“Encontrei aqui no Douro as melhores amêndoas do mundo…”

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André Carnet, um francês que se apaixonou por uma portuguesa e por Portugal, confeciona em Castelo Rodrigo as muitas variedades de amêndoas que vende na sua loja e salão de chá.

Em Castelo Rodrigo as amêndoas não se comem só na Páscoa. Ganharam espaço e visibilidade, para além da sazonalidade com que habitualmente as encaramos, graças a André Carnet, um francês que se apaixonou por uma portuguesa e por Portugal e que em Figueira de Castelo Rodrigo confeciona as muitas variedades de amêndoas que vende na loja e salão de Chá, Sabores do Castelo.  Únicas e exclusivas, elaboradas segundo receitas secretas que só André Carnet conhece, têm vindo a conquistar cada vez mais visibilidade por quem visita a bela aldeia histórica de Castelo Rodrigo.

Como conheceu Castelo Rodrigo?
Encontrei esta aldeia há perto de 40 anos, estava praticamente abandonada, as casas estavam em ruínas, era um pouco triste, mas era muito bonito. Vivia em Paris com a minha esposa, natural de Figueira de Castelo Rodrigo. Vim no primeiro ano para passar umas férias e assim que descobri Castelo Rodrigo pensei logo que era uma aldeia muito interessante e muito bonita também. Como sou francês, comecei logo a fazer comparações, se isto estivesse no sul de França, estaria completamente recuperado, com restauração e afins. Bom, e foi assim, passei quinze dias aqui, nesse primeiro ano e no ano seguinte voltei para passar novamente quinze dias.
Foi no segundo ano que vim que decidi comprar aqui a minha primeira casa que estava abandonada, um antigo palheiro que transformei em casa de férias. Durante vinte anos vinha passar quinze dias em Castelo Rodrigo, no mês de agosto. Foi assim que descobri Castelo Rodrigo. Eu nada tinha a ver com Portugal. Mas a minha esposa era natural daqui. Vim cá, gostei muito. Um povo simpático, uma cultura e uma história fantástica, muitas belas paisagens, num espaço de 100 quilómetros muda tudo, o clima, a gastronomia, a história.

De lugar de férias, Castelo Rodrigo transformou-se num projeto de vida?
Um dia a minha esposa explicou-me que na frente da primeira casa que eu tinha comprado, estava outra, também abandonada, para venda. Era muito aborrecido porque cada vez que vinha beber um café no terraço via uma ruína abandonada e triste. Tínhamos que fazer alguma coisa. Mas o quê? Eu trabalhava na banca em França, nunca fui comerciante. Sou engenheiro agrónomo e licenciado em Economia, que vou fazer? Acabámos por comprar a ruína, recuperar a fachada, quase como no teatro e ficou linda. Isto levou-me a comprar também uma terceira casa do outro lado da rua, de frente desta. Foi assim. Fui comprando casas, sem grandes objetivos e ao fim de alguns anos reformei-me. Nesta altura tive que pensar o que fazer. Tenho uma casa em Lisboa e gosto muito, é uma cidade maravilhosa, grande e que convida ser descoberta a pé. É mais humana que Nova Iorque, Londres ou Paris.
Aqui pensei fazer uma unidade de turismo de habitação para tentar atrair pessoas a Castelo Rodrigo. Depois de uma reunião na Câmara Municipal, preparei um dossier com o projeto, preparado por um arquiteto competente e entreguei-o no Turismo de Portugal que na altura estava centralizado em Lisboa. Um ano e meio depois ainda não tinha resposta. Dirigi-me lá e tinham perdido o dossier. Depositei então um duplicado e indicaram-me que haveria de ter uma resposta. Há dois anos atrás recebi da Câmara Municipal uma chamada para uma reunião porque haviam recebido de Lisboa um dossier e queriam saber se eu continuava interessado, 11 anos depois. Claro que a esta altura eu já não o queria fazer uma vez que tinha uma loja de produtos regionais e um salão de chá. Do ponto de vista administrativo foi assim que tudo se passou.

