Uma equipa de investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular, da Universidade de Coimbra, descobriu a origem das células estaminais do sangue. Este estudo, realizado em colaboração com instituições estrangeiras, foi conduzido em ratos de laboratórios mas abre as portas para que, no futuro, possam ser aplicadas alterações na forma como são realizados certos tratamentos com recurso a células estaminais.
Portugal está, mais uma vez, na vanguarda da ciência. Desta vez foi uma equipa do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC), da Universidade de Coimbra, com a descoberta das células precursoras que dão origem às células estaminais do sangue (CES) durante o desenvolvimento do embrião. Esta concepção veio permitir aos investigadores descobrir de que modo estas células podem originar todos os tipos celulares sanguíneos.
Para esta investigação, os cientistas contaram com a colaboração da Ichan School of Medicine at Mount Sinai (Estados Unidos), do Weatherall Institute of Medicine, da Universidade de Oxford (Reino Unido) e de apoios dos nova-iorquinos National Institutes of Health e Revson Foundation.
Os estudos na área das células estaminais encontram-se ainda numa fase preliminar, sendo razoavelmente recentes quando comparados a outras áreas, pelo que esta descoberta vem abrir portas a outras concepções, assim como ajudar na forma de tratamentos que envolvam o uso deste tipo de células.
Quando se tratam doenças graves com recurso a células estaminais, como por exemplo o cancro do sangue, é crucial que estas sejam compatíveis com as características da pessoa que está a ser tratada. A descoberta desta equipa do CNC é um passo em frente neste campo e, apesar de apenas ter sido estudada em ratos de laboratório, é um avanço significativo para que, no futuro, possa ser aplicada em humanos, “contribuindo para o desenvolvimento da medicina regenerativa”.
Segundo Filipe Pereira, coordenador da equipa, “as células precursoras das CES, localizadas no tecido embrionário e na placenta, foram identificadas em ratinhos através de ‘marcadores’ nas células, ‘etiquetas’ que nos permitem mapear e descrever o seu comportamento”.
“A descoberta procura dar resposta a um desafio de longa data da hematologia, ramo científico que estuda o sangue”, acrescenta. O grupo de investigadores do CNC criou também um método inovador que atribui às células precursoras certas propriedades já reconhecidas nas CES: a autorrenovação e a multipotencialidade, o que lhes dá a capacidade de originar todos os tipos celulares sanguíneos.
Estas novas concepções surgem na sequência de um outro estudo, realizado pela mesma equipa, em 2013. Neste os investigadores focaram-se em tentar transformar “células da pele em CES, através de reprogramação celular”.
As “etiquetas” que distinguem as células foi identificadas na altura e foram estas que, posteriormente, vieram permitir a identificação de precursores em embriões e placentas. De seguida, “foi desenvolvido um método para provocar a maturação destes precursores que origina as CES”.
Sobre os resultados obtidos pelos investigadores, Filipe Pereira acrescenta que “os resultados obtidos podem levar ao desenvolvimento de métodos mais eficazes para aumentar as CES do cordão umbilical e da medula óssea, de modo a que as transplantações tenham mais sucesso”, acrescentando que o estudo vem fornecer “informação preciosa para melhorar a ‘criação’ de CES a partir de fontes alternativas como as células da pele ou células estaminais embrionárias”.