Muito empenho, paixão e um saber ancestral são os valores da Queijaria do Convento fundada por três jovens empreendedores na região de Figueira de Castelo Rodrigo
Como é que surgiu a Queijaria do Convento?
Nós éramos três jovens que trabalhávamos neste ramo e tivemos o azar da fábrica onde trabalhávamos fechar. Entretanto surgiu a oportunidade de alugar este espaço e como somos três jovens dinâmicos, dois de nós com muita experiência no produto e um com experiência em contabilidade, juntámo-nos e foi assim que surgiu a empresa.
Inicialmente só apostámos no queijo de ovelha curado duro porque é o mais tradicional aqui em Figueira de Castelo Rodrigo. Depois, derivado às exigências do mercado e à experiência que fomos adquirindo com os revendedores começámos a produzir queijos com leite de vaca, de cabra e mistura. Hoje temos todas as variedades de leite na produção dos nossos queijos. A nossa marca é “Encostas do Castelo”.
O leite utilizado na produção dos queijos é proveniente da região?
Nós não temos rebanhos, a recolha do leite que usamos é toda feita aqui na zona. O leite de ovelha é todo recolhido aqui, no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo. O leite de vaca temos muito pouco, estamos ainda aquém daquilo que queremos produzir, mas a cota de leite é um grande entrave às pequenas queijarias como a nossa. As leis saem, mas ninguém sabe muito bem porquê. O certo é que eu quero comprar leite de vaca e ninguém mo vende. Esta é uma queijaria tradicional, não é uma queijaria industrial. Eu não posso comprometer-me com um produtor de leite porque, apesar de haver três ou quatro produtores de leite aqui, tudo boa gente e amigos, esta queijaria não consegue absorver a produção de leite de um produtor, porque os produtores que há, já têm um elevado número de animais e não é fácil, por isso, adquirir leite de vaca.
O leite de cabra também compramos a revendedores daqui da região, não do concelho, porque em Figueira de Castelo Rodrigo não há cabras, mas da região. O leite de ovelha é todo daqui do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo porque são os animais predominantes aqui na zona.
A vossa unidade de produção é muito moderna…
Estamos a implementar tudo o que a lei nos exige, em termos de análises e afins. Trabalhamos com leite cru, o leite que recolhemos nos rebanhos é refrigerado logo após a ordenha. Se os nossos produtores não tiverem maneira de o fazer, nós asseguramos este método para que ao nível microbiológico não possam haver quaisquer problemas. É feita a recolha em veículos próprios que preparámos para o efeito, o leite chega aqui e é vazado para um tanque de refrigeração onde a temperatura não ultrapassa os 3 graus sendo assim mantidas as qualidades do leite. Normalmente, no dia seguinte de madrugada, o leite é encaminhado para a cuba de fabrico onde é aquecido à temperatura que pretendemos, é-lhe adicionado o cardo e o processo segue.
Onde é que podemos encontrar os vossos queijos?
Nós não temos posto de venda na fábrica. Temos bons clientes, em Figueira de Castelo Rodrigo, trabalhamos com alguns dos supermercados aqui da região e estamos também em algumas lojas. Estamos no mercado nacional, ainda não exportamos. Estivemos no SISAB PORTUGAL à procura de novas oportunidades. Estamos aqui num meio muito pequeno e onde há muito desemprego. Estas empresas precisam de eventos como o SISAB PORTUGAL para sobreviver e crescer porque nós pagamos a matéria-prima ao mesmo preço que as grandes empresas, mas o nosso custo de produção é diferente. Nós temos que valorizar o produto e temos que o fazer bem. Só assim é que conseguimos sobreviver.
Qual é a perceção dos vossos clientes em relação aos queijos que aqui produzem?
A perceção das pessoas acerca dos nossos produtos é a de que não são produtos de fábrica. Nós temos um produto diferente, é um produto natural e as pessoas daqui da região, muitas delas emigradas, ou em Lisboa pedem-nos para colocar o produto lá, mas nós não temos dimensão e devido às portagens e ao combustível ainda é para nós impossível chegar a pontos de venda mais longe. O produto que fazemos aqui é aquele que as pessoas estavam habituadas a comer na casa dos pais e nota-se a diferença. O produto tem colocação no estrangeiro, mas a nossa dimensão ainda não nos permite estar nesses locais. Lutamos todos os dias para lá chegar.