Como surgiu a ideia de produzir e vender amêndoas?
Tive que pensar o que fazer e como não havia resposta para o projeto de turismo de habitação decidi abrir esta loja e apostar na promoção dos produtos regionais. Sempre pensei que haveria muitos pontos de venda e muitos produtos disponíveis. Assim, prepararei tudo e comecei a percorrer a região à procura de produtos regionais. Não encontrei quase nada. Na época havia um pouco de vinho na Adega Cooperativa, poucos produtores individuais com vinho de qualidade para vender aqui, o azeite era muito rústico, vendido em garrafões. Hoje é totalmente diferente, temos um azeite maravilhoso, vários produtores de vinho ou de azeite com muita qualidade. Em 10 anos a melhoria em termos de qualidade foi fantástica.
Então pensei, há azeitonas, há vinhas e há amendoeiras. Se há amêndoas tenho que fazer qualquer coisa. E foi assim que comprei um tacho, comprei açúcar e comecei a confecionar amêndoas caramelizadas, sem qualquer curso de cozinheiro ou de fabricação de amêndoas. Comecei ao mesmo tempo a fazer doces e a comprar ervas aromáticas para fazer chás e tudo está a funcionar muito bem. Como as pessoas gostavam das minhas amêndoas, comecei a fazer outras variedades e hoje temos 10 tipos diferentes. Amêndoas doces, amêndoas de canela, com flor de sal, com especiarias, café, alfazema, fumadas ou com ervas aromáticas. A partir do final de março começámos a receber a visita de todos os passageiros que vêm fazer cruzeiros no Douro. Vêm dos EUA, da Inglaterra, Alemanha, entre outros e passam normalmente por aqui porque Castelo Rodrigo é uma aldeia muito interessante, com uma história e tradição judaica muito interessantes. Vêm visitar o Castelo e a aldeia e depois bebem um chá ou um café no salão, no nosso terraço panorâmico, enquanto contemplam as belas paisagens até Espanha. Provam as minhas amêndoas, gostam e compram. É assim que todas as semanas, de março até ao final de dezembro, mais de 1100 pessoas visitam Castelo Rodrigo, 30 por cento americanos, 30 por cento ingleses, 30 por cento alemães e o resto maioritariamente nórdicos. Para atender esta clientela preparei folhetos sobre Castelo Rodrigo traduzidos em cinco línguas e os turistas, ao chegar a Figueira de Castelo Rodrigo, são recebidos com um folheto e com pratos de amêndoas. Aqui na loja temos uma regra, todos os produtos estão à disposição do cliente. Primeiro o cliente prova, depois, se gostar, compra. A prova é livre. É assim que passamos a confiança que temos pelos nossos produtos.

Para si, a região do Douro produz das melhores amêndoas do mundo…
Na minha opinião, e não é disparatada, encontrei aqui no Douro as melhores amêndoas do mundo. As amêndoas que se encontram normalmente no supermercado são, na sua maioria, provenientes da Califórnia e não têm comparação em termos de sabor com as do Douro. As portuguesas são 40 por cento mais caras, porque a qualidade não tem nada a ver. E efetivamente aqui a produção é biológica e isso nota-se no sabor. As amêndoas estão nos socalcos do Douro onde não existe qualquer possibilidade de tratamentos mecânicos, é tudo feito à mão. Por isso está a baixar muito a produção nacional de amêndoas, não há jovens a trabalhar nisto. Antigamente era tudo apanhado à mão e as amêndoas eram partidas com um pequeno martelo uma a uma, hoje já existe uma máquina para abrir as amêndoas, mas tudo o resto continua a ser feito manualmente, para ter um quilo de amêndoas imagine-se o tempo e o trabalho que isto dá. Tento sempre adquirir a melhor amêndoa que posso encontrar por isso é que o meu produto final é bom. A matéria-prima é a base de tudo, depois se tiver talento pode fazer qualquer coisa. Senão o resultado é banal.

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