Em conferência de imprensa, a Plataforma de Apoio aos Refugiados tornou pública uma carta aberta ao governo português onde requer especial prioridade ao acolhimento de crianças refugiadas e das suas famílias. Simultaneamente, a PAR anunciou, ainda, o início de uma missão humanitária em solo grego.
“Sem excluir ninguém, sem deixar de ter em atenção as necessidades que todos os refugiados têm, é evidente que todos os refugiados necessitam de ser acolhidos e apoiados. Aquilo que defendemos é que exista uma prioridade clara: por onde começar. Por onde utilizar recursos que, em alguns casos, são escassos”. Esta é uma das frases iniciais de Rui Marques, presidente do Instituto Padre António Vieira, na conferência de imprensa organizada pela Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) para dar a conhecer os pedidos realizados na sua carta aberta ao Governo Português e a nova missão ‘PAR Na Linha Da Frente’, na Grécia.
Numa carta aberta ao Executivo português, uma das principais entidades da sociedade civil portuguesa para a temática dos refugiados pediu que seja dada principal atenção a crianças e grupos de refugiados mais vulneráveis, salientando a escassez de recursos no terreno e necessidade de priorização. A organização relembrou que, em Janeiro e Fevereiro de 2016, se estima que tenham chegado à Grécia cerca de 44.000 crianças ou adolescentes refugiados – cerca de 37% do total de requerentes de asilo.
Salientando o papel “exemplar” de Portugal na política europeia de acolhimento de refugiados até então – sendo o país europeu líder no acolhimento Per Capita de refugiados e o segundo em termos absolutos-, Rui Marques referiu ainda a ambição da plataforma de que seja estabelecido um projeto piloto de recolocação dos requerentes de asilo de uma forma direta e eficaz, não só a partir da Grécia, como a partir dos principais pontos de entrada como a Turquia, o Líbano e Jordânia, em cooperação com as autoridades locais. Segundo a PAR, é necessário agilizar um processo de recolocação que “tem sido um fracasso”, reduzindo para “duas semanas” aquilo que em demorado “dois meses” : a avaliação dos processos.
Pretendendo colaborar com o Estado português no acolhimento destes cidadãos, “proporcionando-lhes uma oportunidade segura de se desenvolverem plenamente, no respeito pelos seus direitos fundamentais”, a Plataforma referiu, ainda, estar já a aguardar uma audiência com o primeiro-ministro português, António Costa.
PAR ‘na linha da frente’
Já a partir de próxima segunda-feira, dia 14 de Março, a Plataforma de Apoio aos Refugiados terá, também, uma representação permanente na Grécia, um dos países europeus mais afetados pela crise humanitária de refugiados.
Note-se que a ONU havia já chamado a atenção, aliás, nas últimas semanas para a necessidade de uma maior solidariedade entre países europeus, após o agravar da situação no país, com quatro países dos Balcãs a terem colocado limites às entradas diárias no seu território e a Áustria a ter reintroduzido controlos nas fronteiras, levando a estimar que entre 50.000 e 70.000 pessoas fiquem retidas em solo grego até ao final de Março.
O projeto, intitulado ‘PAR Na Linha da Frente’, será constituído por uma representante fixa da organização, Mariana Reis Barbosa – docente da Universidade Católica do Porto e com vasta experiência no terreno-, e uma equipa rotativa de cerca de cinco voluntários.
A plataforma já disponibilizou, no seu website oficial, um formulário de inscrição para potenciais interessados em realizar um período de voluntariado de cerca de três a quatro semanas, sendo que será dada prioridade a cidadãos com formação em áreas como saúde, serviço social e educação de infância. O programa será, numa fase inicial, desenvolvido em Lesbos, em parceria com várias entidades e organizações locais gregas.
Com Rui Marques a relembrar a importância de “reforçar os laços de solidariedade entre os países europeus”, a docente da Universidade Católica do Porto concluiu que “faremos, na Grécia, a nossa parte”.