António Raminhos lança a versão em DVD do espetáculo d’As Marias, no Coliseu de Lisboa. Uma “terapia” sobre a infância, a adolescência, o casamento e a paternidade, em que são expostos vídeos gravados em casa, onde as protagonistas são as filhas de 3 e 5 anos, Maria Rita e Maria Inês.
“A pior prenda para o dia do pai”, é assim que o humorista António Raminhos se refere ao DVD d’As Marias que acaba de lançar, editado pela Espacial Música. Um espetáculo onde as duas filhas, Maria Inês e Maria Rita, de 3 e 5 anos, respetivamente, são as protagonistas. Raminhos leva o público a uma viagem de brincadeiras e aprendizagens enquanto pai, misturando com dramas e peripécias durante a adolescência, o casamento e a paternidade.
As Marias “são uma espécie de palestra motivacional, ou desmotivacional, para quem quer ser pai”, explica. Através de vídeos espontâneos com um smartphone, conquista as pessoas pelo humor. Comparar a pouco desenvolvida fala da filha com uma romena ou desenhar barbas nas bonecas das meninas para que elas se lembrem sempre do pai, são alguns dos vídeos que Raminhos usa para conquistar o público através do humor.
O DVD intitulado “António Raminhos apresenta As Marias”, foi gravado no Coliseu de Lisboa, o ponto alto de todos os espetáculos que já fez. Acaba por ser uma mistura da parte do espetáculo ao vivo com os vídeos que vai publicando na Internet. São vídeos inseridos num contexto de stand-up e mostram situações de brincadeiras entre o pai e as filhas, sempre com um misto de diversão.
Há quem diga que explora as filhas, ao que responde: “[da minha infância] não há recordações fotográficas de nada e eu não quero isso para as minhas filhas. Então, acabei por fazer estes vídeos também no sentido de retratar um bocadinho da vida que eu tenho com elas e para elas, mais tarde, poderem ver as brincadeiras que nós fazíamos”.
Filho mais novo de três irmãos, para Raminhos estes espetáculos acabam por ser: “uma viagem ao longo da minha vida”. Conta que, da sua infância, apenas tem umas três ou quatro fotografias e um vídeo do casamento do irmão onde aparece no fundo, “lá a andar, tipo os vídeos do National Geographic, em que um gajo vê umas cenas muito esquisitas lá ao fundo”.
Os vídeos com as filhas surgiram naturalmente e não são encenados. “Quando percebo que aquilo vai dar ‘porcaria’, ponho uma câmara a filmar, porque se elas percebem que estou a filmar, não vão na conversa”, conta. Devido ao pouco tempo que passa em casa, procura fazer esses vídeos um pouco também para que elas não se esqueçam do pai.
“Quando forem mais velhas e estiverem a brincar e eu não esteja em casa, quero que elas possam ver os vídeos e verem as brincadeiras que nós fazíamos”, adianta.
Está há praticamente dois anos a tentar ensinar a Maria Inês, “a mais pequenina”, a jogar ao macaquinho do chinês, no entanto, conta que, passados dois anos, ainda não atingiu esse objetivo. “Basicamente aquilo que eu faço é esticar a corda às miúdas, brincar com a inocência delas e com a nossa mente já depravada e completamente suja pela sociedade. E acaba por funcionar muito bem com esta ingenuidade que elas têm”, conta. O “estúpido lá de casa”, como assim é apelidado, garante que, acima de tudo, é uma viagem que faz com as filhas e que acaba por ter uma repercussão na sua vida com elas.
Foi quando começou a ser abordado por pessoas na rua, que lhe falavam d’As Marias e das brincadeiras que fazia com elas, que começou a perceber do impacto que os vídeos estavam a ter. Depois disso foram as mensagens no Facebook, de pessoas que se reviam naquelas situações e se lembravam das suas infâncias. “Há vídeos que eu faço e que, depois, recebo vídeos de pais a fazerem o mesmo com os filhos. É isso que acabo por achar mais engraçado”, avança Raminhos.
A ideia de criar o espetáculo surgiu por acaso, com todas as partilhas e visualizações que os vídeos estavam a ter, pensou na melhor maneira de levar esta viagem com as filhas até uma sala de espetáculos. Confessa que nunca pensou que As Marias tivesse esta adesão por parte das pessoas, até porque prefere não criar grandes expectativas. Foram as salas esgotadas, logo desde a estreia até hoje, quase um ano depois, que lhe mostraram que, realmente, conseguia chegar a muita gente e muitos se identificavam com ele.
Ainda não teve a oportunidade de apresentar As Marias fora de Portugal mas, no entanto, conta que já atuou no Luxemburgo, num registo de stand-up. “Foi muito divertido. Não estava à espera da receção das pessoas, foi muito boa. Achei que seria um público diferente, mas as pessoas acarinharam-nos, mostraram interesse no que nós dizíamos e deram muito valor ao facto de termos ido lá. E isso acaba também por ser o prazer de ir às comunidades, estarmos em contato com pessoas que sentem saudade de casa, de Portugal”, conta.
Uma segunda versão do espetáculo ainda não está pensada, pelo menos para já. A caminho vem um terceiro protagonista, menino ou menina, ainda não se sabe, mas Maria vai ter no nome, adiantou o humorista. Anónio Raminhos faz questão de despreocupar as pessoas quanto ao dinheiro angariado com os espetáculos, assegurando que está a guardá-lo para as filhas “para, quando elas forem mais velhas, comprarem um camarote no estádio do Benfica”, diz, entre risos.