Carlos Morais é um economista que há praticamente 30 anos fala da necessidade das empresas portuguesas abraçarem a exportação. Para o provar criou o SISAB PORTUGAL, uma feira dedicada à exportação e internacionalização das empresas portuguesas. Hoje, 21 anos depois e numa época em que já todo o país político fala da necessidade imperiosa de exportar, o SISAB PORTUGAL reúne as 450 melhores empresas portuguesas expositoras e cerca de 1.700 compradores vindos dos principais mercados do mundo expressamente para comprar produtos e marcas portuguesas.
– Esta edição realiza-se num momento particularmente difícil da economia portuguesa e mundial… no que é que o SISAB PORTUGAL pode ser um factor de dinamismo interno?
O SISAB PORTUGAL é basicamente uma grande porta de saída para as empresas portuguesas que pretendem exportar. No difícil contexto de um mercado nacional maduro e quase diria esgotado, a exportação surge como hipótese única para que se promova o crescimento das empresas. Ora o SISAB PORTUGAL não é uma feira como as outras onde apenas se “vende” espaço de exposição. O SISAB PORTUGAL promove efectivamente encontros de negócios, fruto da apresentação “cara a cara” entre os empresários portugueses e os futuros parceiros que vêm a Portugal expressamente para fazer negócios com empresas e marcas portuguesas. Ninguém viaja dez e mais horas de avião, para vir a Portugal apenas passear tranquilamente por uma exposição de produtos. Por isso o SISAB PORTUGAL cria oportunidades únicas que as empresas reconhecem.
– … está a querer dizer que a crise económica pode ser uma oportunidade para as empresas e os produtos portugueses? Em que medida?
Como é sabido o sector Agro-Alimentar é daqueles que mais resiste a uma crise económica e por isso cria sempre novas oportunidades porque a natural retração dos mercados leva sempre à procura de novos fornecedores e parceiros. A indústria agro-alimentar tem crescido muito em Portugal, principalmente a nível da qualidade o que a leva a tornar-se cada vez mais competitiva a nível mundial. Por isso é preciso cada vez mais descobrir novas parcerias e negócios que conduzem naturalmente a novas oportunidades de negócio. O SISAB PORTUGAL existe para criar esta plataforma negocial entre as empresas exportadoras e o estrangeiro, As pessoas aqui fazem negócios personalizadamente, conhecem-se na relação pessoal e num clima de ética e confiança ímpar.
– Qual o impacto do abrandamento da economia europeia nas exportações portuguesas dos produtos agro-alimentares e de bebidas?
É evidente que o abrandamento da economia europeia terá inevitavelmente alguma repercussão nas exportações portuguesas. Por isso mesmo é que o SISAB PORTUGAL não é um evento estático que aguarda passivamente a vinda de compradores internacionais, mas antes faz um trabalho personalizado e diferente de ano para ano no âmbito da busca dos mercados mais interessantes para a nossa realidade. Esta penso ser a grande fórmula de sucesso deste evento.
Pode dizer-se então que o SISAB PORTUGAL é uma feira única?
Diria mesmo que o SISAB nunca pretendeu ser simplesmente mais uma feira. É aliás este o sentido quando se fala de um certo pioneirismo e espírito visionário. O SISAB PORTUGAL é acima de tudo um espaço para o encontro de negócios e de pessoas que uma vez por ano se reúnem em Portugal para conhecer o portfólio e as novidades que as empresas têm para o mercado internacional.
A grande diferença deste ano é o facto de irem estar presentes mais de 1700 compradores internacionais e 450 empresas portuguesas expositoras o que é o limite logístico para garantir o nível de profissionalismo e eficácia negocial que sempre caracterizou este projecto. O facto de S. Exa., o Presidente da República lhe ter concedido o seu Alto Patrocínio mostra bem do seu reconhecimento pelo que o SISAB PORTUGAL tem feito pelo sector alimentar em Portugal
É por causa deste “limite logístico” que o SISAB não está aberto ao público?
De facto o SISAB não permite a entrada a público em geral nem a estranhos ao próprio “métier” da exportação. E não foi fácil tomar esta decisão, no entanto todas as empresas e participantes internacionais presentes ao longo dos anos o pediram. E reconheço que tem de ser assim. É impraticável que num espaço onde estão a decorrer centenas de reuniões de negócios entre empresas que querem vender e outras que pretendem comprar, haja um desfilar permanente de curiosos a pedir catálogos e brindes ou até mesmo pretendendo vender outros produtos a desvirtuar toda a lógica de negócio que preside a este evento. No SISAB PORTUGAL tudo é feito tendo em atenção a rentabilização do tempo para a maximização do negócio, sem esquecer o elemento humano. As refeições por exemplo, são sempre momentos de conhecimento e contacto em que as empresas aproveitam para dar a degustar os produtos que pretendem vir a colocar no mercado internacional. São inúmeros os negócios que se estabelecem durante o convívio à mesa, degustando os próprios produtos que mais tarde se vão negociar. Ora isto é uma lógica profissional de negócio que o público dificilmente iria entender e que só resulta num círculo de relacionamento mais intimista e mais profissional.
Nas suas palavras focaliza muito o termo EXPORTAR. Mais do que expor empresas o SISAB PORTUGAL preocupa-se em criar condições para promover a exportação dos produtos portugueses?
Quando dizemos que o SISAB PORTUGAL é um evento único, referimo-nos precisamente a essa preocupação que para nós é uma constante. E repare que dizer há vinte anos atrás que só podia participar no SISAB quem realmente pretendesse estar na exportação implicou uma certa coragem, pioneirismo e até algum espírito visionário por parte da organização, sobretudo para um projecto que iniciava a sua actividade. É que no fundo a mensagem que passava era a de que só as melhores empresas, as mais competitivas, a de maior valor acrescentado poderiam aspirar a “estar na exportação” e só essas poderiam vir a estar no SISAB PORTUGAL. Ora dizer hoje que a exportação é fundamental é muito mais fácil, é um caminho mais óbvio, mas há vinte anos atrás implicou uma grande dose de coragem e visão estratégica.
