moçambique, obviamente, com acordo de exclusividade, porque nós aos fazermos os investimentos não podemos ficar vulneráveis a que concorrentes beneficiem deles. E tem funcionado muito bem. Hoje, mesmo que eu não quisesse vir ao SISAB PORTUGAL já não tinha como. Os próprios fornecedores quase que o exigem e eu próprio já não consigo passar sem aquele “calor” que se vive e se assiste todos os anos na feira. Gosto de ver o dono da fábrica ou o responsável do negócio sentado à mesa a falar de negócios. É o que me dá confiança. Temos que reconhecer que há aqui uma obra feita, admirável, mas acima de tudo, muito virada para o negócio. Acho que todos nos respeitamos muito bem, todos gostamos de promover aquilo que é nosso.
De facto sente-se no SISAB PORTUGAL o pulsar do verdadeiro sentido daquilo que é fazer negócio. Mais uma vez parabenizo o Carlos Morais e sua equipa e faço votos para que se mantenha assim durante muitos anos. Acho que é um certame fantástico, admirável e com um grande futuro para a indústria portuguesa que cada vez mais precisa de apoios como este.
Tem levado a cabo uma forte aposta pessoal na promoção das relações Portugal/Moçambique, como é que vê o panorama dessas relações no futuro? Existem outros países a entrar no jogo?
Eu acredito nelas há 17 anos. Hoje tenho o privilégio de ter ambas as nacionalidades. Quero acreditar e aquilo que eu sinto na população é que há, de facto, uma grande afinidade e uma boa recetividade aos portugueses. Isso permanece e irá permanecer durante muitos anos, independentemente das vontades políticas ou das tendências que possam eventualmente existir. Há uma afinidade linguística, no paladar e na própria gastronomia, os produtos portugueses têm uma preferência na aceitação dos Moçambicanos. Há 10 anos atrás, Portugal tinha uma oportunidade brilhante de intensificar relações com Moçambique. Eu particularmente tenho dificuldades em falar sobre isso de uma forma assertiva, mas posso dizer-lhe que Portugal perdeu essa oportunidade e outros se posicionaram.
A África do Sul que pela sua proximidade ignorou sempre Moçambique, tem agora grandes focos de atenção em Moçambique. Há 15 anos atrás era difícil encontrar um chinês, hoje há imensos no comércio, assim como muitas outras origens. Há vários países a quererem tomar uma posição relevante no nosso mercado.
Acho que Portugal, ao recuperar aquilo que supostamente teve oportunidade e não o fez, terá todas as condições para ter um papel determinante em Moçambique e, acima de tudo, criar a capacitação de fornecimento ao país. Exportar é bom, é muito importante, mas eu penso que o caminho seria mesmo industrializar e criar a capacidade de produção em Moçambique.
Nós temos o bom exemplo da Sumol/Compal que o fez e de outras indústrias que também o fizeram com bons resultados. O que Portugal tem que fazer agora é industrializar Moçambique e apanhar uma oportunidade fabulosa, não de trinta milhões de moçambicanos, mas de duzentos e cinquenta milhões de africanos dentro da SADC.
(…) A vinda ao SISAB PORTUGAL permitiu, num espaço bastante amigável, a partilha de conhecimento entre industriais e profissionais, onde tudo se torna bastante mais fácil. É uma excelente feira que coloca profissionais a fazer aquilo que eles mais gostam de fazer, negócios (…)
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