Durão Barroso e António Guterres debateram “quem manda no mundo”

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O anterior presidente da Comissão Europeia e o candidato a Secretário-geral das Nações Unidas juntaram-se para debater questões centrais das sociedades, num encontro marcado pela concordância de opiniões em quase todos os temas. Durão Barroso e António Guterres falaram sobre a atualidade política e económica de Portugal, a ameaça terrorista no mundo, o futuro da Europa, entre outros temas, partindo de uma pergunta comum: “Quem manda no mundo?”

“Oscilamos entre o complexo de inferioridade e a exaltação nacionalista”, afirmou o antigo presidente da Comissão Europeia quando questionado sobre a visão dos países estrangeiros sobre Portugal.
Numa conclusão partilhada com o anterior Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados e atual candidato a Secretário-geral das Nações Unidas, Durão Barroso completou que, embora sendo visto “com respeito” em relação à sua história, e apesar da simpatia geralmente utilizada para descrever os portugueses, o país é ainda tido, “há que reconhecê-lo”, como um país “pobre, relativamente atrasado do ponto de vista da Educação”.
“É visto com condescendência, uma condescendência que me magoa”, concluiu o antigo governante.
A mesma opinião tem António Guterres, que referiu um atraso estrutural na educação, acrescentando acreditar que “as elites portuguesas não estão à altura dos portugueses que temos”. O anterior Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados explicou que “os portugueses são extremamente apreciados (no estrangeiro) pelas suas capacidades, mas os mesmos portugueses não conseguem essa apreciação em Portugal”. “Só pode ser uma questão de liderança”, defendeu.
O debate, transmitido pela RTP e moderado por Paulo Dentinho, diretor de informação do canal, e António José Teixeira, diretor da Revista XXI, teve a duração aproximada de 90 minutos e convidou os antigos primeiros-ministros a falar sobre temas como a atualidade política e económica nacionais, as atuais tensões na Europa e a ameaça terrorista global, a par de questões como revolução digital, os desafios da industrialização e a situação do mercado de trabalho.
O principal ponto de divergência entre os antigos governantes socialista e social-democrata focou-se na solução governativa portuguesa. Se o antigo presidente da Comissão Europeia acha que “foi um erro a fórmula governativa escolhida”, afirmando que o atual executivo “não tem condições de sustentabilidade daquilo que é necessário para o país”, António Guterres discordou, apelidando o atual acordo político de “criativo”, pois os “partidos que apoiam o Governo minoritário” aceitaram que este Governo “mantivesse posição de fidelidade face aos compromissos europeus e atlânticos de Portugal” . O antigo dirigente socialista lembrou que “as pessoas em Portugal têm sofrido muito” e, por isso, “é importante que as coisas corram bem”.

UE, ONU e terrorismo
Numa altura em que uma eventual saída do Reino Unido da União Europeia está na ordem do dia, o tema foi também colocado durante a conversa que juntou os dois pesos-pesados da política portuguesa. O antigo Presidente da Comissão Europeia afirmou que “Putin seria o primeiro a comemorar” um eventual ‘Brexit’ (saída do Reino Unido da União Europeia), enquanto António Guterres lembrou que a “questão da União Europeia sempre foi mais complexa para os ingleses do que para outras nações europeias”, quer por questões geográficas, quer por questões culturais ou económicas”.
O atual sentimento de descrença de muitos cidadãos face à União Europeia foi, aliás, outro dos tópicos centrais da noite. “Não temos só o ataque dos eurocépticos, mas temos também a desilusão dos pró-europeus. Devíamos ter algum orgulho na Europa”, lembrou o antigo Primeiro-Ministro social-democrata. Para Durão Barroso, a descrença deve-se, em parte, a uma tendência generalizada dos Estados a uma “europeização dos fracassos e a nacionalização dos sucessos”.
Uma opinião partilhada por António Guterres, que acrescentou que “tal tem criado na opinião pública europeia um sentimento contra o aprofundamento da construção europeia e, quanto mais precisamos de Europa, temos dificuldades em que os Estados se ponham de acordo em temas de solidariedade europeia”.     Como na questão da crise dos refugiados e da Síria, que o antigo presidente da Comissão Europeia catalogou como “uma mancha na consciência universal”. Situação que Guterres, por sua vez, afirma só ser possível defrontar, “preservando os valores que fizeram da civilização europeia um pilar de construção do Mundo Moderno”. O candidato a Secretário-Geral das Nações Unidas lembrou, ainda, a necessidade da distinção entre religião e política, afirmando que “normalmente as questões políticas sofrem instrumentalização de natureza política” e que a questão se centra, na sua opinião, no “aparecimento de formas de terrorismo ligadas a falsas interpretações dos valores do Islão”. “Quando o Corão fala em abstrato, fala dos valores da paz, da tolerância… que são os nossos valores”, concluiu.
E quanto ao papel das Nações Unidas e à candidatura de Guterres ao cargo de Secretário-Geral, Durão Barroso foi claro ao declarar apoio ao antigo rival da política nacional. “Nunca pensei candidatar-me por razões pessoais e vejo com muito agrado a candidatura de António Guterres”, declarou, concluindo que “é uma das funções mais importantes que temos a nível mundial”, embora considere “injusto” colocar “todas as expectativas no Secretário-geral”, numa organização tão complexa e onde o Comité de Segurança assume um papel fundamental nas decisões.
Já o candidato ao cargo, António Guterres, lembrou a necessidade de modernização “das estruturas que globalmente nos regem”, como as próprias Nações Unidas. “Acho que o drama que nós temos é que, hoje, 60 anos depois (da criação da Organização das Nações Unidas), temos praticamente as mesmas Nações Unidas que foram criadas naquela altura”.

“Quem manda no Mundo?”
Num debate que começou com António Guterres a ser interrogado sobre “quem manda no Mundo” atualmente, o desenvolvimento científico e tecnológico e as relações de força a nível europeu e mundial, foram alguns dos tópicos quentes da noite. O atual candidato a Secretário-geral das Nações Unidas referiu a disseminação do poder, lembrando que a questão é “o cerne do problema”, dado que, atualmente, “as relações de força deixaram de ser claras”. “Vivemos num mundo caótico em que a impunidade e a imprevisibilidade tendem a multiplicar-se”.
Uma visão partilhada por Durão Barroso que, quando questionado sobre um possível primado do financeiro sobre o político afirmou que a resposta à pergunta sobre quem manda no Mundo, na sua opinião, é, “ninguém”. “Não há uma potência que dirija os destinos do mundo”, referiu o antigo dirigente social-democrata, lembrando que “o poder hoje está disseminado, está desorganizado, não há um único foco de poder financeiro que domine os outros”. “A realidade é mais complexa do que muitas vezes se diz”, completou.
Já o antigo dirigente socialista lembrou que é necessário “distinguir” entre o poder e a questão das desigualdades, completando que “no Mundo, as desigualdades no interior de todos os países estão a crescer” de alguma forma, como consequência direta da “globalização e progresso tecnológico”. No entanto, lembrou, investir em ciência e em tecnologia, “como investir em educação, são questões absolutamente básicas para responder aos desafios do presente” completando que “sem uma resposta forte nesse sector não conseguiremos, também, ter uma resposta forte em questões mais complexas como as questões climáticas”.
“Não tenho dúvidas de que o desenvolvimento tecnológico nos vai fazer colocar algumas questões sobre a forma como vivemos em sociedade, o que não é mau”, afirmou António Guterres.

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