Outra característica única do SISAB PORTUGAL é a exclusividade a produtos portugueses. Continua a ser assim?
Essa é uma das muitas “bandeiras” do SISAB PORTUGAL. Desde sempre que o objectivo foi o de promover a especificidade dos produtos e das empresas portuguesas, quando muitos não acreditavam. Repare-se que ainda hoje não é fácil encontrar no mundo inteiro e em Portugal, certames promovidos por entidades privadas, públicas ou associativas que abdiquem de receber a participação de expositores estrangeiros. E no caso do SISAB PORTUGAL as solicitações têm sido muitas, o que financeiramente seria até bastante interessante para a própria organização, mas esta felizmente nunca abdicou deste ideal que foi assumido desde a primeira hora e é ponto assente que a ele nos manteremos fiéis.
Pode dizer-se que o mercado internacional já identifica o SISAB PORTUGAL com os produtos portugueses?
Sem dúvida nenhuma. Aliás todo o trabalho de análise junto dos importadores estrangeiros que a organização faz permanentemente, é sempre na óptica dos produtos portugueses. Esta é outra marca de qualidade do SISAB PORTUGAL. Os importadores estrangeiros que nós seleccionamos para estarem presentes neste encontro anual para além de importadores, são distribuidores e retalhistas de produtos alimentares portugueses que pretendem trabalhar com produtos e empresas portuguesas. E isto tem sido uma receita de sucesso e de bons resultados para as empresas em Portugal. É que os importadores não vêm ao SISAB PORTUGAL como a qualquer outra feira à procura simplesmente de produtos novos ou mais competitivos, os que vêem procuram de facto produtos com a especificidade do “Made in Portugal”. Só assim se explica que tenhamos importadores que chegam a fazer vinte e mais horas de voo para conseguir chegar ao SISAB PORTUGAL e estar com as empresas portuguesas…
Mas o SISAB é hoje uma realidade gigante que trás a Portugal importadores de mais de 110 países. Como foi possível que tantos mercados se pudessem interessar por produtos portugueses?
Desde o primeiro dia que se descobriu que em muitos circuitos internacionais da exportação também se “falava em português”. A língua era por assim dizer a grande via de comunicação por onde se estabeleciam rotas para o envio de produtos portugueses para o mundo. Ora o grande sucesso do SISAB PORTUGAL, foi precisamente o de conseguir ampliar este esforço sem desvirtuar minimamente que fosse, esta realidade tão importante, especialmente ao servir de “ponta de lança” para tocar outras consumidores e importadores locais, onde sozinha a “língua portuguesa” não chegaria, mas que era essencial para criar esta autêntica rede mundial de marcas e produtos portugueses.
Foi esta a base de crescimento do SISAB PORTUGAL, por isso hoje orgulhosamente afirmamos que temos compradores, de produtos portugueses de mais de 110 países presentes, representando os cinco continentes e cerca de 22 línguas faladas no certame, o que penso deva ser único hoje em dia, mesmo em plena era da globalização.
E a nível nacional como pode o SISAB PORTUGAL ter a certeza de ser o intérprete da vontade das empresas?
Recordo que este evento nasceu começando por ouvir as necessidades das empresas e sobretudo tentando encontrar nesses anseios um denominador comum. Apesar do sucesso não mudámos a nossa filosofia, por isso todos os anos mal acaba o evento percorre-se o país de lés-a-lés em reuniões individuais ouvindo as empresas e preparando assim o próximo evento. O mesmo se passa a nível internacional. Todos os anos também o SISAB PORTUGAL viaja pelo mundo em reuniões, conhecendo e percebendo os mercados, avaliando o interesse nos produtos portugueses a fim de garantir às empresas nacionais o “créme de la créme” todos os anos no decurso dos três dias que dura o evento fisicamente. A título exemplificativo basta constatar que anos há em que o SISAB visita mais de 30 países, 80 cidades a fim de contactar directamente com mais de 3.000 agentes económicos, o que representa um investimento elevado na promoção da qualidade do evento, feito sem qualquer apoio ou incentivo do estado português ou de qualquer outra entidade pública ou comunitária.
Aponte algumas razões para as empresas que querem exportar não poderem dispensar a presença no SISAB PORTUGAL…
Porque somos o ponto de encontro com os compradores internacionais que especificamente procuram produtos portugueses e não quaisquer outros. Apenas na imensidão e variedade dos participantes internacionais deste certame as empresas portuguesas podem testar seriamente os seus produtos face a um leque muito alargado de compradores de diversas origens e de inúmeras apetências. Aquilo que poderá não agradar num mercado pode vir a tornar-se num produto de grande sucesso noutro qualquer, porque estes mercados procuram cada vez mais a diferenciação e produtos de características únicas.
É cada vez mais importante estar no mercado internacional, as empresas têm de ter uma presença constante porque os campradores do estrangeiro exigem isso mesmo. Cada vez se exige aos exportadores uma postura mais profissional e mais estável para que se possa investir com segurança na busca do consumidor final, por isso o SISAB PORTUGAL mais do que procurar novos expositores, pretende assegurar a estabilidade dos que estão para os próximos anos, porque é isso que igualmente pretendem os agentes económicos internacionais, que como já foi referido se querem especializar em produtos portugueses numa relação de longo prazo e apenas com empresas que tenham uma presença constante e demonstrem essa vontade e interesse em contactar com o mercado internacional de forma estável e regular.
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