O 26.º Congresso do CDS-PP consagrou hoje Assunção Cristas como a sétima líder do partido, e a primeira mulher nesse cargo, pondo fim a um ciclo de 16 anos da mais longa presidência centrista, protagonizada por Paulo Portas.
No discurso de encerramento, Assunção Cristas abandonou o registo pessoal, que tinha marcado a sua intervenção principal no primeiro dia do congresso, em Gondomar, Porto, e deixou propostas concretas: um desafio ao PS para participar numa reforma do sistema de pensões e a revisão da regulação do sistema financeiro, incluindo a forma de nomeação do governador do Banco de Portugal.
As autárquicas que tinham ficado de fora da sua moção mereceram hoje um destaque especial, com a nova líder a anunciar que irá propor aos órgãos do partido a renovação do apoio a Rui Moreira, caso este se recandidate à Câmara do Porto, e uma candidatura “forte e ambiciosa” à capital, na tradição de Nuno Krus Abecasis.
Se a direção de Assunção Cristas foi eleita de forma esmagadora (95,59% dos votos, mais do que a última de Paulo Portas), perdeu lugares no Conselho Nacional.
Filipe Lobo d’Ávila encabeçou a lista alternativa ao Conselho Nacional, o ‘parlamento’ do partido, e conseguiu 23% dos votos e 16 lugares diretos (num total de 70), mais do que os 12 alcançados no anterior Congresso por duas listas concorrentes à da direção.
No final, Assunção Cristas recolheu os aplausos dos cerca de 1.500 congressistas ladeada por Nuno Melo – que ponderou uma candidatura à liderança – e Adolfo Mesquita Nunes, ex-secretário de Estado, chamando ambos a vice-presidentes.
Cecília Meireles é também novidade na vice-presidência, cargo volta a ser ocupado, por inerência, pelo líder parlamentar, Nuno Magalhães.
Para a Comissão Executiva, o ‘núcleo duro’ da direção, entrou Filipe Anacoreta Correia, o principal crítico de Paulo Portas nos últimos Congressos.
Sem críticas expressas à líder, o tom do congresso fez-se entre os defensores de um CDS mais pragmático e aberto à diversidade – João Almeida, Diogo Feio e Adolfo Mesquita Nunes – e uma visão mais doutrinária e focada nos valores tradicionalmente atribuídos à democracia-cristã – casos de Nuno Melo, Ribeiro e Castro e Lobo d’Ávila.
Numa abordagem mais comum na política anglo-saxónica, Assunção Cristas escolheu referir-se, por várias vezes, à sua família, à sua condição de mãe e até à sua fé católica, assumindo, no entanto, abertura para outras vivências familiares diferentes da sua.
No último dia do congresso, o marido e os filhos estiveram presentes e foram referidos no discurso da presidente, que entrou na sala do Pavilhão Multiusos de Gondomar ao som da música “Changes” [Mudanças], de Faul & Wad AD vs. Pnau.
Foi também ao som de “Changes”, e com os congressistas animados pela toada eletrónica, que foi projetado no extenso e sofisticado ecrã panorâmico um filme que recordou os últimos anos políticos de Assunção Cristas, com imagens do seu percurso enquanto ministra – com a pasta do Mar e da Agricultura – e em campanha pelo CDS-PP.
Também o líder de saída, Paulo Portas, teve direito a um filme, que evocou alguns dos principais momentos do seu consulado à frente do CDS-PP, partido que liderou desde o Congresso de Braga, em 1998, apenas com um ‘intervalo’ de dois anos, entre 2005 e 2007, em que foi Ribeiro e Castro o presidente.
Há nove anos, em 2007, Portas voltou à presidência dos democratas-cristãos e, neste congresso, foram muitos os que disseram “Obrigado, Paulo”.